Ocupação Desmistifique sua Dança promoveu intercâmbio entre dançarinos de rua
Quatro vezes por semana, de duas a três horas por dia, a entrada do Shopping Itália ou o pátio da Rua da Cidadania do bairro Fazendinha, em Curitiba são laboratórios de ensaio para o B-Boy brasileiro Marcos Paulo Daniel Caroba. Desde 2005, os contorcionismos acrobáticos do break guiam a vida do dançarino. Marquinhos foi um dos 15 participantes do projeto “Ocupação Desmistifique sua Dança”, que ocorreu no Teatro Cacilda Becker, no Rio de Janeiro.
De 29 de novembro do ano passado até as primeiras semanas de 2018 dançarinos de rua de Curitiba, Rio de Janeiro e Nova York participaram da mostra de dança e residência artística idealizada pela coreógrafa e pesquisadora curitibana Marila Velloso, em parceria com o pesquisador e dançarino Hugo Oliveira, mestre em Cultura pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com estudos sobre a Dança Passinho.
A “Ocupação Desmistifique sua Dança” foi inspirada no projeto nova-iorquino “Dancing in the streets”, formado por jovens da região do Bronx que vivem em condições de vulnerabilidade social. A professora da Faculdade de Artes do Paraná conheceu o grupo em outubro de 2015. “Soube que 200 deles foram presos por dançarem no metrô de NY. Fiquei intrigada e decidi fazer residência artística com esses rapazes no Brasil”, contou.
O intercâmbio internacional reuniu o grupo norte-americano It’s Show Time NYC!, o passinho dos Imperadores da Dança, do morro de Manguinhos, no Rio de Janeiro e os dançarinos de danças urbanas de Curitiba. A Ocupação Desmistifique ainda incluiu batalhas de dança, bate-papos, workshops, espetáculos, entre outras ações. “Meu objetivo era levar para áreas cultas da cidade as danças que ocorrem na rua, nos bailes funk das favelas”, afirmou Marila Velloso.
“Com essa convivência, cada dinâmica que um passa para o outro, que um ensina, cada vivência, cada bagagem que eles carregam dentro da cultura de cada um, isso é muito rico para os outros dançarinos. Porque nesse intercâmbio, nessas conversas, nessas trocas dá para ver muita coisa em comum, de dificuldade, de vantagens que a gente tem em cada lugar, em cada arte”, relatou o B-Boy brasileiro Ronielson da Silva Araújo, o Kapu Araújo.
Nas coreografias como as de Marcos Paulo Daniel Caroba, o integrante do projeto It’s Show Time NYC!, Soho da Flyest, também percebeu as variações de uma mesma dança como o Chicago Foot, entre os países. “É preciso ter muita atenção ao que dizem o rosto e o corpo deles. As danças são completamente diferentes”, observou.
A proposta do projeto foi uma das aceitas pelo edital de Ocupação do Teatro Cacilda Becker, promovido pela Fundação Nacional de Artes (Funarte). “Institucionalmente, é muito importante fazer essa articulação internacional. A presença de grandes referências das danças urbanas dos EUA foi um diferencial para que o projeto fosse contemplado”, afirmou o coordenador de dança da Funarte, Fabiano Carneiro da Silva.
Com informações: Gazeta do Povo / O Globo / Ocupação Desmistifique