Ivan Antonio anuncia seu novo álbum musical: Aos Anjos
Por Josy Gomes Murta
O poeta, compositor, cantor, dramaturgo, diretor de teatro e cinema Ivan Antonio – pernambucano de Arcoverde – é o meu primeiro entrevistado [abrindo com chave de ouro a minha coluna] aqui no Conexão Boas Notícias. Numa entrevista exclusiva ele fala sobre os novos projetos do Teatro da Solidão Solidária e sobre a expectativa do lançamento do seu novo álbum, novo livro, a sua carreira, reflete sobre o grande segredo da vida e seus mistérios, superação e fala sobre o Festival Mundial de Cultura da Paz.
Josy Gomes Murta — Nasceste com os pés no Nordeste, mas abriste asas para o mundo através da arte. Bem o ano começou e tens vivido um ciclo muito produtivo com projetos que serão promovidos pelo Teatro da Solidão Solidária com destaque para o Festival Mundial de Cultura da Paz. Estás sempre em movimento – seja como poeta, dramaturgo, cineasta, compositor e cantor. Qual a fórmula para se multiplicar em tantos?
Ivan Antonio — O grande tesouro da vida é a partilha, quando você descobre isso, você transforma sua vida numa grande teia, numa grande rede e ao assumir-se como essa plataforma que pode doar e receber colo, nunca mais você estará sozinho e pode se metamorfosear em muitos.
Josy Gomes Murta — Então, o segredo do Ivan Antonio – Multiartista – é ser essa ponte?
Ivan Antonio — Sempre! Jamais seria ou faria o que faço se não tivesse tantos parceiros e parceiras, verdadeiros guardiões e guardiãs da minha passagem por esse planeta. Falo emocionado sobre isso, porque esses anjos que habitam essa teia se movem num caminho sagrado que se perpetua entre os meus antepassados e anjos de hoje, que generosamente se dispõem a conviver comigo nesta mesma existência, pisando o mesmo pedaço de chão respirando o mesmo sopro de vida terrestre.
Josy Gomes Murta — Em todas as tuas entrevistas abordas o mistério da existência humana com muita força. Tua obra perpassa por essa questão tanto no teatro, na poesia, como na música. O que te impulsiona a abordar esse tema com tanta frequência?
Ivan Antonio – O milagre da vida em todas as suas dimensões, os grandes encontros, as grandes partidas e os reencontros. Estamos todos nesta eterna transição. Acredito plenamente nisso e nessa transitoriedade. O milagre maior é o aparecimento desses anjos que surgem quando menos a gente espera, algumas pessoas os chamam de amigos, família, amores, parceiros eu os chamo de guardiães e guardiões. Tenho alguns que me seguem e eu os sigo de perto com eterno amor.
Josy Gomes Murta — Antes de falarmos sobre o lançamento do teu novo álbum – conta-me um pouco da tua jornada, sonhos e dos teus projetos nas áreas de poesia e teatro.
Ivan Antonio— Meu novo livro “Quase minha alma inteira” já está sendo encaminhado para editora e estamos decidindo dentro da minha agenda o melhor momento para lançá-lo, provavelmente no final do segundo semestre. É um livro lindo, em que copilei os melhores poemas dos meus dez livros anteriores e mais um punhado de poemas inéditos, é um livro em celebração aos meus trinta e cinco anos de poesia. Esse é o principal projeto literário, mas antes disso lanço um livro de bolso com micro poemas de amor (“Poemas de amor não doem”), e um outro com a primeira parte das minhas peças teatrais (“Das dores… As dores do palco”).
Ter uma editora que acredita no que escrevo faz parte desta minha jornada de sonhos realizados, uma editora que me cobra o próximo livro. Além de ser uma grande responsabilidade é uma dádiva. Na área de teatro, estamos ensaiando uma peça linda que fala sobre o tempo: “As meninas da pesada”. Aborda a velhice, nascimento, morte e renascimento, além de um espetáculo sobre Florbela Espanca (poeta Portuguesa), e um outro lindo que aborda o Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Josy Gomes Murta — E sobre o método de mediação de conflitos e inclusão social através da arte: o Teatro da Solidão Solidária – Quais os próximos projetos?
