Empresa mineira exporta privada e cria museu do banheiro
Museu Celite: um espaço concebido para apresentar a história do banheiro brasileiro
Os inusitados vasos sanitários chamam a atenção no novo e aparentemente mais promissor cenário das exportações. Moldadas em massa de argila, quartzo e feldspato, matérias-primas abundantes no estado, as peças saem em contêineres de Santa Luzia, Belo Horizonte (MG), com design exclusivo para atender de ingleses a australianos. Há também os modelos feitos para clientes na Argentina, Paraguai, Chile, Peru e Bolívia.
O endereço da produção, no distrito industrial da cidade, é o da maior fábrica do mundo de louças para banheiro, que a cada hora produz 400 peças. Todo dia, cerca de 800 empregados trabalham em 9.500 vasos de marcas mantidas no Brasil pela multinacional espanhola Roca Group, líder do setor.
Celite
Antiga marca brasileira nascida no interior de São Paulo em 1941, a Celite ganhou escala no parque fabril do município de Santa Luzia, Belo Horizonte, em 1968. Sob o guarda-chuva da Roca desde 1999, com espaço físico e planos de expandir as vendas, a fábrica de Santa Luzia incorporou, neste mês, um inédito museu do banheiro.
A rara coleção une a diversidade de vasos fabricados quase 80 anos atrás, aos exemplares típicos de cada década de transformações no comportamento do consumidor e na economia brasileira. Não faltam, ainda, as versões de última geração, os chamados vasos inteligentes.
Isso mesmo! São aqueles modelos repletos de comandos para dar ao usuário o conforto da regulagem ao sentar-se e a possibilidade dos banhos de assento com água e ar quentes, eliminando o uso do papel higiênico. A semelhança é imediata com as louças sanitárias dos tecnológicos japoneses, mas ainda bem distantes do abalado poder de compra dos brasileiros.
Há muitas histórias que o consumidor desconhece em torno do ‘trono’, usado desde os tempos das latrinas em pedra no Egito de 2000 a.C, e que evoluiu acompanhando a ciência e o desenvolvimento cultural e econômico dos povos. De peça essencial em qualquer tempo da história, o vaso sanitário alcançou status de símbolo de riqueza e, em Minas, mostra seu potencial para estimular as exportações nada tradicionais do estado.
Celite Museu
Celite Museu: o curioso museu do banheiro conta a história brasileira do cômodo, a partir do vaso que teria sido resultado das primeiras gerações de louças sanitárias nacionais na década de 1940. O ambiente no Brasil era ditado, à época, pela campanha nacionalista do governo de Getulio Vargas, que favoreceu a indústria. No exterior, o banheiro começava a deixar o confinamento entre quatro paredes, num mundo que se debatia com as mudanças trazidas com o fim da Segunda Guerra Mundial.
As atrizes de Hollywood são chamadas para dar o charme e emprestar seu glamour, que os banheiros nunca haviam tido. Rita Hayworth, Claudette Colbert, Jennifer Jones, Judy Garland e Ingrid Bergman faziam sucesso nas telas e na propaganda que valorizava o conforto íntimo. “A produção nacional era ainda incipiente e a demanda restrita”, destaca o gerente industrial da fábrica de Santa Luzia, Athos Domingues.
Com a valorização da intimidade e o avanço tecnológico observado nos anos 50 é que a produção dos vasos sanitários despontaria. Aí, sim, surgiram os grandes formatos, inspirados no estilo europeu das salas de banho, e esbanjando em cores.
Envolvida na pesquisa histórica durante os últimos dois anos, que serviu de base ao projeto do Museu da Celite, a gerente de marketing da Roca Brasil, Aline Pereira, destaca os avanços que as peças mostraram. “Houve mudança tanto produtiva quanto estética e a propaganda começa a mostrar o banheiro como espaço importante da casa”.
A produção avança
No ano de 1964, a produção abre seu caminho com a valorização do espaço dos banheiros, já ditada pela moda. O consumidor brasileiro pede, então, vasos mais compactados, desenhados pela arte do grafismo nas peças e surgem os conjuntos suspensos. “O banheiro que era algo íntimo, agora encantava. Passaram-se décadas até que as pessoas deixassem de escondê-lo”, lembra Aline Pereira.
Em 1970, as suítes dos quartos de casal se destacavam e o chuveiro chegava ao auge, impulsionando as louças sanitárias mais trabalhadas. Vieram os anos do milagre econômico, construído pelo dinheiro de investimentos estrangeiros.
1980. Começa o auge dos chuveiros, junto com o encanto das suítes. Os banheiros tiveram de se renovar, criar a novidade na modelagem e os tons degradê assumem a dianteira, talvez em busca de uma transição. O espírito persistiu na década de 90 associado a grandes investimentos feitos em pesquisa e na melhoria de qualidade e do desenho das peças.
Junto aos itens de banheiro reunidos no museu, objetos cedidos por funcionários que complementaram a pesquisa histórica do acervo, brindes antigos típicos e imagens montadas em caleidoscópios contam a história e evolução das peças. A empresa abriu as portas recebendo inicialmente clientes, arquitetos e formadores de opinião.
Empresa centenária, o grupo espanhol Roca busca fortalecer sua participação no mercado internacional. No parque industrial de Santa Luzia, com 74 mil metros quadrados, a capacidade de produção de duas fábricas, sendo a segunda, de 2012, uma das mais automatizadas, soma 4,2 milhões de peças por ano. A unidade concentra a fabricação das linhas de grande volume de louças sanitárias.
Com informações: Em.com.br / Celite