Sutileza e ironia: a arte conceitual da romena Geta Bratescu
Em mais de 70 anos cabem filmes, fotografias, instalações, tapeçarias, ilustrações, desenhos e colagens. Em 91 anos de idade habitam a experiência de quem cria nas mais diversas formas de expressão artística. “Um projeto é criado na mesa de trabalho, não na cabeça. A arte é forma”, afirma a artista romena Geta Bratescu.
Os cabelos brancos, a pela flácida, os olhos apertados por trás dos óculos e a quietude do semblante enganam. “Na minha idade, eu posso trabalhar como jovem”, diz. Geta Bratescu está em constante produção. Nascida em 1926 em Ploiesti, ao norte de Bucareste, os desenhos fazem parte da vida da artista desde criança.
Figura marcante da arte romena, da vanguarda até o pós-guerra, é formada em Literatura e Filosofia. Suas obras refletem os estudos de uma vida. “Seu trabalho funciona em níveis conceituais, literários e esopianos”, define Magda Radu, curadora e historiadora da arte em Bucareste.
O estúdio no qual trabalha é o antigo quarto de sua mãe. Diariamente visita o espaço onde as gigantescas obras deram lugar a bases menores, mas que não alteraram a qualidade e a criatividade da artista. “Minha família e meus amigos, todo mundo entendeu que o estúdio é uma necessidade. Mas não é muito complicado; como acontece com vários artistas, é um lugar meu”, explica.
A primeira exposição individual de Geta Bratescu foi aos 21 anos de idade. A romena cresceu dentro do regime comunista. Casou em 1951 com o engenheiro e fotógrafo Mihai Bratescu e tiveram um filho, Tudor. Naquela década ilustrou livros infantis, pela União dos Artistas retratou camponeses em casamentos e em fábricas no delta do Danúbio.
Ao contrário da tendência artística daquele tempo, marcado por uma estética realista socialista, a artista adotou o seu próprio estilo. “Uma das rotas de escape de Geta Bratescu para fazer arte não política era usar mitologia, e a outra maneira era o jeito de lidar com o processo da arte, usando o ato de desenhar como modo de descobrir o mundo”, destaca o historiador da arte Sebestyen Gyorgy Szekely.
Em 2017, o pavilhão romeno na Bienal de Arte de Veneza foi dedicado aos 70 anos de carreira de Geta Bratescu. Em Los Angeles está em cartaz até o dia 20 de maio a exposição ‘Os Saltos de Esopo’ (The Leaps of Aesop), com mais de 50 obras entre desenhos, colagens, trabalhos têxteis e fotografias da artista.
O tempo, a academia e a experiência da arte levam Geta Bratescu a refletir sobre a obra que nasce, seja qual for a superfície. “Penso no desenho como uma dança – que é um desenho no espaço. Se você não gosta de dança, não é possível criar essas coisas”, garante.
Obras de Geta Bratescu
Com informações: GauchaZH / The Calvert Journal / Galeria Luisa Strina