Ivan Antonio — Agora em maio estaremos realizando uma imersão de uma semana com professores e assistentes que já me acompanham há mais de quinze anos. Será uma semana incrível onde irei capacitar esses artistas e sagrados irmãos para serem professores do método, guardiões e guardiãs da nossa metodologia. A oficina será formada por esses professores e artistas que já me acompanham e que são meus assistentes durante esses anos todos e agora se tornarão professores do método Solidão Solidária, serão meus companheiros e companheiras de viagem pelo mundo pra espalharmos nosso sonho de partilha, amor à arte e a solidariedade humana. Esta vivência que acontecerá na Bahia (Fundação Terra Mirim e Fazenda São João) será o início de uma série de imersões pelo mundo. Após o Brasil seguirei para Portugal, Inglaterra e Japão para ministrar oficinas nesses países e preparar as imersões internacionais.
Josy Gomes Murta — Apenas os artistas do segmento teatral irão participar desta imersão?
Ivan Antonio – Não, será uma imersão que abrigará artistas de diversos segmentos da arte, obviamente que a formação dos multiplicadores do método Teatral Solidão Solidária será exclusiva para atores, diretores e professores de teatro, assistentes que já estudam comigo o método e me seguem há mais de 15 anos, mais a imersão vai além da formação da metodologia teatral.
Josy Gomes Murta — Em que aspecto pode ser incorporados artistas de outros segmentos da arte, nesta imersão?
Ivan Antonio – Além de ser um método teatral que utiliza o corpo e a voz do ator para evidenciar formas de combater a sua própria solidão e daqueles que o TSS acolhe, o Teatro da Solidão Solidária é uma filosofia, uma rede internacional de solidariedade, mediação de conflitos e cultura da paz – nos tornamos uma teia plural na sua essência, inicialmente pelo teatro por abrigar em seus exercícios, performances e espetáculos elementos de dança, capoeira, literatura, música, artes plásticas e artes visuais, mas esta imersão tem o objetivo de além da formação desta primeira turma de professores e assistentes – fortalecer e aprimorar essa grande teia inserindo os diversos pensadores da alma humana, sobretudo aqueles que se propõe a partilha, a solidariedade e aos pilares da cultura da paz.
Josy Gomes Murta — Este entrelaçamento vai proporcionar a oportunidade de avançar para uma nova jornada, qual a expectativa destes assistentes que irão participar desta primeira formação?
Ivan Antonio – Ansiedade, alguns destes artistas me acompanham desde a criação do método, portanto há mais de vinte e cinco anos e que agora estarão sendo formados para outras jornadas, estarão em alguns momentos sozinhos durante o voo enfrentando as grandes ventanias mas se foram escolhidos para este momento é que já estão prontos para voarem. Serão esses novos professores que estarão formando novos assistentes e que daqui há alguns anos junto a mim estarão formando novos professores como eu estou fazendo agora.
Josy Gomes Murta — A colheita nunca vem antes da semeadura. Para florescer e frutificar é necessário lançar a semente, e as sementes foram lançadas – Quais as sementes que brotarão desta imersão, além dos multiplicadores da pedagogia?
Ivan Antonio — Num futuro bem próximo estaremos produzindo livros, filmes, documentários, shows e outros grandes festivais além do que estaremos realizando este ano. Esta primeira imersão será realizada também com o objetivo de prepararmos além dos multiplicadores, preparamos futuros gestores para condução dos projetos nacionais e internacionais que vai além do fazer artístico por isso que a imersão prevê a participação de outros setores da cadeia produtiva da arte, profissionais da escrita de projetos, captadores, líderes comunitários e agentes públicos, advogados, etc. Para participar dos nossos futuros projetos é preciso estar inserido e ter consciência desta grande rede de fraternidade que vai além da arte.
Josy Gomes Murta – Como estão os preparativos para o Festival Mundial de Cultura da Paz?
