Médico brasileiro busca a cura definitiva do HIV combinando tratamentos e vacina personalizada

Ricardo Diaz, médico brasileiro, busca a cura definitiva do HIV combinando tratamentos e vacina personalizada. Ele pode estar chegando mais perto da cura, conforme indicam os resultados preliminares de seu experimento. 

De acordo com as informações, há seis anos, o infectologista da Unifesp realiza estudo e conseguiu superar obstáculos e eliminar completamente o vírus do organismo de 2 pacientes na 1ª fase.

O pesquisador da Escola de Medicina da Unifesp, lidera um estudo que, no último ano, conseguiu erradicar completamente o vírus HIV de duas pessoas soropositivas, segundo os resultados. Agora, elas estão sendo acompanhadas para ver como seu organismo reage sem o tratamento experimental.

Ricardo Diaz está otimista. Para ele o procedimento poderia ser adotado em escala, caso seja comprovado que ele funciona. Foto: BBC Brasil | Reprodução

O estudo ainda não foi publicado, mas será apresentado na íntegra, pela primeira vez, no Congresso Internacional de Aids, o mais importante do mundo sobre o tema, que acontece na Holanda a partir desta segunda-feira (23).

A pesquisa é extremamente promissora e traz esperança, acima de tudo. Mas é preciso avançar nos testes para saber qual seria o impacto do tratamento nas pessoas”, aponta a infectologista Melissa Medeiros, especialista em HIV e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia.

Ela acrescentou: “Quando se fala de algo assim, as pessoas já acham que a cura chegou. Mas é importante saber que há um tempo de pelo menos cinco a 10 anos até as pesquisas chegarem à população. É preciso bastante tempo até sabermos se a pesquisa será mesmo bem-sucedida e se é segura”.

Foto: Reprodução

Atualmente o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza um tratamento – um coquetel de três medicamentos que inibe o máximo possível a reprodução do vírus no corpo, enquanto mantém o sistema imunológico atuante e protege contra infecções oportunistas. Porém, o HIV, não é completamente eliminado do organismo, e pode voltar.

Uma combinação de medicamentos já utilizados em todo o mundo com mais duas substâncias ainda não usadas neste tipo de tratamento e vacinas personalizadas, feitas com base no DNA de cada participante, foi feita pela equipe de pesquisadores brasileiros. 

Diaz apontou que “é a primeira vez no mundo que alguém experimenta esse tratamento específico que fizemos, e a primeira vez que temos resultados tão positivos na primeira etapa. Estamos dando mais um passo na direção da cura“.

Foto: Reprodução

Segundo os pesquisadores, em 2015, um estudo dinamarquês combinou um medicamento usado no tratamento de câncer com o coquetel antirretroviral e uma vacina baseada em DNA e conseguiu eliminar os reservatórios do vírus HIV no organismo de pacientes por alguns meses.

Desde então, outros testes do tipo têm sido feitos na Espanha, na Grã-Bretanha, na Noruega, na Alemanha e na Itália, e começam a ocorrer nos Estados Unidos.

Foi finalizada a primeira etapa do estudo de Diaz – feito com 30 pessoas. Apenas cinco delas receberam a combinação completa de tratamentos, e entre elas, duas parecem estar livre do vírus, de acordo com os exames. Este grupo deve ser expandido para pelo menos 50 pessoas até o fim do ano.

Objetivo 

O tratamento proposto pelos pesquisadores brasileiros quer chegar à “cura esterilizante”, que é a eliminação completa do vírus, sem a possibilidade de que ele volte a se replicar – algo que atualmente pode ocorrer se o soropositivo para de tomar o coquetel.

O infectologista diz que “atualmente, nós tratamos a pessoa, o vírus morre, paramos de tratar, e o vírus volta. Isso ocorre porque o vírus continua se multiplicando no corpo da pessoa mesmo com o tratamento eficiente”.

Diaz declarou que a cura total de pacientes com HIV enfrenta três grandes obstáculos – o fato de que o vírus continua se replicando no corpo mesmo com o coquetel, que apenas mantém essa replicação baixa; o fato de que o vírus fica latente, ou seja, “adormecido”, e pode voltar à atividade de maneira aleatória; e a existência dos “santuários”, locais do corpo humano onde os medicamentos são pouco distribuídos e o HIV pode continuar se desenvolvendo.

Ele afirma: “O que fizemos foi combinar tratamentos que pudessem superar todas estas barreiras”, afirma.

Testes

Inicialmente foram feitos testes com 30 pacientes, divididos em grupos de cinco pessoas. Cada um deles experimentou uma combinação diferente, e o último grupo usou todos os tratamentos em conjunto.

Além do coquetel antirretroviral, eles usaram a nicotinamida, ou vitamina B3, um suplemento alimentar que é vendido em farmácias, mas nunca foi usado contra o vírus HIV. Ele “acorda” as células com o vírus latente no corpo.

Na pesquisa Diaz usou também o sal de ouro, medicação usada para tratar doenças como artrite que não chega a despertar as células com HIV, mas as leva a um “suicídio”, explica Diaz.

Para eliminar os “santuários” de vírus no organismo dos pacientes, os pesquisadores desenvolveram, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), uma complexa vacina personalizada, que faz com que o sistema imunológico volte a reconhecer o vírus dentro do corpo, encontre esses santuários e mate o vírus.

“Desenhamos, de acordo com o perfil genético da pessoa, o pedacinho do vírus que seria importante pra despertar o seu sistema imunológico”, diz o infectologista.

Nas cinco pessoas do grupo 6, que fizeram o tratamento completo, a quantidade de vírus diminuiu mais do que em todas as outras. E em duas delas, o vírus sumiu completamente das células.

“Agora estamos estudando como fazer a interrupção desse tratamento, para ver se elas permanecem sem o vírus por mais tempo. Depois, vamos expandir o estudo.”

Diaz declara  que uma vacina personalizada para cada paciente soropositivo no Brasil – e no mundo – seria muito custosa, ainda que ele não tenha uma estimativa real do valor gasto em sua pesquisa até agora. Mesmo assim, ele se diz otimista.

Polêmica

Para fazer parte do estudo da Unifesp, era necessário que os soropositivos fossem todos maiores de 18 anos e do sexo masculino, o que significa que os pesquisadores ainda não sabem como o tratamento pode funcionar em mulheres. Por essa razão, Diaz admitiu que foi “muito criticado”.

“Não é uma coisa correta fazer essa discriminação. Temos que investigar para todos os indivíduos. Mas tive uma intuição de que, nesse momento, seria mais seguro fazer só com homens.”

“Achei que para alguns medicamentos poderia haver mais efeitos colaterais nas mulheres. Mulheres às vezes engravidam e não sabíamos o que essa combinação poderia fazer. Mas já está no plano incluir mulheres na próxima etapa. Como vimos que a associação de medicamentos não causou mal detectável, então ficamos mais seguros.”

Para o infectologista, tratamentos experimentais contra o vírus HIV geralmente têm 75% de pacientes homens e 25% de mulheres, que costumam ser infectadas em menor número.

Entretanto seu estudo deve obedecer a nova diretriz na comunidade científica de ter o mesmo número de mulheres e homens.


Com informações: BBC News Brasil

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