São João de Santa Luzia: uma lição de autenticidade e tradição
A praça da Matriz de Santa Luzia ganhou novos adereços: bandeirinhas coloridas, laços de fita, balões. Os moradores da Rua de Baixo contando as horas, minutos e segundos para receber os familiares, amigos, convidados e visitantes. O São João de Santa Luzia é uma festa de interior para todos os gostos.
Há 11 anos o encontro das famílias e amigos de Santa Luzia reúne um número cada vez maior de pessoas. Afinal, existe sempre um motivo para celebrar a vida, o amor, a amizade, e a esperança.
Santa Luzia fica a 262 km distante da Capital João Pessoa (PB). A cidade que ensinou o Brasil a dançar forró dá uma verdadeira aula de tradição e autenticidade.
Logo na chegada fomos recepcionados com a alegria e a gentileza do povo Santa-Luziense. Até o clima contribuiu soprando ventos suaves. Sabe-se que o clima da região é tropical, mas no mês de junho a temperatura oscila entre os 25 e 30 graus, e a irregularidade só contribuiu para um fim de tarde agradável.
Surpresa para quem esperava um calor intenso. As bandeirinhas bailavam na brisa do entardecer sertanejo, dando o ar de sua graça. Um convite para o arrasta-pé.
O sanfoneiro bem maneiro puxou o fole e logo nos aconchegamos. Um toque de boas-vindas!
No Arraial das Famílias e dos Amigos das Famílias que circulam a Praça da Matriz as pessoas encontram-se, reencontram-se, cumprimentam-se. Cada arraial tem um toque a mais de criatividade, mas a maioria evidencia o sobrenome da família.
Nas barraquinhas da praça, nas calçadas das residências, mesas decoradas, bem postas e cheias das delicias feitas com o milho verde, bolos variados, o amendoim cozido, a pipoca servida em panela de barro, o cafezinho feito na hora, iguarias para agradar até os paladares mais exigentes.
A ordem é para não se fazer cerimônia. É chegar, sentar, servir-se, degustar. Se entrar e sair num arraial sem comer nada, é fazer uma desfeita ao dono da casa, disse a anfitriã Regina Medeiros Amorim, presidente da Associação de Turismo e Cultura de Santa Luzia (Santura).
Cada arraial recebeu um nome sugestivo: Arraial do Cancão; Arraial da Biza; Arraial de Zé Biscoito; Arraial dos Milianos; Arraial Casa de Reboco; Arraial Arrocha Burrão; Arraial dos Liberalinos; Arraial dos Cesarinos; Arraial do Catolé – Glorinha; Arraial da Dona Benta; Arraial da Beira D’água; Família de Lourdes Lima; Arraial da Família Lucena; Arraial de Vovô Zé; Arraial dos Picotes – Família de Bastinho e Dalva; Arraial da Vovó Mariza; Arraial da Tia Leide; Arraial dos Serrotes Brancos; Arraial de Seu Nêgo Martins e Dona Etelvina; Arraial de Vó Quinha; Arraiá da Craibeira de Chica de Seráfico; Arraial Antônio Izabé; Arraiá Minebox Santa Luzia; Arraial dos “Z”, Arraial da Dona Flora, entre outros.
Na entrega do troféu do Concurso do Arraial mais Animado – São João das Famílias e dos Amigos das Famílias de Santa Luzia, o Arraial da Craibeira de Chica de Seráfico foi o campeão.
No Pôr do Sol a literatura marcou presença de uma forma bem interiorana, na calçada mesmo! Uma pausa rápida para o lançamento do “Livro Assistência à Saúde no Município de Santa Luzia do Sabugy Durante o Séc. XX”, autoria de José Eymard M. de Medeiros.
A obra é centrada na assistência à saúde multiprofissional: médicos, odontólogos, farmacêuticos, parteiras e benzedeiras.
Ao comentar sobre a obra, o autor disse que foram dois anos de pesquisa baseado numa publicação do Almanaque Paraíba, datado de 1899. Grande parte do livro mostra a situação da Paraíba como um todo, depois ele trouxe a realidade para Santa Luzia.
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“A assistência à saúde tem que ser multiprofissional, não existe categoria superior, todos eles se unem para melhorar a saúde da população”, salientou José Eymard.
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Conhecido pelas redondezas por Dr. Zeymar. Ele fez questão de ressaltar que apesar de ter nascido em Campina Grande, ele sente-se Santa-Luziense de coração, inclusive já recebeu o título de cidadão de Santa Luzia.
Ao longo dos anos, o São João de Santa Luzia reúne as antigas e as novas gerações. O que chama a atenção da festa é o envolvimento da comunidade. Os moradores da Rua de Baixo deixaram bem claro que pode se fazer um evento sem dinheiro público. Eles uniram esforços e fizeram um São João com uma programação bastante diversificada.