Ivan Antonio – Nesta imersão, além da vivência artística e pedagógica, iremos também imergir na gestão da RIACSS (Rede Internacional de arte e cultura Solidão Solidária) e o FMCP (Festival Mundial de Cultura da Paz) será o primeiro ponto a discutirmos pra oficializarmos as datas do festival e as cidades. A cerimônia de lançamento do Festival será no dia cinco de junho na cidade de Camaçari. Escolhemos Camaçari e esta data para o lançamento porque essa data se tornou um dia muito especial para todos nós. A Câmara Municipal dos vereadores de Camaçari aprovou por unanimidade uma lei oficializando o dia 05 de junho como Dia municipal do TSS, e é também a cidade que eu moro e tanto amo, evidentemente. Salvador, São Paulo, Fortaleza e Crato serão as outras cidades que abrigarão as etapas do festival, São Paulo (porque é a nascente do TSS, lá foi criado o método na década de Noventa), e a cidade de Fortaleza por ter sido a primeira cidade após São Paulo a ter seu núcleo. O ano que vem o festival será realizado em dois países, em Portugal, na cidade de Lisboa onde temos o principal núcleo da Europa e a cidade de Goiânia onde a coordenação do TSS tem se destacado pelos seus trabalhos sociais e artísticos articulados com várias e importantes instituições da capital goiana.
Ivan Antônio – Início da sua carreira
Josy Gomes Murta – Conte-me um pouco como tudo começou. Quem te influenciou e de que forma foste atraído pelas artes?
Ivan Antonio – Venho de um rico berço artístico, meu avô por parte de mãe, Cícero Felix, tocava pífano, meus primos tocavam acordeon, minha mãe, meu pai e minhas tias tanto por parte de pai como de mãe cantavam nos corais das igrejas em Arcoverde, cidade do sertão pernambucano onde nasci, e se isso não bastasse meu tio por parte de pai, tio Germano tocava saxofone e clarinete. Cresci ouvindo e sendo influenciado por eles. Ouvia e absorvia a cultura popular nordestina assim como a música erudita me soava aos ouvidos como muito próxima.
A música, o teatro, a poesia sempre estiveram muito próximos de mim desde a infância, meu pai trabalhou num circo durante muito tempo, então enquanto minha tia me apresentava os grandes mestres eu tinha acesso através do meu pai as tragédias de Vicente Celestino como “O ébrio” e “Coração materno”.
Josy Gomes Murta – Um vasto leque de opções – tanto na música popular brasileira quanto erudita que obviamente contribuiu com a tua apreciação musical e escuta ativa. Afinal, o que mais gostavas de ouvir e que faz parte das tuas memórias, experiências e vivências musicais?
Ivan Antonio – Arcoverde é a terra do coco, da embolada e de grandes repentistas. Lembro que eu amava quando meu pai me levava aos sábados pra feira para ouvir os cordelistas contar as histórias de Lampião e Maria Bonita, aqueles homens de setenta, oitenta anos tocando pífano, os “cegos” tocando sanfona, então eu tinha uma [enciclopédia poética – musical a céu aberto] e ainda aqueles alto-falantes pendurados nos postes que davam as notícias da região e tocava os ídolos da época: Roberto Carlos, Evaldo Braga, Beatles, Os incríveis, Raul Seixas, adorava o grupo Secos e molhados…
Josy Gomes Murta – Em se tratando da música e dramaturgia vinda da Europa e de outras partes do mundo, como essa convivência acontecia?
Ivan Antonio – Acontecia sempre que meu tio vinha nos visitar e ensaiar o seu repertório clássico que muitas vezes as músicas já não eram mais novidades pra mim, porque tinha ouvido antes nas trilhas sonoras das peças que minha tia Josefa Valdevina encenava. [Minha tia era uma pérola], além de uma grande diretora de teatro era uma mulher à frente do seu tempo. Ela cantava em latim, e pasmem, na dramaturgia me apresentava a obra de Bertolt Brecht, João Cabral de Melo Neto, Constantin Stanislavski e as grandes tragédias de Sófocles, Eurípides, Ésquilo. Na música me apresentava além dos gigantes da música clássica como Tchaikovski, Johann Sebastian Bach, me ensinava a ouvir Luiz Gonzaga, Lupicínio Rodrigues, Adoniran Barbosa, Ludugero, Alaíde Costa, Frank Sinatra, Elvis Presley, Willian Nelson. Tudo isso contribuiu tanto para mim – como para a minha prima Lúcia Mendes, que é uma grande cantora pernambucana. Seguimos em frente e nos tornamos também artistas da música, ela com interprete e eu como compositor.
Josy Gomes Murta – Qual teu primeiro contato com a arte? Tua primeira paixão? Da época, o que guardas na memória?
