NASA responde garoto de 9 anos que pediu para ser o ‘Protetor Planetário da Terra’

É sempre bom ouvir uma história inspiradora. E a história que vou contar é uma daquelas histórias cativantes que nos levam a pensar como algumas pequenas atitudes podem mudar o curso de uma vida. Conto aqui a história do pequeno Jack Davis, que no auge dos seus nove anos de idade, escreveu uma carta à NASA se oferecendo para ser “Oficial de Proteção Planetária”, vaga que a Agência Espacial Americana havia aberto recentemente. Em sua carta, o garoto escreveu a mão:

“Querida NASA,

Meu nome é Jack Davis e eu gostaria de me habilitar ao cargo de oficial de proteção planetária. Eu posso ter nove anos, mas eu acho que vou estar apto para o trabalho. Uma das razões é que a minha irmã diz que eu sou um alien.
Além disso, tenho visto quase todos os filmes espaciais e filmes alienígenas que eu posso ver. Também já vi o show Marvel Agentes da Shield e estou na espera de ver o filme Homens de Preto. Eu sou muito bom em vídeo games. Eu sou jovem, então eu posso aprender a pensar como um alienígena.

Atenciosamente,

Jack Davis
Guardião da Galáxia
Quarta série”

Foto: Reprodução

Podemos imaginar a quantidade de cartas que a NASA recebe diariamente e o quanto deve ser desgastante selecionar e responder cada uma. Acredito até que eles não respondem todas elas. Mas a carta deste garoto de nove anos foi respondida oficialmente pelo Diretor de Ciências Planetárias Jim Green. Sabe por que? Porque ele sabe exatamente qual o poder que algumas pequenas atitudes podem ter no futuro de uma criança.

Desde a segunda versão da série Cosmos, admiro e acompanho o cientista americano Neil deGrasse Tyson. Ele tem uma forma especial de transmitir a ciência e cativar adultos e crianças que se interessam pela ciência. É sem dúvida um grande cientista e um dos maiores divulgadores científicos da atualidade.

Cientista americano Neil deGrasse Tyson. Foto: Reprodução

Tyson sempre gostou de ciência, mas certamente sua vida mudou de fato quando em 1975, com apenas 17 anos, ele foi recebido pelo mais famoso cientista da época, nada menos do que Carl Sagan. Juntos passaram a tarde em uma universidade. Sagan, que foi o apresentador da primeira versão da série Cosmos, apresentava a Tyson um pouco do que é ser um cientista e nem imaginava que aquele garoto seguiria tão bem os seus passos.

Sagan assim como a grande maioria dos cientistas são conscientes da importância da propagação do conhecimento para a humanidade e sabem como algumas pequenas atitudes podem influenciar o futuro de uma pessoa. Sobre aquele dia, Tyson conta que já sabia que queria se tornar um cientista, mas naquela tarde ele aprendeu com Carl Sagan o tipo de pessoa que queria ser.

Carl Sagan. Foto: Reprodução

Desde que nasce, toda criança é movida por uma força incontrolável de aprender. Desde imitar as caretas e os gestos dos pais, até a compreender tudo aquilo que ocorre a sua volta. Já na infância, ela recebe uma série de estímulos contrários até mesmo dos pais, temendo os riscos que a criança pode correr por conta de sua curiosidade ou simplesmente porque é muito mais fácil cuidar de uma criança “quietinha”.

Por outro lado, quando devidamente estimulada, essa curiosidade pode transformar crianças de origem humilde em grandes cientistas como Neil deGrasse Tyson. Certamente por esse motivo, Jim Green fez questão de responder ao pequeno Jack Davis. O Diretor de Ciências Planetárias utilizou um papel timbrado da NASA e respondeu carinhosamente ao garoto:

“Querido Jack,

Ouvi dizer que você é um “Guardião da Galáxia” e que está interessado em ser um Oficial de Proteção Planetária da NASA. Isso é ótimo!

Nossa função de Oficial de Proteção Planetária é muito legal e é um trabalho muito importante. Trata-se de proteger a Terra de minúsculos micróbios quando nós trazemos para cá amostras da Lua, asteroides ou de Marte. Trata-se também da proteção de outros planetas e luas dos nossos germes enquanto exploramos o Sistema Solar.

Estamos sempre à procura de futuros brilhantes cientistas e engenheiros para nos ajudar, então eu espero que você estude muito e mande bem na escola. Nós esperamos vê-lo aqui na NASA um dia desses!

Atenciosamente,

Dr. James L. Green 
Diretor da Divisão de Ciências Planetárias”

Foto: Reprodução

Deve ter sido certamente uma grande emoção ter recebido uma carta com a resposta de um dos diretores da NASA. Mas eles foram além. Jonathan Rall, Diretor de Pesquisa Planetária ligou para o Davis e, por telefone, parabenizou o garoto por seu interesse na vaga.

Jonathan Rall, Diretor de Pesquisa Planetária. Foto: Reprodução

A NASA deu certamente um grande estímulo à curiosidade de Jack Davis, um enorme incentivo para seus estudos. Atitudes como essa podem mudar o futuro de nossas crianças. Mas esse incentivo pode e deve partir de cada um de nós. Desde o estímulo à curiosidade dos nossos filhos até os incentivos em sala de aula. Hoje vejo jovens e crianças escrevendo cartas apaixonadas para artistas e jogadores de futebol, mas por que não incentivarmos nossos filhos ou nossos alunos a escreverem uma carta para um cientista? Por que não tirarem suas dúvidas sobre o universo com Marcelo Gleiser? Ou falar sobre ciência na medicina com Miguel Nicolelis?

Esse tipo de estímulo, que é comum em países como os Estados Unidos, é importantíssimo para as crianças, porque as ensinam a não ter medo de perguntar e a não ter medo de aprender. E essas pessoas, podem ser uma excelente inspiração na vida de uma criança. Pode ser o incentivo que nossas crianças precisam para se tornarem pessoas melhores no futuro, não necessariamente cientistas, mas quem sabe, os Protetores Planetários da Terra.


Artigo publicado na Folha Patoense, 31/08/2017 – Reprodução autorizada pelo autor. 

 

Marcelo Zurita

APA – Associação Paraibana de Astronomia
BRAMON – Rede Brasileira de Observação de Meteoros
Asteroid Day Brasil – Coordenação Regional Nordeste

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