Marcelo D´Salete: representatividade negra e social nas histórias em quadrinho

Nas páginas, super-heróis e figuras fantásticas são os protagonistas de histórias de países e realidades distantes. A falta da representatividade negra e pobre nos livros incomoda o paulista Marcelo D´Salete desde a infância. O design gráfico, graduado em artes plásticas e mestre em história da arte decidiu ele próprio contar as histórias que não lia nos livros, mas sabia que existiam.

“Faço quadrinhos desde o começo dos anos 2000. No início fazia histórias em quadrinhos mais voltadas para falar sobre grandes cidades, muito sobre uma perspectiva negra, conflitos”, conta Marcelo D´Salete. “Noite Luz” é a primeira obra do escritor, publicada em 2008, onde seis existências se cruzam e estão ligadas pelas condições sociais.

Foto: Rafael Roncato

Em “Encruzilhada”, lançado três anos depois, o autor mantém o foco. “Acho que meus quadrinhos dialogam com diversos públicos dentro de uma grande cidade. A partir dessas histórias, é possível refletir sobre nossa realidade. Enfim, as histórias servem para quem é da periferia e para quem está fora dela também, mas todos, de um modo ou de outro, estão implicados nesse universo”, destaca.

Uma abordagem mais histórica, voltada para a resistência negra começa a ser traçada em “Cumbe”, livro de 2014. Após estudar o passado da população angolana no Brasil por meio de diversas fontes, montou um quebra-cabeças onde a escravidão é vista, mas a cultura e as vivências dos povos sãos evidenciadas. “O livro tenta mostrar aquele momento, mas pensando também no presente, nessa necessidade de os grupos atuais também construírem referências interessantes para as novas gerações, tanto para pessoas mais velhas lerem como para os mais jovens”, ressalta.

Foto: Divulgação

Considerado um dos principais quadrinhos de 2014 no país e, no ano passado, dos Estados Unidos, em 2018 foi indicado ao Eisner Awards, o mais importante prêmio internacional de quadrinhos. Os vencedores serão conhecidos em julho, durante o San Diego Comic-Con, na Califórnia.

Se na infância as palavras escritas escapam, as cantadas foram as que ecoaram na mente de Marcelo D´Salete. “Eu ouvia muito rap. Esse era um som bem presente quando moleque. De certa forma, quando comecei a fazer quadrinhos, fui um pouco influenciado pelo que estava ouvindo e ainda hoje só faço quadrinhos ouvindo música”. Em “Risco”, de 2014, a quarta obra do autor, volta à cidade e ao presente para contar a história de um guardador de carros no centro urbano e as dificuldades de sobrevivência.

Foto: Divulgação

“Angola Janga” é o livro em quadrinhos mais recente de Marcelo D´Salete, com as histórias ambientadas no Quilombo dos Palmares. O processo de criação da obra levou mais de 11 anos. “Esta não é ‘a’ história. Mas ‘uma’ história de Palmares”, esclarece o autor já no prefácio. Embora outros trabalhos sobre o tema já tenham sido lançados, o quadrinista traz uma perspectiva pessoal e episódios pontuais.

Nas obras de Marcelo D´Salete, as desigualdades sociais e os grupos marginalizados são mais que panos de fundo nas narrativas. “Meu objetivo é tentar dar voz a esses personagens e tentar explorar a complexidade desses personagens como eles merecem. E isso é uma busca em processo”, afirma.

Contato

Site: https://www.dsalete.art.br/

Facebook: https://www.facebook.com/marcelo.dsalete


Com informações: Geledes / DSalete / PublishNews

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.