O retorno das marias-fumaças aos trilhos das cidades históricas brasileiras
Trens de turismo em operação por todo o País recuperam máquinas históricas e antigas ferrovias para mostrar destinos e trajetos repletos de nostalgia
Embarcar em um trem e olhar sem pressa pela paisagem na janela é coisa rara no cotidiano dos brasileiros. Isso porque os trens de passageiros, aqueles que ligam cidades e estados, são raríssimas exceções no País que decidiu, desde a metade do século passado, apostar pesadamente no asfalto e na abertura de estradas.
Já com o turismo sobre trilhos, entretanto, as coisas são diferentes no Brasil. Com a reforma de vagões, o restauro das vias e a aposta em destinos históricos repletos de natureza preservada, os trens se transformam no ponto de partida de uma boa aventura.
As locomotivas a vapor despertam não só a alegria das crianças fãs de Harry Potter, mas também a dos idosos que usaram o meio de transporte em suas infâncias. A “Maria Fumaça do Paraná”, considerada a mais antiga em funcionamento no Brasil, percorre pontes e manguezais em meio à Mata Atlântica e liga as cidades de Antonina e Morretes.
Resgate da memória
Considerado um dos trajetos mais bonitos do País, se assemelha ao charme da Serra Gaúcha, que também oferece viagens em cidades como Gramado, Bento Gonçalves e Carlos Barbosa, no Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul. Apresentações artísticas locais, resgate da memória italiana e degustação de vinhos fazem parte dos principais passeios no Trem Caiçara.
Em São Paulo, o percurso entre Campinas e Jaguariúna é um dos mais conhecidos e, segundo Maurício Poli, diretor de eventos da linha e um dos voluntários da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF), um dos mais emocionantes. “Meu pai foi ferroviário, eu também queria ser, mas quando eu quis trabalhar com isso as coisas já estavam acabando”, diz.
Paixão pelos trilhos
Aos 52 anos, ele ajuda a divulgar a paixão pelos trilhos e se encarrega de manter os veículos funcionando a todo vapor. “Sempre queremos inovar nos passeios, para que as pessoas voltem. Não é uma viagem para fazer apenas uma vez na vida”, diz.
Ele mesmo entrou no negócio após um simples passeio como turista nos anos 2000, que o motivou a ingressar na associação. As viagens oferecem café da manhã personalizado, músicos e um sistema de som que narra destaques a serem vistos até a chegada na estação. Tudo isso a bordo de vagões que mantêm as características originais do passado, geralmente remontando à década de 1920.
“A nostalgia é o diferencial”
A Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), na capital paulista, oferece passeios turísticos para a vila de Paranapiacaba, no município de Santo André, e também para Mogi das Cruzes e Jundiaí. As viagens ocorrem nos finais de semana e partem da imponente Estação da Luz, no centro da cidade.
A rota acontece em reformados vagões dos anos 60, com funcionários vestidos a caráter, que também contam histórias a respeito das ferrovias paulistas. “A diferença para quem usa os trens da CPTM para trabalhar e se locomover na cidade ou para andar nos trens de passeio é imensa. A nostalgia é o diferencial”, explica Odair Farias, supervisor Geral de Estações da companhia e porta-voz do Expresso Turístico.
Ele explica ainda que um dos passeios mais procurados pelos turistas é o que tem como destino Paranapiacaba. A pequena vila é um mergulho na história ferroviária de São Paulo. Foi ali que os imigrantes ingleses se instalaram no fim do século 19 para a construção da primeira ferrovia paulista.
Inspira os passageiros
A arquitetura inglesa da região, que já se candidatou a Patrimônio Mundial da Humanidade, inspira os passageiros que chegam para passar o dia. Lá, é possível conhecer as diversas atrações culturais e ecológicas, como o Museu do Castelinho, o Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba e a Casa da Memória.
O maquinário do Relógio da Estação Alto da Serra é imponente e tira suspiros dos saudosistas. O passeio de trem até o local sai todo domingo às 8:30 e dura 90 minutos, atravessando parte do que resta da vegetação nativa da Serra do Mar e o retorno acontece no final da tarde. Para quem se interessou, será preciso paciência. Com a demanda alta, é preciso enfrentar uma fila de espera que pode durar até dois meses.
Com informações: Istoé
Edição: Josy Gomes Murta
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