Wesley D’Amico: arte da miniatura e da performance com fogo
Enquanto os olhos do rapaz passeiam pelas páginas da revista, um universo de possibilidades surge em sua mente. Naquele ano de 2004, aquela publicação despertava em Wesley D’Amico o entusiasmo de fazer coisas criativas.
A habilidade do mecânico, o método da fundição e a precisão do ourives. Com as funções que desenvolveu, o multiartista passou a pintar painéis, telas, a fazer esculturas em concreto e madeira, performances com fogo e quadros quase impossíveis de enxergar. Wesley D’Amico é autor da menor reprodução da bandeira do Brasil. A pintura tem apenas 0,7 milímetro.
Nascido em São Paulo, Wesley D’Amico mora na cidade de Mombuca, no interior do estado. “Tive que sujar as mãos de graxa, cortar lenha, derreter metais e fazer joias. Perguntam ‘o que essas profissões têm a ver com arte’ e respondo ‘tudo’. Precisei delas para fazer telas do tamanho de um alfinete, escultura de madeira usando motosserra, escultura de concreto, telas que não pegam fogo”, contou o artista ao Conexão Boas Notícias.
Enquanto trabalhava como lenhador junto com o pai, o paulista usava as sobras das madeiras para fazer móveis e o seu cartão de visita pirografado. “Eu tinha cartões iguais aos dos Flintstones. Até hoje, quem tem guarda a sete chaves”, afirmou.
Por encomenda, começou a criar quadros de madeira industrializada, móveis, flores, dragões, cavalos, beija-flor e a desenvolver arte em painéis. “O material que restava eu aproveitava o máximo, mas o que era pequeno demais tinha que jogar fora e queimar. Porém, um dia me deu um estalo e resolvi parar de queimar. Com os caquinhos montei esculturas, empilhando e colando um sobre o outro, formando esculturas super bacanas”, disse.
Quando as obras começaram a acumular, o artista reinventou o propósito de sua arte ao queimar suas telas e esculturas. Em vídeos e fotos o artista registra o que hoje é considerado uma performance. O álcool atiça as chamas que contornam a obra em um espetáculo de calor e beleza. Nesse processo, apenas um quadro resistiu ao fogo e se tornou um grande mistério.
Em constante estado de reinvenção, o paulista resolveu aplicar as técnicas aprendidas no curso de ouvires para criar uma espécie de micro-arte. A bandeira do Brasil foi o primeiro experimento do artista.
“Fiz a primeira e ficou magnífica com nove milímetros. Me desafiei a diminuir mais. Assim foi, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2 e chega. Era tão pequeno que não dava mais, um erro e a moldura tinha que fazer outra, a tela era tão pequena que ao respirar fazia um risco e perdia-se tudo”, contou. Foram quatro dias para concluir o quadro com 1,3 milímetro.
Mesmo com tanta criatividade, a arte de Wesley D’Amico ainda é pouco reconhecida. “Assim estou hoje, sendo um artista plástico com desafios de mercado, sem vender, sobrevivo da mecânica e uso o dinheiro da mecânica para conseguir manter a arte”, ressaltou.
Das obras geométricas e simbólicas até as esculturas, fotografias e miniaturas, o trabalho de Wesley D’Amico desperta olhares e instiga o próprio artista. “Minha vida é uma arte. Sou curioso e preciso saber porque estou vivo e fazer algo interessante com isso”, argumentou.
Fragmentos da arte de Wesley D’Amico
Contato
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Por Marcella Machado, da redação do Conexão Boas Notícias