Livro de autor pernambucano viaja pelos sonhos e DNA poético
Iniciar um passeio pelos versos livres sem abandonar as formas fixas. O poeta, cantor e compositor pernambucano Emerson Sarmento escolheu a liberdade e a segurança para trilhar as linhas do seu segundo livro de poemas, intitulado Cromossonhos, lançado em 2016.
A obra, o processo criativo, as intenções do autor, as temáticas dos poemas e a relação com a Paraíba foram os assuntos da conversa de Emerson Sarmento com o Conexão Boas Notícias. O autor levou cerca de um ano para preparar o livro.
Paixões, saudade, amores, boemia, sexo virtual, erotismo, política e filosofia são as temáticas abordadas no seu mais recente trabalho. “Foram temas que surgiram no meu cotidiano, eu escrevo basicamente sobre minha vivência e experiências. Também creio que temas como sexo virtual seja uma realidade contemporânea. É bom ter essa troca com o leitor”, destacou.
A arte de criar versos
A obra é considerada pelo escritor mais madura que o seu primeiro livro lançado em 2012. “Perfume do Sangue foi um processo mais demorado. Eu reuni poemas já publicados com os mais recentes e entreguei a editora. Esse primeiro livro eu estive muito preso a forma fixa, pois se trata de um livro de sonetos. Em Cromossonhos eu parei para escrever, pensar numa mensagem. Escrevi de modo mais livre também, sem a neura de ficar preso numa única estrutura”, explicou Emerson Sarmento.
O título da produção literária faz referência a cromossomos, uma analogia proposital. “Quando passei a pensar neste livro, ainda sem título, quis expor aos leitores meu DNA poético, colocar para fora o que habita organicamente por dentro e além da minha epiderme, dar ordem na bagunça interna e organizar tudo no lado de fora para que fosse tudo compreensível ao tornar concreto meus devaneios, meus sentimentos, minhas angústias, meu eu político e filosófico”, revela o autor no prefácio.
Conhecer as obras de autores como Manoel de Barros, Manuel Bandeira e Oswald de Andrade desconstruiu certo preconceito pelos versos livres que o pernambucano carregava. As referências foram essenciais no processo criativo do poeta. Sem restringir a força poética, o autor uniu o clássico e o irregular. “Eu quis dá uma ideia experimento, como num laboratório. Quis brincar com as formas. Juntar versos fixos e livres sem perder a unidade”, frisou.
Perfeita simetria
O recifense herdou a veia artística da família, seu pai é Bozó 7 Cordas e a mãe a corista Uedja Carmen. Iniciou sua carreira na música muito jovem, aos 16 anos, como letrista e vocalista de uma banda de rock estilo oitentista chamada Anarquia89. Aos 17 anos, ingressou no Conservatório Pernambucano de Música onde estudou canto erudito por 2 anos.
Emerson Sarmento ganhou quatro concursos nacionais de poesias. Dois deles foram promovidos pelo Vale das Sombras, em Minas Gerais, um pelo Turba Literária, em São Paulo, e outro pelo OrkutTv, canal aberto paulista, além de saraus realizados em Natal.
Mergulhar em universos literários distintos e emergir com obras singulares é uma tarefa que requer planejamento. “Minha intenção em Cromossonhos foi justamente o contrário: abraçar dois mundos antagônicos e civilizá-los numa unidade onde cada qual exerce seus mecanismos em perfeita simetria”, ressaltou o poeta.
O autor tem planos de lançar Cromossonhos pelo Brasil, inclusive na Paraíba. “Por eu gostar da terra, por ter amigos e familiares. Mas também por saber que é um lugar fértil para a literatura. Conheço bons poetas como Sander Brown e Linaldo Guedes, os quais adoraria tomar uma cerveja gelada enquanto trocamos versos”, confessou Emerson Sarmento.
A síntese
Para o escritor, o último poema do livro, “Soneto Anatômico” resume a mensagem e o sentido da obra. “O soneto é uma forma fixa, mas eu fiz dele um poema moderno, fugindo um pouco do tradicional”, disse.
Alguns versos do Soneto anatômico:
Ventrículo direito:
És, portanto, o alento infindo dos ares magistrais
a existência imponente que une os pensamentos
dos meus longínquos desejos onde o amor é capaz.
Ventrículo esquerdo:
Tiraste d’alma o sol pra iluminar minha aurora
desde que rompeu-se as artérias do alumbramento
e todo corpo reluziu com tua chegada, senhora!
Por Marcella Machado, da redação do Conexão Boas Notícias
Grande Emerson Sarmento , poeta e compositor. Tenho orgulho de conhecê-lo!