Ceará: grupo de alunas cria projeto de empoderamento negro na escola
Diante de uma cultura imposta, a atitude é mais que rebeldia. É um processo de aceitação, reconhecimento e libertação. A tendência é permitir o natural. Assumir cabelos crespos e cacheados hoje é símbolo de identidade.
Um grupo de meninas do interior do Ceará percebeu essa necessidade e passou a desenvolver no colégio no qual estudam um projeto de empoderamento negro.
Giselle Viana, Joice Silva e Yasmim Lima são da cidade de Senador Pompeu. As alunas estão à frente do Crespinianas, projeto idealizado por elas e orientado pelo professor Denis Lima. A ideia surgiu em 2015, durante a Semana na Consciência Negra. As garotas estudam no Colégio de Ensino Profissionalizante Professor José Augusto Torres.
“A gente percebeu que muitas meninas ainda não sabiam, não tinha conhecimento do poder do empoderamento. Baseado nesses pensamentos nós fomos atrás de conhecimentos e de buscar a melhor forma de passarmos isso para todas as meninas. Não só nos muros da escola, mas além disso. Levando que não precisaríamos seguir um padrão estético imposto pela mídia para sermos verdadeiramente belas”, explicou Yasmim Lima.
Com a iniciativa, as meninas provaram que discutir o preconceito está longe de ser vitimismo. “Muitas vezes a menina gosta do seu cabelo, mas alisa por não saber como lidar. Foi através de conversas com essas meninas que desmistificamos conceitos dentro da nossa própria escola, impactamos ao mostrar que se deve desconstruir esses conceitos”, relatou uma das idealizadoras.
Hoje, as meninas visitam escolas e até universidades para ministrar palestras. Aos poucos o trabalho desenvolvido pelas alunas começa a receber reconhecimento.
Em 2016, o Crespinianas conquistou o primeiro lugar na feira de projetos da escola e alcançou a segunda colocação na Feira Regional de Ciências e Cultura, promovido pela Secretaria Estadual de Educação do Ceará.
O professor Denis Lima admite que o cenário das escolas e do próprio ensino prejudicam a organização de debates de temas relevantes. O orientador destacou a importância e o impacto do projeto das alunas. “Deu para perceber nas rodas de discussões, nas próprias palestras que elas fizeram em outras escolas que as outras meninas precisavam de alguém que levantasse essa bandeira para encorajar elas nessa busca e conquista de direitos”, pontuou.
Ampliação do projeto
A proposta do grupo agora é aumentar a repercussão e a divulgação do projeto. O Crespinianas já possui uma página na rede social Facebook e uma canal no Youtube está em construção. Outra novidade é a produção de um documentário. O vídeo irá tratar da libertação de padrões de beleza e sobre o empoderamento de meninas negras.
O projeto das meninas cearenses foi destaque na segunda edição do prêmio nacional “Desafio Criativos da Escola”. A iniciativa encoraja crianças e jovens a transformarem suas realidades. Com o trabalho que busca sensibilizar a comunidade escolar sobre a representação negra e questionar estereótipos, as meninas pretendem inscrever o Crespinianas novamente no concurso. O prêmio está com inscrições abertas até o dia 1º de outubro e irá reconhecer 11 trabalhos.
Entre os projetos das alunas também está a realização de encontros com garotas de cabelos crespos e cacheados de outras escolas da região e a criação de um painel de opiniões. “Queremos mostrar que elas devem acreditar em si mesmas e acabar com a ideia de inferiorização da beleza negra”, destacou Giselle Viana.
A estudante Joice Silva resumiu na sua experiência pessoal o objetivo do Crespinianas. “Foi a partir do projeto que eu comecei a gostar de mim do jeito que sou e não como as pessoas diziam que eu deveria ser para ficar bonita”, afirmou.
Contato: Facebook: https://www.facebook.com/Crespinianas/
Com informações: Espaço Experimental/UFPB / Criativos da Escola / Maxpress
Que matéria mais linda!! Agradecemos o site pela oportunidade, estamos dispostas a parcerias sempre. Ficamos muito felizes de poder levar a outras meninas que somos belas sim, mas como NÓS queremos ser! Muito obrigada