Abhay K: poeta reúne em antologia 100 poemas de 28 línguas oficiais da Índia
O que poderia haver em comum entre a poesia de Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade e Castro Alves com a poética da Índia, no continente asiático? Para o poeta indiano Abhay Kumar, alguns textos desses autores mesclam o misticismo oriental, característico daquela cultura e a materialidade ocidental.
Diplomata encarregado de negócios da Embaixada da Índia em Brasília, Abhay K. é o organizador de uma antologia intitulada de ‘100 Grandes Poemas da Índia’, em 28 idiomas oficiais. A obra, lançada na edição especial da revista de tradução da Universidade de São Paulo (USP) deste ano é resultado de uma pesquisa em textos de escritas indianas de mais de 3 mil anos.
“Eu li durante muitos anos antologias em busca de poemas que pudessem mudar a vida das pessoas. E, para mim, também foram instantes de êxtase e de transformação entrar em contato com esses poemas. Li todas as antologias de poemas da Índia. Foi um trabalho longo e uma experiência rica selecionar esses versos”, conta.
Tudo começou em 2013, em uma livraria em Gangtok, a capital do estado de Sikkim, no nordeste da Índia. Na loja, o diplomata comprou todos os livros de poesia à venda. O arquivo ainda cresceria mais com as sugestões como as do poeta e tradutor irlandês Gabriel Rosenstock. Em 2016, após reler as obras, Abhay K. selecionou os textos que mais o tocavam. Uma grande equipe de tradutores foi mobilizada como John Milton, Luci Collin, Divanize Carboneiri, Claudia Martins, Vitor Alevato de Amaral, Virna Teixera, Joana Mascarenhas, Giselle Wolkoff, entre outros.
Em um país diversificado social e linguisticamente, representar a poesia indiana, contemporânea, medieval ou antiga, foi um desafio para Abhay K. e exigiu uma percepção mais apurada no que diz respeito as dinâmicas de classe, casta e gênero, assim como nos assuntos abordados. “Essas 28 línguas são de culturas muito diferentes. Têm raízes europeias ou tradicionais da Índia. Vai dos vedas até Tagore. Os temas são filosofia, erotismo, amor, questões políticas e sociais, problemas que atingem a Índia como um todo”, explicou.
Na leitura de poetas brasileiros, Abhay K. encontrou traços semelhantes com o da cultura indiana. “Nós podemos perceber claramente esses aspectos no poema José, de Carlos Drummond de Andrade. É um poema construído a partir de situações cotidianas bastante triviais, mas, ao mesmo tempo, é metafísico. E agora, José, depois de ter vivido tudo, o que fazer? É uma questão muito existencial, transcendente. O poema Motivo da rosa, de Cecília Meireles, é outro exemplo. A dor na poesia de Castro Alves tem conexão muito forte com o período de opressão que a Índia sofreu no tempo da colonização”, observa.
Criador da letra do Hino da Terra, reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), Abhay K. é autor de livros como The Seduction of Delhi e editor de CAPITALS, uma antologia poética que reúne textos de 185 capitais do mundo.
“Até agora, temos 100 Grandes Poemas da Índia traduzidos em irlandês e português. As traduções em alemão, grego e espanhol estão em andamento. Então, o que acontece é que estou levando a poesia indiana ao mundo depois de ter trazido poemas de todo o mundo para a Índia”, comemora o poeta indiano.
Com informações: Correio Braziliense / Brasil in Foco / Escamandro