Empresa têxtil amplia produção algodão orgânico em comunidade Quilombola na Paraíba

Por Sandra Vasconcelos

Historicamente, as comunidades quilombolas são preservadoras ambientais. E ainda que a terra seja identidade cultural e recurso econômico, pesquisa do Projeto Cooperar (2012) do Governo do Estado da Paraíba indica que mais de 70% têm das suas atividades de agricultura apenas a subsistência, sem geração de renda. 

Na Paraíba são 39 Comunidades Remanescentes de Quilombo*. Em São Bento, região do sertão, a empresa têxtil Santa Luzia Redes e Decoração está expandindo a produção do algodão colorido orgânico em parceria com os agricultores de uma comunidade tradicional local. O quilombo Terra Nova é uma das áreas escolhidas para aumentar a colheita e com isso ampliar a oferta de redes, mantas, tapetes e cortinas distribuídos para todo o país e exportados para a América, Europa, Ásia e África. 

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O algodão colorido orgânico responde a uma demanda do mercado por produtos ecológicos e sustentáveis. A pluma já nasce com as cores que vão do bege ao marrom, sem tingimentos e sem uso de defensivos químicos. 

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Algodão colorido. Foto: Francisco Franca

A produção da fibra ecológica era feita apenas com os agricultores do assentamento Maria Margarida Alves, em Juarez Távora. Agora está sendo expandida para São Bento e municípios vizinhos da fábrica têxtil, sempre com contrato de compra garantida da empresa junto aos agricultores. “No assentamento rural em Juarez Távora, a produção é feita por um grupo de empresas em área de aproximadamente 15 hectares. Agora estamos plantando 20 hectares e produzindo na nossa própria cidade, onde a empresa atua desde 1986”, confirma Armando Dantas, CEO da Santa Luzia Redes e Decoração.

A ação para a expansão é parte do programa da empresa para contribuir com o Arranjo Produtivo Local. O objetivo do plantio é dobrar a produção em 2020 para atender a crescente demanda de consumidores que exigem produtos têxteis de Casa e Decoração desenvolvidos nos preceitos da sustentabilidade.

Produtos éticos, sustentáveis e de produção local 

Os acessórios e utilitários desenvolvidos pela empresa paraibana envolvem responsabilidade ambiental, social e econômica. A comunidade quilombola Terra Nova soma-se a outras mapeadas pelo projeto de expansão do plantio como as dos municípios de Brejo do Cruz e de Paulista.

Foto: Reprodução

“O nosso compromisso social vai além do pagamento justo pelo quilo do algodão colorido orgânico – com valor entre os mais altos do mercado. Atuamos na nossa comunidade contribuindo para o desenvolvimento local. Isso já se dá pelo artesanato, que é parte da nossa cultura. Agora a cadeia produtiva se complementa com a inclusão dos povos tradicionais de São Bento – esta nossa cidade também conhecida como capital mundial das redes”, declarou Dantas.

Com apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e Empresa Paraibana de Pesquisa e Extensão Rural e Regularização Fundiária (Empaer) o projeto de expansão da produção do algodão naturalmente colorido visa resgatar a vocação rural da região e da comunidade quilombola, que já plantou algodão no passado.

A Paraíba – no chamado ciclo do Ouro Branco – liderou a produção nacional de algodão competindo com o mercado internacional. Dantas esclarece que a chamada ‘Praga do Bicudo’ acabou com o protagonismo do Estado e levou os agricultores a cultivo de outros insumos, menos valorizados.

Desenvolvida pela Embrapa Algodão, a matéria-prima contribui para o desenvolvimento da economia do campo por meio da agricultura familiar e sem impacto ambiental. “Como o cultivo não é irrigado, gera economia de 87,5% de água na cadeia produtiva — do campo ao produto acabado. Por isso, este algodão agroecológico é cobiçado no mercado nacional e internacional”, explica o CEO da empresa.

Apoio para dinamizar o arranjo produtivo local

Algodão colorido cultivo sem irrigação. Foto: Reprodução

Para viabilizar o plantio na comunidade quilombola e em outras áreas, o apoio das prefeituras foi fundamental. Com a supervisão de Geraldo Bonifácio, da Empaer, os tratores da prefeitura prepararam o solo para receber as sementes.

Na entressafra, os agricultores da comunidade deverão plantar ainda milho, feijão e batata doce. “O nosso compromisso é que o algodão colorido volte a garantir renda para o homem do campo porque tem valor agregado. O feijão, por exemplo, serve para a alimentação, mas não gera renda porque o valor é baixo, portanto, não garante a sustentabilidade das comunidades”, declarou o técnico.

Produção sustentável

Para o CEO da Santa Luzia Redes e Decoração, fazer produtos com materiais de baixo impacto ambiental e estimular o desenvolvimento local é fator essencial para uma produção sustentável. O caminho escolhido já rendeu a Dantas o Prêmio de Excelência Artesanal do Cone Sul em 2018 concedido pelo World Crafts Council sob os auspícios da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – Unesco.

Este ano, o desafio é continuar contribuindo na formação de um mercado mais exigente e mais consciente. “O papel do consumo consciente não deveria ser apenas atribuído aos consumidores. As empresas devem desenvolver produção mais sustentável e informar isso aos clientes”, conclui Dantas.


* Quilombolas são habitantes de quilombos, um fenômeno típico das Américas. Os quilombos são vilas de descendentes de negros escravizados. Há quilombos em comunidades rurais e urbanas e são caracterizadas pela agricultura de subsistência e por manifestações culturais que têm forte vínculo com o passado africano.

Há 30 quilombos na Paraíba. No Brasil, já são mais de 1200 quilombos certificados.


 Sandra Vasconcelos

Co-founder da Maximize Marketing. Formada em Jornalismo, com pós-graduação em Artes Visuais e Gastronomia (Espanha).

Com o blog Babel das Artes, ganhou o Prêmio Nacional Top Blog. Foi finalista no Prêmio Brasil Criativo 2014 do Ministério da Cultura.

 

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