Músico de rua ganha violino e curso no Villa-Lobos
Paulo Maurício Dias Clementino, 24 anos, mora na favela Santa Marta. O jovem tocava seu violino remendado e desbotado, na porta de um mercado, no Flamengo, Rio de Janeiro (RJ), poucos prestavam atenção no seu talento.
O rapaz além de tocar violino, também ganhava algum dinheiro vendendo balas nos sinais e ônibus. Ele conseguia faturar em torno de R$ 20 por dia, e quando surgia um biscate como entregador ou garçom aproveitava para aumentar os seus rendimentos. As apresentações como músico de rua, rendem pouco.
No entanto, a música que sai do velho e muito usado instrumento encontra ouvidos sensíveis para perceber o talento do violonista. E não é que emocionou a ex-modelo do costureiro Pierre Cardin Maria Bourgeois.
Mas não para por aí, Maria Bourgeois, encaminha Paulo a um teste na Escola Villa-Lobos e ainda lhe presenteia com um novo violino.
“Enviei a foto que fiz na porta do mercado a uma amiga, a pianista Fernanda Canaud. Contei a história do rapaz e ela pediu que o encaminhasse para um teste. O maestro que o recebeu disse: ‘É um gênio. Vamos investir nele’, conta Maria Bourgeois, que trabalha na Ong Comitê pela Vida, voltada para cursos profissionalizantes.
Logo após garantir a matrícula no curso de música no Villa-Lobos, o jovem tinha um desafio a enfrentar, o seu instrumento estava castigado, montado com pedaços e peças de violinos, e precisava ser trocado.
Mas o jovem não tinha como fazer a troca, pois ajuda a mãe faxineira a manter a casa, no Santa Marta, com os dois irmãos menores. Ainda tem dois filhos, um de seis meses e outro de cinco anos.
“Mal guardo um dinheiro, logo aparece um remédio para comprar. Um violino é muito caro. O mais barato que encontrei foi R$ 500. Hoje deve estar uns R$ 700″, diz Paulo. Ele jamais esperava ter um novo instrumento tão cedo.
Tudo começou
Num projeto no Santa Marta. Aos 8 anos de idade, Paulo apaixonou-se pela música. Ele tentou um curso de música em São Paulo, mas não conseguiu participar da seleção. As coisas não lhe correram bem, e para completar, o seu violino havia sido roubado na viagem.
A história de Paulo comoveu Maria Bourgeois, que resolveu fazer uma campanha entre os amigos para comprar o violino. E entregou ao músico, no restaurante operado pelo Comitê pela Vida, no Centro Municipal de Artes Calouste Gulbenkian, no Centro, no dia 4 de outubro. Paulo jamais vai esquecer este dia.
Ele chegou todo acanhado, e se apresentou para os clientes com o velho violino, já afinado. Tocou os principais clássicos, como ‘Canon in D Maior’, de Johann Pachelbel, e ‘Pequena serenata noturna’, de Mozart. Em seguida, recebeu o novo violino.
“A música me faz refletir melhor sobre a vida. Ao tocar violino, percebo se as pessoas estão tristes, felizes, preocupadas. Vejo como a música mexe com elas”, destaca Paulo, que voltou a estudar, no primeiro ano do Ensino Médio, para no futuro tentar a faculdade de música.
“Na rua eu aprendi muito com muitas pessoas, mas não são informações exatas, são experiências próprias… Aqui é uma coisa que vai me dar uma visão melhor do que eu estou fazendo. Não é só o sentimento, é o raciocínio”, conta.
O futuro… Paulo sonha em trabalhar com cinema e ajudar aqueles que começaram como ele. “Sonho lá na frente poder ter uma orquestra com a galera da minha comunidade. Ensinar a galera que realmente precisa de uma oportunidade.” completa.
Com informações: O Globo / Uol