Ivan Antonio – Bem, as vezes sou repetitivo quando eu falo de sonhos. A música foi o meu primeiro grande sonho. Tive contato com a arte inicialmente com a música, minha família é muito musical. Meus pais faleceram já bem idosos, ainda cantando nos corais, tanto da igreja católica, como num coral municipal que existe aqui na cidade de Camaçari. Meu pai faleceu ainda fazendo teatro. Tínhamos planejado fazer uma peça juntos, mas infelizmente não deu tempo. A música foi a minha primeira paixão. Em Arcoverde meus pais participavam de um grupo cultural fantástico, o grupo atuava com teatro, dança e música. Lembro do líder do grupo musical – um jovem muito talentoso chamado Vidal. Eu sempre assistia os ensaios e as apresentações, a banda era composta pelas famílias: Vidal, Vieira, Vicente, Vilany e Vilaney. Essa memória é tão forte na minha cabeça que depois de aproximadamente 50 anos ainda lembro dos nomes de cada um. Quando os via tocar eu enchia os olhos de lágrimas, eu queria aquilo pra mim!
Josy Gomes Murta – Na família, vivias cercado de música para todos os lados, mais tarde, porém, começaste a cantar profissionalmente. Qual o motivo?
Ivan Antonio – Tentei várias vezes enveredar pelo caminho da música, mas por causa de um bullying que eu sofri quando criança (que na época nem era esse nome), eu me recolhi. Um dia na escola comecei a cantar e uma professora me disse que eu era horrível cantando, me refugiei e guardei durante quase a minha vida inteira a minha tristeza de não poder cantar.
Josy Gomes Murta – Realmente muito triste tudo isso.. Lamentável! Afinal como conseguiste superar esse trauma?
Ivan Antonio – Aos cinquenta anos assistindo a um documentário sobre o compositor e cantor canadense Leonard Cohen, que tinha medo de subir ao palco – comecei a fazer terapia. Tenho TDAH (Transtorno do défict de atenção com hiperatividade). Durante a seção, a terapeuta me elogiou comentando sobre os vários segmentos da arte que eu exercia enquanto artista e perguntou se eu ainda tinha algum outro sonho em relação a arte, já que eu fazia tudo. Comecei a chorar compulsivamente e contei a ela do meu sonho de cantar, mas não conseguia, porque estava certo que cantar não era pra mim. Pra não me afastar da música por completo eu compunha, porque compor é um ato solitário e você pode compor sem ninguém ver. Ela me abraçou e disse que eu estava liberado da terapia, voltasse depois de um ano, o investimento que eu estava fazendo na terapia eu investisse num curso de canto e disse mais: “Você não canta! Sua alma canta! Siga a sua alma.”
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“Você não canta! Sua alma canta! Siga a sua alma.”
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Josy Gomes Murta – Seguiste a orientação da terapeuta? O que fizeste para avançar e emancipar-se musicalmente?
Ivan Antonio – Sempre falo sobre anjos porque eles estão presente na minha vida o tempo inteiro. Há muitos mestres na música em Camaçari, a cidade que moro e que me adotaram como filho, mas dois em especial me emanciparam musicalmente, Mestre Enoque e Teka O”Niell, (dois professores de canto extraordinários me libertaram do meu medo, com muita paciência me conduziram ao palco tanto para shows como para gravar o meu primeiro CD). As músicas eu já tinha, tenho mais de cem músicas e parceiros incríveis aqui no Brasil e em outros cantos do mundo como Ed Jones, Paulinho Boca de Cantor, Savillar, Fábio Moreno, Roberto Mendes, e aqui na cidade outros compositores e músicos geniais entre eles, Dvieira, Nadja Meireles, Regy FX, Djauá e outros que gentilmente me convidavam pra participar dos seus shows e isso aumentava a minha segurança no palco.
Josy Gomes Murta — Incrivelmente o sonho venceu o medo, a tristeza, as palavras negativas. Uma extraordinária superação. Mas, com tão pouco tempo cantando já te apresentaste em vários lugares do mundo e estás lançando o seu segundo Cd. Como isso aconteceu?
