Estudo da UFPB mostra que rostos femininos são vistos como mais confiáveis que os masculinos

Gênero e expressões faciais de executivas podem influenciar o valor de auditoria

Estudo da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) mostra que executivas com feição alegre parecem mais confiáveis. De acordo com a pesquisa, gênero e expressões faciais podem influenciar o valor cobrado por uma auditoria, que é uma análise sistemática das atividades desenvolvidas em uma determinada organização, a fim de verificar se estão de acordo com as planejadas e em conformidade com as normas legais.

Para analisar as métricas de confiabilidade facial, foi desenvolvido um detector facial baseado em machine learning (aprendizado de máquina), com o intuito de identificar as características faciais de 700 imagens de executivos e para reconhecer os 68 pontos de referências faciais das imagens coletadas, os chamados landmarks.

Os auditores independentes tendem a confiar mais em rostos femininos do que em rostos masculinos. Mesmo que estes rostos tenham uma métrica de aparência facial de não confiabilidade, ou seja, tenha medidas calculadas de uma face não confiável. Esses achados convergem com os da literatura, que indicaram que rostos femininos geralmente são vistos como mais confiáveis que rostos masculinos.

“De modo geral, nossos principais resultados sugerem que os auditores tendem a considerar a confiabilidade facial dos executivos em seus preços de auditoria, mais especificamente o gênero facial e a expressão facial”, afirma Wenner Lucena, professor do Departamento de Finanças e Contabilidade da UFPB e um dos autores do estudo, recentemente premiado na 22º USP International Conference in Accounting, evento realizado anualmente no Brasil, para debater temas emergentes nas áreas de contabilidade, controladoria e atuária.

Minuciosa investigação

Esses achados da pesquisa resultaram de uma minuciosa investigação acerca dos aspectos psicológicos que podem ser determinantes para que auditores independentes estabeleçam seus honorários. O trabalho fornece uma relevante contribuição para a literatura, uma vez que verifica que a confiabilidade facial é um fator importante que afeta as percepções dos indivíduos”, avalia o docente da UFPB.

Segundo Wenner Lucena, quando os auditores percebem mais riscos para a realização de uma auditoria em uma organização, podem entender que precisarão de mais tempo para sua execução, o que acarreta um aumento no valor dos honorários cobrados.

“Baseando-nos em estudos anteriores, averiguamos que os auditores estão propensos a alterar as suas decisões de estabelecimento dos honorários de auditoria ao julgarem a confiabilidade facial dos executivos com base em sua aparência facial”, reforça o professor da UFPB.

O estudo da UFPB é fundamentado na literatura da psicologia e da neurociência. A pesquisa começou a ser planejada e desenvolvida durante disciplina de Finanças Comportamentais, ministrada no âmbito do Programa de Pós-graduação em Ciências Contábeis da UFPB.

“Ao longo da disciplina, trabalhamos com o desenvolvimento de uma visão crítica sobre as finanças comportamentais, entendendo como os aspectos comportamentais podem influenciar no processo de tomada de decisão, bem como buscamos avaliar a importância da informação contábil nos diversos ambientes institucionais e organizacionais”, relata Wenner Lucena.

Evidências indicam

De acordo com ele, evidências indicam que uma sobrancelha interna angulada para cima, um rosto mais redondo e queixos mais largos são associados positivamente à percepção de confiabilidade. Em contrapartida, rostos com maiores distâncias entre o lábio e o nariz são menos prováveis de serem percebidas como confiáveis.

“Mesmo que as imagens dos executivos selecionados a partir das métricas faciais desenvolvidas na pesquisa tenham características faciais que possam levar às percepções de não confiabilidade, a maioria dos auditores não altera seus valores médios cobrados. Esse achado pode estar atrelado a dois fatores, o ceticismo profissional, previsto na norma, e o tempo de experiência na realização de auditorias, que pode levar a julgamentos mais corretos”, explica o professor da UFPB.

