Fiocruz vai lançar livro sobre práticas tradicionais de cura e plantas medicinais
O conhecimento repassado entre sucessivas gerações de habitantes de seis aldeias do território Guarani-Kaiowá, no Cone Sul do Mato Grosso do Sul, sobre práticas tradicionais de cura e outros saberes ganhou um novo registro.
Está sendo lançado no próximo dia 23 de julho, às 15h, o livro Pohã Ñana: nãnombarete, tekoha, guarani ha kaiowá arandu rehegua, ou Plantas medicinais: fortalecimento, território e memória guarani e kaiowá, construído numa parceria de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz, estudiosos de outras instituições e de um grupo de jovens indígenas da comunidade. Editado pela Fiocruz Pernambuco, pode ser acessado em meio digital e em breve estará também nas livrarias.
A publicação resulta da pesquisa Práticas tradicionais de cura e plantas medicinais mais prevalentes entre os indígenas da etnia Guarani-Kaiowá, desenvolvida nos últimos seis anos e coordenada pelos professores Paulo Basta, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp-RJ), e Islândia Carvalho (Fiocruz Pernambuco), coordenadora do Observatório Nacional de Saberes e Práticas Tradicionais, Integrativas e Complementares em Saúde (ObservaPICS).
Encontro virtual
Para marcar o lançamento do livro será realizado um debate virtual promovido pelo ObservaPICS/Fiocruz Pernambuco, com transmissão no Youtube e participação de convidados das comunidades Guarani-Kaiowá, estudiosos e defensores da causa indígena.
Pesquisa, arte e conhecimento tradicional são os temas da conversa do dia 23 de julho, com relatos pessoais de quem participou do estudo e da elaboração do livro. Coordenado por Islândia Carvalho e mediado por Paulo Basta, que coordena o Grupo de Pesquisa Ambiente, Diversidade e Saúde na Ensp, o encontro virtual contará com a antropóloga kaiowá Lúcia Pereira, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Sociocultural da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), a historiadora Aparecida Benites, professora das redes estadual e municipal na Aldeia Amambai, o líder indígena kaiowá Tonico Benites, doutor em antropologia e pesquisador visitante da Universidade Federal de Roraima (UFRR), além do antropólogo Fábio Mura, professor associado da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e do procurador da República no Mato Grosso do Sul Marco Antônio Delfino de Almeida, doutorando em história indígena. Durante a programação serão apresentados cantos tradicionais de cura da ñandesy (rezadora) kaiowá Orida Vilhava.
Segundo Paulo Basta, “espera-se que os leitores sejam tocados pelas histórias e palavras apresentadas na publicação, valorizando as práticas tradicionais de cura, assim como o diálogo intercultural no campo da saúde, da cultura e dos direitos humanos no Brasil”. A ideia, completa, “foi registrar o conhecimento tradicional guarani e kaiowá, a partir de relatos de experiências ancestrais de rezadores e rezadoras com o uso de plantas medicinais”.
O médico Paulo Basta destaca que a linguagem utilizada permite que a publicação seja lida por diferentes públicos, escolares ou não, indígenas e não indígenas.
Sobre o livro
A obra com 350 páginas, reunindo texto e fotografias, resulta do diálogo entre os pesquisadores e moradores das aldeias Guapo’y (Amambai), Jaguapiré, Guasuty, Kurusu Amba, Tapyi Kora (Limão Verde) e Takuapery, localizadas na região conhecida como Cone Sul. Ao todo são dez autores, com a produção organizada por Basta, Islândia, Aparecida Benites (Kuñatãi mbo`y arandu) e Ananda Meinberg Bevacqua (Kunãtai tucamby).
Para atender à popularização da ciência no Brasil, as atividades foram desenvolvidas na perspectiva de integração entre pesquisadores indígenas e não indígenas, buscando oferecer respostas práticas e retornos concretos às comunidades envolvidas, explica Islândia Carvalho.
_______
“Indígenas se tornaram protagonistas e auxiliaram a aprimorar o projeto original, simultaneamente adaptando-o à realidade local.”
__________
Na introdução, os organizadores relatam que o processo de construção tornou-se colaborativo no desenvolvimento da pesquisa. “Ao longo de nossa permanência nas comunidades, diversos atores se interessaram pelo tema de estudo, com destaque para anciões, professores, estudantes, profissionais de saúde”. De acordo com eles, “indígenas se tornaram protagonistas e auxiliaram a aprimorar o projeto original, simultaneamente adaptando-o à realidade local.”
O livro está estruturado em quatro partes: raízes, caule, folhas e sementes. Na primeira (raízes), aborda o que Basta chama de “fonte do conhecimento”, que são os rezadores e rezadoras, apresentando cosmologia, princípios terapêuticos e o xamanismo guarani e kaiowá.
Na segunda, há um catálogo, em guarani e em português, de plantas medicinais utilizadas nas práticas de cuidado em saúde nas comunidades, com descrição da coleta botânica das espécies estudadas.
“Na terceira parte são descritos os métodos da pesquisa, a importância do território e os aprendizados na interação entre pesquisadores indígenas e não indígenas. Um conjunto de fotos ilustram os trabalhos de campo em cinco aldeias e numa área de retomada no Cone Sul”, explica o pesquisador.
A última parte traz os aprendizados de dois jovens pesquisadores, uma indígena e outro não indígena, que compartilham a experiência nesse trabalho. E ao final são apresentadas reflexões sobre pesquisas no campo da saúde coletiva com populações indígenas.
Em versão digital, a publicação já está disponível no site do ObservaPICS e na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS/MTCI). Em breve será lançado também no formato impresso, podendo ser adquirido nas livrarias.
No ano passado, a mesma pesquisa gerou o documentário Mborayhu, o espírito que nos une, mostrando o uso tradicional de plantas medicinais e a resistência da comunidade para manter-se integrada ao meio ambiente.
Serviço
Lançamento do livro Plantas Medicinais: fortalecimento, território e memória guarani e kaiowá
Data: 23 de julho
Horário: 15h
Com debate transmitido pelo Canal da Fiocruz Pernambuco no Youtube
Com informações: Fiocruz
Edição: Josy Gomes Murta