Sirius: o maior projeto da ciência brasileira

Depois de seis anos de construção foi inaugurada a primeira etapa do Sirius, o novo acelerador de elétrons do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP).

A primeira etapa do Sirius foi inaugurada nesta quarta-feira (14) Com a presença do presidente da República, Michel Temer, o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab.

Iniciado em 2012, o Sirius é o maior projeto da ciência brasileira, uma infraestrutura de pesquisa de última geração, estratégica para a investigação científica de ponta e para a busca de soluções para problemas globais em áreas como saúde, agricultura, energia e meio ambiente. Será um laboratório aberto, no qual as comunidades científica e industrial terão acesso às instalações de pesquisa.

“Este é o verdadeiro exemplo da união em favor de uma nação. Um projeto de Estado, que transcendeu governos e agora nos coloca na dianteira da ciência mundial. Feito totalmente por brasileiros, para o bem dos brasileiros. Tenho orgulho e me sinto honrado em participar”, disse Kassab.

Ele comparou a busca pelo conhecimento científico a uma corrida de automóveis, onde “cada ano um país está na frente”. “Com esta inauguração, o Brasil, inquestionavelmente, conquista a pole position do mundo das pesquisas”, destacou.

Luz síncrotron

Foto: Reprodução

O Sirius compreende um grande equipamento científico, composto por três aceleradores de elétrons, que têm como função gerar um tipo especial de luz: a luz síncrotron. Essa luz de altíssimo brilho é capaz de revelar estruturas, em alta resolução, dos mais variados materiais orgânicos e inorgânicos, como proteínas, vírus, rochas, plantas, ligas metálicas e outros.

Esta primeira etapa abrange a conclusão das obras civis e a entrega do prédio que abriga toda a infraestrutura de pesquisa, além da conclusão da montagem de dois dos três aceleradores de elétrons. O terceiro acelerador e também o principal deles está em processo de montagem.

100% nacional

Construído com tecnologia 100% nacional, o Sirius “levanta a autoestima do brasileiro, em especial, da ciência brasileira”. “Ganha o Brasil. Ganha o Brasil na medicina, na agricultura e em qualquer segmento que seja ser analisado no campo da pesquisa e da ciência com esse equipamento”, ressaltou Gilberto Kassab.

Foto: Reprodução

Orçado em R$ 1,8 bilhão, o projeto é financiado pelo Ministério de Ciência Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). Até agora, cerca de R$ 1,12 bilhão foram repassados para o Sirius, sendo R$ 282 milhões em 2018. “Gostaríamos de agradecer o apoio fundamental do presidente Temer para que pudéssemos chegar a este momento”, acrescentou o ministro.

Estrutura

O Sirius ficará abrigado em um prédio de 68 mil metros quadrados (equivalente a um estádio de futebol). Sua estrutura foi projetada e construída para atender padrões de estabilidade mecânica e térmica sem precedentes.

No Sirius, a demanda por estabilidade e prevenção de vibrações demandou um piso constituído de uma única peça de concreto armado, de 90 cm de espessura e com precisão de nivelamento de menos de 10 milímetros. A temperatura na área dos aceleradores não poderá variar mais que 0,1 grau Celsius.

Foto: Reprodução

“Estamos presenciando um Brasil que avança a passos largos. É um país que passa a integrar o seletíssimo grupo de países que dispõe de um acelerador de elétrons de quarta geração.  É também a prova cabal de brasileiros e brasileiras que se dedicam dia e noite a colocar o Brasil na fronteira do conhecimento”, afirmou o presidente Michel Temer, durante a cerimônia em Campinas. 

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“Realmente, é um equipamento que passa a ser uma referência para todos os cientistas do mundo. Aqui, isso significará avanços notáveis em todos os campos possíveis”, comemorou Kassab

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Construtores do Sirius

Para a construção bem-sucedida do Sirius, dezenas de cientistas e engenheiros estão há décadas dedicados ao desenvolvimento de fontes de luz do tipo síncrotron, que têm dimensões colossais, mas exigem uma precisão milimétrica.

Um deles é a chinesa Liu Lin, de 54 anos, que nasceu em Hong Kong e veio para o Brasil aos 2 anos de idade. Como cientista, ela se dedica há 33 anos ao desenvolvimento dos aceleradores de partículas brasileiros.

Além de Liu Lin, o Projeto Sirius envolve outras dezenas de físicos e engenheiros de diversas áreas. Tamanho esforço é feito para que os cientistas e pesquisadores possam trabalhar sem problemas nas saídas das linhas de luz.

Um deles é o paraibano Narcizo Marques de Souza Neto, de 40 anos, que trabalha com experimentos de raio-x em condições extremas de pressão e temperatura. Nascido na cidade de Malta, de 5 mil habitantes, ele conheceu o CNPEM em 2001, quando foi selecionado para um programa de bolsa de verão e viajou de avião pela primeira vez.

Depois de conhecer Campinas, ele fez mestrado e doutorado na Unicamp e pós-doutorado em Chicago, nos EUA, onde morou durante três anos. Lá, ele desenvolvia uma técnica para testar materiais sob alta pressão, quando recebeu uma proposta para trabalhar como pesquisador na fonte de luz síncrotron americana.

Mesmo com um salário maior nos EUA, ele preferiu voltar para o Brasil para colaborar na formação de cientistas do país e fugir do frio. A construção do Sirius também foi um fator decisivo na sua escolha, já que ele poderá fazer seus estudos no melhor aparelho do mundo, de acordo com o que dizem os cientistas.

Foto: Reprodução

Com informações: Inovação Tecnológica / MCTIC / BBC News Brasil

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