O desfile de carroças juninas pelas principais ruas da cidade mostrou a criatividade e a integração dos moradores com os visitantes. Olha o cortejo animado!
A Santura conseguiu realizar uma festa nos moldes tradicional. Segundo Regina Medeiros Amorim, o bom é ver a população participando com alegria. É ver que ano após ano a tradição tem se firmado. Bonito de se ver as casas decoradas, um povo feliz, todos brincando com segurança, contribuindo com a preservação dos valores, da família, da cultura.
Regina falou emocionada da Homenagem a Mané de Bia que este ano faria 100 anos. “Manoel de Bia foi o melhor poeta de Coco de Roda em Santa Luzia”, diz.
Quem conheceu Mané de Bia não esquece que ele cantava seus cocos na feira livre de Santa Luzia. Ele era analfabeto e sempre que precisava anotar os versos que lhe vinham a mente, ele pedia para um familiar anotar.
Mané de Bia fazia um coco diferente, único. Suas músicas animavam os festejos juninos de Santa Luzia.
No ano de 2009, o artista recebeu o título de Mestre das Artes da Cultura Paraíba, honraria concedida pelo Governo do Estado aos principais atores culturais da Paraíba.
A praça foi o palco para a apresentação do Coco de Roda: relembrando e revivendo as tradições. Os integrantes do grupo mostraram a dança em pares, fileiras ou círculos. Cantando o coco rimado.
A animação tomou conta de cada espaço festivo. Atrações e mais atrações: apresentação das quadrilhas juninas com participação das pessoas da cidade e dos turistas, trio pé de serra, desfile de moda Dichita, casamento matuto, barracas de comidas típicas e de artesanato, entre outras.
A Comunidade Quilombola do Talhado marcou presença com os 3 do Forró: Santino Brás, Ciço do Acordeon, Luis Valdo e a cantora Lene. “Para mim é um orgulho tocar aqui na Rua de Baixo que é o forró autêntico pé-de-serrá”, disse Santino, zabumbeiro e dono da banda, 18 anos de carreira.
“Eu tenho um zabumba que me foi presenteado por Parafuso – 3 do Nordeste. Tenho este zabumba de lembrança”, contou Santino.
O artista parabenizou a iniciativa da Santura de promover um São João tradicional. “Fazia tempo que eu não via um Coco de Roda, desde que Mané de Bia faleceu, eu vi a dança do camaleão. Eu me sinto orgulhoso de fazer parte de um São João desse. A Regina dando a maior força para reviver as tradições, ela está de parabéns”, comentou Santino.
Na Praça Alcindo Leite: modernidade e shows com artistas
A programação patrocinada pela prefeitura municipal aconteceu na Praça Alcindo Leite. Começou no dia 21 e seguiu até o dia 24 de junho, das 21h até o sol raiar. No palco principal os cantores Saulo Farra, Pinto do Acordeon, Luan Estilizado, Jonas Esticado, Titico, Giullian Monte, Avine Vinny, Santino Braz, Woxton Nóbrega e as bandas, Os Gonzagas, Forró D2, Cavaleiros do Forró, Geová e Forró no Jeito, Cavalo de Pau, os 3 do Forró e a Loba.
O prefeito de Santa Luzia, Zezé fez um rápido comentário, “O São João de Santa Luzia é uma festa para todos os gostos”.
A “cidade que ensinou o Brasil a dançar forró, Santa Luzia” se tornou Patrimônio Cultural e Imaterial da Paraíba, o ato foi aprovado por unanimidade na Assembleia Legislativa da Paraíba, e segue para o chefe do executivo para sancionar e ser publicado no Diário Oficial.
O Projeto de Lei 1.849/2018 de autoria do Deputado Estadual Raniery Paulino, visa valorizar a cultura local e reconhecer o são João mais tradicional do sertão paraibano.
“O São João das Famílias e dos Amigos das Famílias de Santa Luzia foi lindo, animado e muito tranquilo”, enfatizou Regina.
“Aplausos para a comunidade, para as Famílias e os amigos das Famílias de Santa Luzia – PB”, declarou Regina Amorim.
“Um grande Encontro de famílias e amigos, acolhendo e integrando todas as gerações, numa brincadeira tão gostosa, onde a alegria estava presente e pulsante no coração das pessoas”, aponta Amorim.
“Agradecimentos à imprensa, aos amigos e filhos de Santa Luzia PB, que fizeram a sua doação, seja em contribuição financeira, seja em trabalho voluntário para fazer esse lindo evento cultural da Paraíba”, destaca Regina.
Tradição e modernidade andaram lado a lado, sem atropelos. Sem espaço para as indiferenças. Santa Luzia em seus festejos juninos deu uma autêntica lição de diversidade cultural. Bonito de se ver!
Por Josy Gomes, da redação do Conexão Boas Notícias