A Terceirização da Infância
Por Livia Marques
A vida está cada vez mais corrida. Temos que trabalhar para arcar com as despesas, com a escola, com o curso de inglês, com aquele jogo que queremos dar ao nosso filho e aquela viagem que estamos planejando a algum tempo. Em meio a tantas tarefas, como está sendo o tempo que destinamos aos nossos filhos ou como estamos presentes na vida deles?
Na infância criamos a base de confiança e da participação de qualidade na vida de nossos filhos. É dever dos pais ensinar os limites, regras e ajudar no desenvolvimento das principais habilidades sociais e emocionais dessa criança.
Porém, quando os pais estão no limite de suas tarefas ou do seu tempo, os filhos correm o risco de passar pela terceirização da infância. Significa deixar que outra pessoa – avós, tios, babás e/ou a escola – cuide, eduque, leve para passear ou até mesmo faça coisas simples, como, por exemplo, olhar nos olhos das crianças e adolescentes quando se conversa. Ou seja, os pais deixam que essa outra pessoa seja o referencial único para ele.
Os pais são os espelhos das crianças e adolescentes. É preciso mostrá-los que trabalhar é importante. No entanto, quando decidirmos ter uma família com filhos e cuidar deles, devemos cumprir com isso. Toda criança ou adolescente necessita conversar e escutar. Precisa ter a validação da fala e atitudes. Mas não significa que os pais devam aceitar tudo como forma de compensar a ausência.
Quando falamos de terceirizar a infância ou a adolescência, falamos da falta de participação destes responsáveis na vida escolar, por exemplo. Atualmente é mais comum as crianças ficarem e passarem a maior parte do tempo com os avós ou babá. Estes que acabam sabendo sobre como a criança foi na escola, notas, desenvolvimento social com os colegas entre outros assuntos.
As babás são cuidadoras e não devem fazer o papel do pai e da mãe. E os avós, será que devem fazer papel de pais? Devem educar? Alguns atuam desta forma em parceria com os pais. Mas os pais não devem dar esta responsabilidade a eles. Da mesma forma, eles não devem pegar esta responsabilidade, quando os pais estão vivos. Eles auxiliam nos cuidados, num momento em que os pais precisam, mas não são os responsáveis pela educação. São um apoio. Por isso, não se pode confundir os papéis.
Além do apoio dos avós e babás, temos algumas ferramentas tecnológicas. Uma já velha conhecida é a “babá TV”. Hoje, muitos complementam a atenção das crianças com a TV, internet, vídeo game ou celulares. É só observar os almoços de família. Como esses aparatos eletrônicos tomam o lugar e atenção.
Eu entendo que o ritmo hoje é acelerado. Sou mãe de duas crianças, dona de casa, psicóloga, filha, mãe, escritora, professora universitária entre outras funções. Sim, precisamos realmente trabalhar e termos nossa vida. Mas se decidimos ter filhos, precisamos realmente dar atenção de qualidade e não quantidade sem qualidade.
Educar é difícil. Mas terceirizar pode ser um ponto negativo nesta jornada. Vamos pensar e refletir de forma que possamos ser mais presentes. Oferecer qualidade e participação.
Livia Marques
Psicóloga CRP 05/37353
Psicóloga Clínica e Organizacional
Sócia Diretora do Psigente
Palestrante e Professora das Faculdades São José