Ivan Antonio — Sempre tive grandes parceiros porque componho desde de adolescente. Quando lancei meu primeiro disco convidei dois deles para cantar comigo no lançamento: Del Feliz e Vander Lee. Após o show Del Feliz iniciou uma turnê pelo mundo lançando seu trabalho e me convidou para cantar com ele em Nova York juntamente com uma outra grande amiga a cantora e atriz Lucy Alves. O show no Estados Unidos foi um sucesso! Viajamos juntos depois para França e a Inglaterra onde nos apresentamos em Paris e em Londres. Depois não parei mais. Me apresentei com o Mestre Bule Bule em Barcelona na Espanha, Com o irmão, poeta, compositor e artista plástico CA CAU e Lirinha do Cordel do Fogo Encantado em São Paulo, João Netto e Pabllo Moreno em Recife. Gravei aos cinquenta anos, atualmente tenho cinquenta e oito. Oito anos de renascimento musical, shows, turnês e muita felicidade.
Josy Gomes Murta — Em meio a shows e turnês, tudo parou em consequência da pandemia. Como conseguiste lidar com o isolamento social.
Ivan Antonio — Eu estava com dois projetos musicais lindos: A turnê de divulgação do meu primeiro CD “Eu’s da fúria a ternura” e o show “Poetas em Concerto” com vários parceiros, aí veio a Pandemia da covid 19 e tivemos que parar tudo! Foi um momento bastante reflexivo. Meus pensamentos povoavam a minha mente e eu alimentava a minha esperança em dias melhores com as recordações, os bons momentos vividos. Relembrando o que me faz bem relembrar, como a alegria de receber no palco tantos amigos e parceiros queridos. Além de Vander Lee, recebi o poeta tropicalista José Carlos Capinam, o sambista Nelson Rufino, Raimundo Sodré, Edy Vox. Grandes momentos! Lembro de um dia eu estava assistindo o Olodum no Brasilian Day em Nova York e aquela multidão aplaudindo, afinal o grupo tinha virado uma estrela mundial da música após suas apresentações com o Michel Jackson e o Paul Simon. Sempre admirei o Elpídio Bastos, diretor musical do Olodum. Após o show fomos almoçar juntos e o convidei para meu show no Brasil e um tempo depois estávamos juntos no mesmo palco, no meu show. O universo é sempre muito generoso comigo, e com você, minha amiga Josy – tive uma das maiores alegrias do mundo, a seu convite – tive a felicidade e honra de ser recebido e recitar com o Pavarotti dos Sertões na minha apresentação em João Pessoa, o poeta, repentista, compositor e cantor Oliveira de Panelas, sempre foi e é um dos meus maiores ídolos, jamais esquecerei, e também momentos especiais ao lado do mestre Bule Bule, e do querido Lirinha do Cordel do fogo encantado – que também tive a honra de me apresentar com ele no SESC em São Paulo. Tão bom relembrar sonhos realizados, ajudar a realizar sonhos… Saiba que você realizou um sonho meu, estar no mesmo palco, ouvindo ao meu lado Oliveira de Panelas… Um gigante!
Josy Gomes Murta — Além das boas recordações, onde encontraste forças para seguir em frente e buscar inspiração para gravar um novo álbum?
Ivan Antonio — A pandemia da Covid 19 estacionou o mundo, e naquele momento eu tinha dois caminhos: Aquietar-me ou me reinventar, escolhi o reinvento, me lancei com toda a força ao meu ato solitário: compor. Minha alma faminta de música era alimentada com cada nova composição e foi assim que nasceu “Aos anjos”
Josy Gomes Murta — Para esse novo álbum, como foi o processo de escolha deste título: “Aos anjos”?
Ivan Antonio — disco anterior Eu’s da fúria a ternura eu já sentia uma impulsão, uma força motriz me lançando para o mistério do existir e de certa forma me buscar em outros cantos que eu ainda não conseguia me enxergar, e ao trilhar esses caminhos eu sempre sentia a presença solidária de uma energia que eu não me arriscava a decodificar. Com o passar do tempo percebi que eram eles. Eles estavam cada vez mais perto e eu tinha que celebrar essa presença e, “Aos anjos” veio como uma celebração a essa sagrada certeza, a essas sagradas companhias! Os anjos pra mim significam a generosa presença tanto dos que estão em outras dimensões como aqueles que me cercam em corpo físico, pra mim não há distância entre um e outro, a minha alma é uma casa sem paredes e eles estão em todas as partes, eu os sinto e os celebro.
