Especialistas apontam: escrever à mão desenvolve o cérebro
Computadores, smartphones, e gravações de áudios tomaram conta da rotina das pessoas. Hoje em dia, tudo é feito através dessas tecnologias. Expressamo-nos cada vez menos pela escrita. Precisamos retomar aos hábitos da antiquada caligrafia.
Pesquisadores vem estudando quais os impactos da falta de escrita manual no desenvolvimento do cérebro.
Segundo os cientistas da Noruega, as pessoas ao escreverem uma informação com a mão, lembram-se mais do assunto, do que se estivessem digitando. A escrita manual demanda esforço e concentração no cérebro, e por sua vez, favorecem ao processo de aprendizagem.
No artigo publicado este ano no “The Journal of Learning Disabilities”, pesquisadores contam que escrever à mão, formando letras, envolve a mente, e isso pode ajudar as crianças a prestar atenção à linguagem escrita.
A professora Larin James, da Universidade de Indiana, também vem estudando a ligação entre caligrafia e o cérebro, mais específico o infantil. E o que ela descobriu foi que depois que as crianças aprenderam a escrever à mão, os padrões de ativação do cérebro em resposta às letras mostraram mais ativação daquela rede de leitura, mesmo que as crianças ainda estivessem em um estágio muito inicial na caligrafia.
“As letras que elas produzem são muito bagunçadas e variáveis, e isso na verdade é bom para o modo como as crianças aprendem as coisas. Esse parece ser um dos grandes benefícios da escrita à mão”, salientou.
No ano passado, em um artigo no The Journal of Early Childhood Literacy, Laura Dinehart, professora da disciplina de Educação Infantil da Universidade Internacional da Flórida, discutiu várias possibilidades de associações entre boa caligrafia e desempenho acadêmico: crianças com boa escrita à mão são capazes de conseguir notas melhores porque seu trabalho é mais agradável para os professores lerem; as que têm dificuldades com a escrita podem achar que estão perdendo tempo escrevendo, e assim o conteúdo é prejudicado.
Laura explica: “Podemos realmente estimular o cérebro das crianças ao ajudá-las a formar letras com suas mãos? Em uma população de crianças pobres, as que possuíam boa coordenação motora fina antes mesmo do jardim da infância se deram melhor mais tarde na escola”.
A pesquisadora diz que fará mais pesquisas sobre a escrita nos anos pré-escolares e sobre as maneiras de ajudar crianças pequenas a desenvolver as habilidades que precisam para realizar “tarefas complexas” que requerem coordenação de processos cognitivos, motores e neuromusculares.
A professora de Psicologia Educacional da Universidade de Washington, Virginia Berninger, afirma: “Esse mito de que a caligrafia é apenas uma habilidade motora é simplesmente errado. Usamos as partes motoras do nosso cérebro, o planejamento motor, o controle motor, mas muito mais importante é a região do órgão onde o visual e a linguagem se unem, os giros fusiformes, onde os estímulos visuais realmente se tornam letras e palavras escritas”,
As pessoas precisam ver as letras “nos olhos da mente” para produzi-las na página, explica ela. A imagem do cérebro mostra que a ativação dessa região é diferente em crianças que têm problemas com a caligrafia.
Escaneamentos cerebrais funcionais de adultos mostram que uma rede cerebral característica é ativada quando eles leem, incluindo áreas que se relacionam com processos motores. Os cientistas inferiram que o processo cognitivo de ler pode estar conectado com o processo motor de formar letras.
Larin James, professora de Ciências Psicológicas e do Cérebro na Universidade de Indiana, escaneou o cérebro de crianças que ainda não sabiam caligrafia. “Seus cérebros não distinguiam as letras; elas respondiam às letras da mesma forma que respondiam a um triângulo”, conta ela.
Letra de forma – Letra cursiva
Virginia Berninger cita um estudo de 2015 que sugere que, começando por volta do quarto ano, as habilidades com a letra cursiva ofereciam vantagens tanto na ortografia quanto na composição, talvez porque as linhas que conectam as letras ajudem as crianças a conectar as letras formando palavras.
Benefícios
Os benefícios de escrever à mão são inúmeros, ainda que a praticidade da digitação seja uma tentação diária. No entanto, se você conseguir incluir pequenos hábitos na sua rotina, como manter uma agenda onde escreve as tarefas diárias, ou ainda carregar consigo um caderninho para anotar algo sempre que precisar ao invés de recorrer ao celular, já é um passo para praticar mais o cérebro, ajudando no seu desenvolvimento.
“Minha pesquisa global se concentra na maneira como o aprendizado e a interação com as palavras feitas com as próprias mãos têm um efeito realmente significativo em nossa cognição. E também como a caligrafia muda o funcionamento do cérebro e pode alterar seu desenvolvimento”, explica Larin James.
O que se vê nos dias de hoje é uma tendência enorme de descartar a escrita à mão, que tem se tornado uma habilidade, não tão essencial.
Retomemos ao hábito da antiga escrita, uma raridade. Mãos à obra!
Com informações: Hypeness / Gazeta do Povo
Edição: Josy Gomes Murta
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