Anna Maria Maiolino: o contraste na obra de uma andarilha da arte

Anna Maria Maiolino nasceu na Calábria, na Itália, morou na província de Bari, mudou-se para Venezuela na adolescência com o pai italiano e mãe equatoriana, adotou o Brasil nos anos de 1960 e multiplicou-se pelo mundo. De todos ou lugares que visitou, o único território ao qual pertencente é o da arte.

Pintora, desenhista, escultora, gravadora e artista multimídia, Anna Maria Maiolino começou a estudar ainda na Escola de Artes, em Caracas no final da década de 1950, com uma obra que explorava as telas e as esculturas mais comuns. Entretanto, o berço da produção artística e da identidade da autora é o Brasil, ao conhecer a obra de Oswaldo Goeldi, ter aulas de gravura com Adir Botelho e conviver com Hélio Oiticica e Lygia Clark, entre outros artistas.

Anna Maria Maiolino trabalhando em seu ateliê. Foto: Hauser & Wirth | Anna Maria Maiolino

As influências da arte conceitual, do concretismo, da gravura, das novas mídias, com o vídeo e o filme super-8, transformariam sua produção em uma arte de contrastes. “Eu tenho a característica de ir aos extremos. Comecei a fazer gravuras com uma certa narrativa, primeiro o cotidiano da mulher, depois tentando construir uma linguagem. Para o artista, só trabalhar por trabalhar e se experimentar é importantíssimo senão você não constrói seu vocabulário”, explica.

Dos seus 75 anos de idade, mais de cinquenta deles é dedicado às artes. Este mês a artista plástica foi anunciada a vencedora do prêmio Associação Brasileira de Críticos da Arte (ABCA) de 2017, na categoria “Artista pela Trajetória”. Até 9 de maio a autora estará em cartaz com a mostra “Imannam”, junto com as artistas Ana Linnemann e Laura Lima, no espaço cultural Pivô, em São Paulo. Das três, Anna Maria Maiolino é a veterana.

Ana Linnemann, Anna Maria Maiolino e Laura Lima Foto: Helena Wolfenson | Divulgação

As obras da artista na mostra foram produzidas no período do Regime Militar no Brasil (1964-1985) e ganham novo sentido na exposição. “Não é porque está na moda ser político. Se a realidade te afeta, você dá uma resposta. Como eu já tinha muitas obras de cunho político que foram feitas durante a ditadura, escolhi uma delas, muito apropriada para este momento em que o mundo e o Brasil estão à deriva”, conta Anna Maria Maiolino.

Além das gravuras, inspiradas na xilogravura nordestina, a artista explora os trabalhos em argila. Em décadas de carreira, a ítalo-brasileira já expôs em diversos países e já foi tema de algumas mostras retrospectivas da sua trajetória, como a exposição ‘A Life Line/Vida Afora’, de 2002, apresentada no Drawing Center de Nova York, com curadoria de Catherine de Zegher. A mais recente e a maior no país ocorreu em Los Angeles, no The Museum of Contemporary Art (MOCA), em janeiro deste ano.

 ‘Atto’ com participação da artista plástica. Foto: Lorenzo Palmieri

O sucesso da artista plástica no exterior reflete o seu papel de andarilha pela arte. “Fui criar um alfabeto, um discurso na arte por não pertencer a nada e a tudo ao mesmo tempo. É uma coisa muito paradoxal. Mas quando os brasileiros querem me ver como um artista de fora, fico ofendida. Tenho plena consciência que sou um produto da arte brasileira. Todo artista é um antropófago”.

Obras de Anna Maria Maiolino

‘Por um fio’, da série Fotopoemação, de 1976. Foto: Divulgação
‘Entrevidas’, de 1981. Foto: Divulgação
Gravuras de diferentes épocas. Foto: Divulgação
 ‘Vida Afora (A Life Line)’, de 1981/2009. Foto: Divulgação
Instalação ‘Arroz e feijão’. Foto: Divulgação
‘Minha Família’ de 1966. Foto: Divulgação

Contato

Site: https://annamariamaiolino.com


Com informações: Museu Vivo / Folha de São Paulo / Estadão

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