Josy Gomes Murta — No teu disco anterior o repertório era explicitamente MPB – em que mesclavas canções românticas, reggae, rock, forró, e este novo disco traz um repertório para um público mais específico. Esse novo álbum, a quem direcionas a tua música?
Ivan Antonio – Direciono ao universo e ele sabiamente saberá o que fazer, confio plenamente nesses desígnios. Tenho assistido com muita felicidade as notícias do aparecimento de naves, objetos não identificados, óvnis que pra mim e para tantas outras pessoas há muitos anos já não são mais novidades, são eles, nossos irmãos e que sejam bem vindos! A canção que abre o disco chama-se: Aos anjos. Aguarde!
Josy Gomes Murta – Tempo… Tempo… Tempo… Onde encontras tempo para a criação de uma obra tão densa e o escoamento dessa produção?
Ivan Antonio– A pandemia me deu esse tempo, tempo do encontro comigo mesmo e com a presença mais definida dos meus anjos, Eu nunca encontro o tempo, eu me transformo no tempo, eu encontro o tempo em mim, o tempo é o templo dos grandes encontros, das buscas, das grandes jornadas e das grandes celebrações. Não creio no tempo dos relógios e das grandes máquinas, não há início, meio e fim o tempo é transitorial.
Josy Gomes Murta – Como selecionas o repertório, os músicos e os parceiros?
Ivan Antonio – Eu não seleciono nem os parceiros, nem as músicas, eles e elas descem. Tenho absoluta certeza que meu ato criador é sempre articulado com uma luz invisível e meus parceiros visibilizam essa luz e juntos eu os vejo como um grande clarão. Quando comecei a compor as primeiras músicas do disco, nos intervalos entre uma música e outra ao navegar pelas redes sociais conheci um músico chamado Alan Kardec Junior. Ouvi suas músicas como se ouve uma oração, fiquei impressionado com o seu compromisso com a música como algo que transcende a própria música. No início fiquei inibido em entrar em contato com ele. Alan Kardec é um desses músicos que não está a frente do seu tempo, ele é o tempo, ele é a música, ele pulsa isso. Finalmente tive coragem e enviei uma canção minha pra ele ouvir, e perguntei se ele poderia arranjá-la e quanto custava. Ele, no outro dia, generosamente me respondeu: Vou arranjá-la! Sua música é necessária ao planeta. Nos tornamos parceiros e meu novo disco está inteiramente sendo arranjado por ele, com exceção de duas músicas “As benzedeiras do Cariri” que terá o arranjo de João Neto e a Bailarina que contará com o arranjo de Matheus Varjão. Não teria um nome mais propício para meu novo trabalho que não fosse: Aos anjos. E eles aparecem sempre que preciso.
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“Sua música é necessária ao planeta.”
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Josy Gomes Murta – Sobre o processo criativo do teu novo álbum, o que tens a sublinhar? As músicas podem ser consideradas espiritualistas?
Ivan Antonio – É um disco de música popular brasileira sem fronteiras, ao tempo que me inclino para uma saudação aos seres que aqui estão convivendo fisicamente, dobro os meus joelhos para os invisíveis, sem notar diferença alguma entre um milagre que um opera em dimensões distantes e outro que perto de mim – me guia. Quando estava compondo “Alma viajante”, uma outra música desse novo álbum, eu lembro da presença constante de Matheus Varjão, um jovem músico que pacientemente me dava aulas de violão e sempre quando eu tinha alguma dúvida sobre quais notas eram mais adequadas para uma ou outra canção – ele as colocava no lugar que fosse mais saudável para se ouvir. Um dia desse eu liguei pra ele vir aqui na minha casa, estava com saudade dele e sentindo falta das suas preciosas aulas, ele se desculpou por não ter me avisado, mas tinha se mudado para São Paulo.
Naquele dia fui dormir refletindo sobre aquele jovem tão talentoso, tão amigo e tão generoso. Poderia ter partido antes… Se tivesse? Como teria ficado a música “A bailarina “ e “Alma viajante”? Como estariam soando aos tantos ouvidos se Matheus não tivesse me ensinado aquelas notas? São Anjos que aparecem, Universo que conciliam o tempo das chegadas e das partidas.
Josy Gomes Murta – Existe uma ruptura de um disco para o outro, ou existe um fio condutor entre os dois?
