Do amor e outros motivos literários
O amor sempre foi um tema recorrente nas obras de poetas e escritores de todo mundo, ao longo dos tempos. O poeta e professor Carlos Gildemar Pontes não foge à regra. Neste sentido, quero falar, aqui, de três livros de sua autoria, sendo dois com foco no tema do amor: “Amor, verbo de se fazer” e “A essência filosófica do amor”, além de uma terceira obra que é fruto de sua dissertação de Mestrado defendida na UERN, em 2011.
Neste caso, Gildemar subverte a lógica augustiana do poema “Idealismo”, quando o vate paraibano sentenciava:
Pois Gildemar fala, sim. De amores fúteis, e outros úteis. Não foge ao tema em suas obras. E questiona: Quem mais amou: Romeu a Julieta ou Napoleão a Josephine? Tristão a Isolda ou Olga a Prestes? Afinal, entende Gildemar que o amor é desafio e solução para uma sociedade degenerada pela corrupção da ética e das formas mais elementares de integração social dos desfavorecidos.
É nesta toada, que Gildemar apresenta “A essência filosófica do amor”, um livro com fragmentos e reflexões sobre o tema. Aforismos como esse: “O ser humano é vaidoso, orgulhoso, medíocre e invejoso. Tem uns que são piores, mas aí devemos ter medo deles, porque eles matam. Salve um ser humano, dê-lhe Educação desde cedo. Se houver algum futuro, os que sobreviverem haverão de agradecer”. Ou este conselho: “Volte no tempo e não encontrará mais que solidão. Cultive um amigo, tenha tempo para o amor. Dos amigos não se precisa exigir nada, basta um sorriso, uma gentileza, uma atitude companheira e aí estarão selados os laços de uma solidariedade, nas bases de um amor sem fim”.
Para Gildemar, o amor é mais forte que a morte. “As pessoas são prisioneiras do medo e da raiva. Quando o amor vem libertar, alguns já estão mortos. Sentenciados pelo medo e pela apatia. O amor faz nascer a história, faz banir o medo e ser exemplo pelo tempo. Só o amor pode vencer a morte”, define.
“Amor, verbo de se fazer” é outra obra de Gildemar. O autor trabalha o tema do amor em poemas e cartas. Poemas como “Sonata do amor”, por exemplo:
só o amor
inversão do caos
nos redime do espelho do caos
só o amor nos salva
do catecismo de Apolo
só o amor, ventura dos mares,
sabe o caminho do cais
só o amor
sabe germinar
o ventre da aurora
Os amores do poeta são fartos. Amores pela sua Fortaleza, amores pelas suas filhas, amores pela sua poesia, amores à sua mãe e, também, amores da infância, como em “Aprendizagem”:
o pássaro que veio fazer seu ninho
no tamarineiro do fundo do meu quintal
me ensinou que o amor aos 9 anos
veio com muitas sardas
no pequenino rosto de Milena
Mas como nem só de amor vive o homem, Gildemar lançou, ainda, o livro “O anão e outros pobres diabos na literatura” considerado um estudo pioneiro na literatura brasileira. O autor reúne, neste livro, um amplo leque de informações históricas e teóricas, um conjunto de citações, paráfrases e alusões a autores e/ou a diversos períodos literários, vindo dos gregos aos dias atuais. Na obra, são comentados, autores como José Paulo Paes, Junito de Souza Brandão, Werner Jaeger, Joseph Campbell, Flávio Kothe, Victor Brombert, Victor Hugo, Wolfgang Kayser, Antonio Candido, Guy Debord, Edgar Allan Poe, Júlio Cortazar, Ricardo Piglia, Herman Lima e Hélio Pólvora.
Segundo o escritor Rinaldo de Fernandes, no prefácio à obra, o objeto de estudo de Carlos Gildemar são os contos do cearense Moreira Campos, que trazem anões como protagonistas. A figura do anão foi retratada por Moreira Campos sem concessões, com uma impiedade que imita a vida. “E o anão é aqui interpretado como um “pobre diabo rebaixado”, categoria que Carlos Gildemar adequou, admiravelmente, de uma outra, a do “pobre diabo”, proposta por José Paulo Paes, que, por sua vez, a tomou de uma preocupação de Mário de Andrade em pormenorizar o “personagem inferiorizado” em narrativas literárias”.
Seja na teoria de sua dissertação de mestrado, ou nos livros versando sobre o amor, o que fica mesmo é a sentença poética de Gildemar, em “O Ser e o Poema”:
O poema não pode
ser feito no liquidificador
como se fosse um rodopio
inicial de uma louca carrapeta
o poema deve ser sorvido
mastigado como um ruminar de boi
o poema é melodia, não música,
alvorada de pássaros
galocantando como se galos fossem.
Que o galo poético teça esta manhã de sol com a obra de Gildemar.
Linaldo Guedes
Jornalista e poeta. Nascido em Cajazeiras, no Sertão da Paraíba. Radicado em João Pessoa desde 1979. Como poeta, lançou os livros “Os zumbis também escutam blues e outros poemas” (A União/Texto Arte Editora, 1998), “Intervalo Lírico” (Editora Dinâmica, 2005), “Metáforas para um duelo no Sertão” (Editora Patuá, 2012) e “Tara e outros Otimismos” (Editora Patuá, 2016). Lançou, em 2015, “Receitas de como se tornar um bom escritor”, pela Chiado Editora, de Portugal.
Tem textos e poemas publicados em dezenas de livros lançados no Brasil, incluindo antologias. Sua produção literária e fortuna crítica podem ser acessadas nos seguintes blogues:
Site: https://conversandosobrelinaldoguedes.wordpress.com/