Clara Estrela: Documentário em primeira pessoa homenageia Clara Nunes

Quando a memória já não é humana, a máquina é o refúgio das histórias. Clara Nunes partiu há mais de 30 anos, mas em Clara Estrela, documentário de Susanna Lira e Rodrigo Alzugui, é a cantora mineira quem narra a sua própria trajetória.

O filme em primeira pessoa estreou no Festival do Rio no dia 9 deste mês, acompanhado de um protesto pacífico contra a intolerância religiosa, com público e direção vestidos de branco. De religião de matriz africana, Clara Nunes seria uma das primeiras a defender a bandeira do respeito aos credos.

No documentário, é a voz da cantora que guia o espectador pela sua história de vida e carreira. “Achamos que, primeiro, íamos dar voz a uma pessoa que morreu há três década, da forma mais próxima a que ela usaria para contar a própria história. Se alguns fatos [sobre sua vida] não estão no filme é porque ela não mencionou, então [não queria falar sobre isso], a gente não colocou. O resultado é bem poético”, explicou a diretora Susanna Lira .

Para montar o filme foi necessário um minucioso e concentrado trabalho de pesquisa de cerca de 20 anos. Clara Estrela traz cenas inéditas, como a apresentação da cantora na Suécia, na década de 1970 e outras passagens reveladas através de entrevistas como a do programa de TV comandado pela apresentadora Marília Gabriela, onde conta que não expõe sua vida particular na mídia e que não gosta de ter a intimidade devassada.

Em certos momentos Clara Nunes silencia. Nesses trechos é a narração da atriz Dira Paes que reproduz declarações da artista a jornais e revistas. “Clara representava essa mulher que vinha do interior para a cidade grande, o que é o caso da própria Dira, que tem uma trajetória semelhante, por ter vindo do Pará”, justificou.

Foto: Reprodução

Além da identidade do Brasil e a liberdade religiosa, o protagonismo da mulher também era tema das entrevistas. “Eu comecei a trabalhar aos 13 anos de idade, então acho que é muito importante a mulher trabalhar, eu acho fundamental na vida da mulher ela ter uma profissão. (…) E eu sempre digo que eu continuo operária, eu sou operária da música popular brasileira”, comentava a cantora que foi a primeira mulher a vender mais de cem mil cópias de um disco no Brasil.

Entre clipes, apresentações musicais na televisão e entrevistas, o documentário em ordem cronológica parte de Paraopeba (MG), cidade natal da cantora onde viveu uma infância pobre, marcada pela presença do pai, conhecido como Mané Serrador, até a chegada de Clara Nunes na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Em terrras cariocas, canta na noite, cria uma imagem afro-brasileira, faz parcerias com artistas como João Nogueira, Candeia, Martinho da Vila e Vinicius de Moraes, e se torna umas maiores cantoras brasileiras.

Foto: Reprodução

“Ela representa o caldeirão mestiço brasileiro e cantou as alegrias e tristezas desse povo que tanto a amava. Também assumiu um posicionamento de fé muito raro naquela época e quebrou muitos padrões. Ela é doçura e força na mesma pessoa. Foi uma menina do interior de Minas que saiu de lá e lutou muito para ser a primeira mulher a ter recorde de vendagens de discos no Brasil. Clara está, até hoje, eternizada em nossa memória”, afirma Susanna Lira.

O filme sobre a cantora de sucessos como ‘Morena de Angola’, ‘Canto Das Três Raças’, ‘O Mar Serenou’, ‘Conto de Areia’, deve chegar ao circuito comercial no primeiro semestre de 2018.

Trailer de Clara Estrela



Com informações: R7 / O Globo / Agência Brasil / G1

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