Ivan Antonio – Meu primeiro disco eu o vejo como um grande milagre, um sagrado parto. Tornava-se música eternizada em disco as minhas poesias, sonhara com isso, sempre! Vida inteira! Sagrados seres com as suas almas parteiras e curandeiras me acompanharam durante todo o processo, desde os primeiros parceiros aos arranjadores, técnicos e os músicos da banda… Foi assim durante as gravações, show de estreia e turnês. Logo de início recebi em minha casa durante duas semanas um dos mais importantes instrumentistas brasileiros e um querido irmão, João Netto que ao lado de outros amados amigos e extraordinários músicos, Nildo Rodrigues, Teka O”Niell e Velho Marlon arranjaram e dirigiram meu disco e os shows. João Netto acostumado a tocar com artistas como Dominguinhos, Alceu Valença, Gilberto Gil, Belchior e tantos outros emprestava o seu talento a um poeta que ousava realizar um sonho… A diferença entre um disco e outro é que o primeiro eu me lançava no voo e nesse eu sou o voo.
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“A diferença entre um disco e outro é que o primeiro eu me lançava no voo e nesse eu sou o voo.”
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Josy Gomes Murta – Como será e qual agenda de lançamento?
O disco será lançado música a música, quinzenalmente – a partir do mês que vem em todas as plataformas digitais com o show de lançamento ao vivo em junho. Um dos meus grandes parceiros é o CA CAU, e um dos meus faróis, que acabou de lançar um novo show e estamos estudando uma turnê juntos, deveremos fazer uma turnê por algumas cidades brasileiras e depois ir a Portugal em julho, e Japão em outubro com a cantora Kátia Iamazi e o maestro Laércio de Jesus.
Também vou me reunir com o Alan Kardec Filho, parceiro que além do divino trabalho como arranjador estará comigo nos meus shows e turnês dirigindo a banda e com Del Feliz que está fazendo a direção musical do disco. Provavelmente após este lançamento este será também um projeto do “Poetas em Concerto”, onde poderei receber vários parceiros e parceiras: Os Anjos!
Josy Gomes Murta
Jornalista e radialista paraibana. Dupla nacionalidade, brasileira e portuguesa. Pós- graduada em Práticas e Estudos Jornalísticos pela Escola Superior de Comunicação Social (Lisboa, Portugal). Tem vasta experiência na área de Comunicação. Foi correspondente internacional. Assessora de Imprensa, Mestre de Cerimônia e Palestrante.
Dama Comendadora da Comunicação – Cruz do Reconhecimento do Mérito da Comunicação – Cruz do Reconhecimento Social e Cultural (Câmara Brasileira de Cultura – Foz do Iguaçu-PR, 14/05/22 – Campina Grande-PB, 5/11/22).
Edição: Josy Gomes Murta
Tem anjos que nascem sem asas para virem em nós….andarem de pés descalços pelos caminhos de nuvens da arte… para melhorar a vida e dar amor…
Ivan nasceu com asas, mas as tirou para nos acompanhar em nossas caminhaduras..
Há braços..
Humberto Marambaia
Sabe quando a gente se sente a gente mesmo subindo ao pícaro da gloria? É assim que me sinto quando vejo, ouça, leio, algo sobre estre iluminado ser, saber que fomos parceiros de certa forma de uma mesmo batalha, me enobrece sobremaneira e me fa sentir que estou vivo. Poucas pessoas neste mundo, muito poucas mesmo, possui a área fraterna e de oa que este ser humano sem igual. Sinto muito orgulho de ser seu amigo, meu irmão. Voe e voe cada vez mais alto até alcançar o ilimitado céu do seu destino.
Parabéns primo
Seu álbum está belissimo ✨
Sucesso ✨
Uma pessoa grandiosa, um artista múltiplo! Uma alma nobre, cuja vida é cercada dos anjos! Assim é Ivan Antônio, esse brasileiro que atravessa os cantos do Brasil e do mundo para divulgar seu Teatro da Solidão Solidária, seus poemas, suas perfomances teatrais e musicais.
E eis ele, por inteiro, divino e maravilhoso, completo e inspirador, nessa belíssima entrevista de Josy Murta!
Gratidão por tantos aprendizados, tantas lições e emoções, queridos!
Infinitos (a) braços sempre nos unam!
Belas palavras! IMENSA GRATIDÃO! Abraços!