O valor do honorário de auditoria depende também de outros fatores, como tamanho da empresa, quantidade de horas em que o auditor irá trabalhar, se os mecanismos de controles internos da empresa a ser auditada são bons ou ruins, equipe da auditoria que irá realizar o trabalho, dentre outros.

Detector facial

As imagens foram coletadas principalmente do banco de imagens iStok. O único critério utilizado para a seleção foi indicar no filtro do banco de imagens aquelas de executivos. “Desse modo, fomos salvando as imagens para rodar no programa desenvolvido, a fim de investigar se apresentavam características de aparência facial confiável ou não”, explica o Prof. Wenner Lucena.

A programação da detecção facial foi projetada para identificar um índice de aparência facial, ao integrar métricas de quatro características faciais individuais (sobrancelha, formato do rosto, queixo e buço), expressões faciais (alegria, raiva, tristeza, neutra) e gênero facial (feminino ou masculino). A métrica de aparência facial foi obtida por meio de um conjunto de medidas de confiabilidade facial, compreendendo ângulo do arco interno da sobrancelha, formato da face, largura do queixo e distância entre o nariz e o lábio.

Inicialmente, foi verificado, no estudo da UFPB, quais imagens eram entendidas como mais confiáveis pela programação e quais seriam menos confiáveis. Ao todo, foram selecionadas 141 imagens, resultando em 77 imagens que indicavam uma maior confiabilidade e 64 imagens de menor confiabilidade.

As 141 imagens foram previamente testadas por meio de um conjunto de quatro questionários enviados para pessoas diversas para validação externa das medidas de confiabilidade facial geradas por meio da programação, recebendo 120 respostas, sendo 30 respondentes em cada questionário.

Os avaliadores classificaram a confiabilidade facial em cada imagem apresentada indicando se sua primeira impressão era de que o executivo da imagem apresentada era “Confiável” ou “Não Confiável”, verificando, assim, se as métricas de confiabilidade facial desenvolvidas por meio da programação computacional eram iguais às percepções “reais” dos indivíduos. Foi somente a partir dos resultados encontrados na validação externa que se procedeu com a seleção manual das 12 imagens de executivos que fizeram parte do questionário aplicado junto aos auditores independentes para indicação de seus honorários de auditoria.

Critério estabelecido pelos pesquisadores

A seleção das imagens seguiu o critério estabelecido pelos pesquisadores, levando-se em consideração a diversidade de características faciais (aparência, gênero e expressão facial) e o comportamento dessas imagens a partir da validação externa.

Em seguida, foi enviado um questionário para auditores independentes do Brasil identificados por meio da rede social de negócios LinkedIn. Os auditores foram identificados por meio de filtros como “Auditor Junior”, “Auditor Sênior”, “Sócio de Auditoria”, “Associate” e “Auditor Manager”.

O trabalho contou com uma amostra final com 101 auditores independentes, compostos por profissionais das quatro principais empresas de auditoria, conhecidas como Big Four. São estas: Deloitte, KPMG, Ernst & Young (EY) e PricewaterhouseCoopers (PwC). Auditores de outras empresas de auditoria independente do Brasil também constaram na amostra final.

“Reitero que isto não significa que pessoas com a métrica indicada como características faciais confiáveis não possam ter ações não confiáveis no seu cotidiano e que pessoas com as faces medidas como sendo não confiável não sejam confiáveis na sua vida cotidiana. Essa métrica leva em consideração apenas as medidas faciais e as primeiras impressões que uma pessoa tem sobre a outra, baseado na literatura da psicologia e da neurociência”, esclarece o Prof. Wenner.

O estudo contou com parceria da professora Ana Carla de Carvalho Correia, do Instituto Federal de Alagoas (Ifal). Artigo com os resultados da pesquisa está sendo ajustado para publicação em periódico. Também são autoras do estudo as doutorandas Kalina Leite e Patrícia Castro.


Com informações: Ascom-UFPB


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