Bienal de Arte de Veneza: a Alemanha foi a grande estrela da premiação
Debaixo dos pés do público, os artistas se arrastam sob o vidro. Lutam contra o poder, a sexualidade e a obsessão pela tecnologia diante de simbólicos cães da raça doberman em estado de guarda. A imagem perturbadora rendeu a artista alemã Anne Imhof o Leão de Ouro na Bienal de Arte de Veneza.
A performance intitulada “Fausto” é inspirada na obra de Goethe, publicada pela primeira vez em 1808. Na instalação, os visitantes caminham sob os artistas vestidos de preto presos em jaulas simbólicas de vidro nas quais se retorcem.
A Alemanha foi a grande estrela da premiação realizada no último sábado (13). Além da estatueta de Melhor Participação Nacional pelo pavilhão assinado por Anne Imhof, o país também venceu na categoria de melhor artista, com Franz Erhard Walther.
O espanhol Manuel Borja-Villel, presidente do júri, elogiou a obra de uma das mais renomadas artistas da contemporaneidade. “Poderosa e inquietante instalação, que traz à tona muitos questionamentos sobre o nosso tempo”, declarou.
Artista mineira também é premiada
Um piso gradeado típico de metrô, um conjunto de esculturas e um vídeo representando um naufrágio feito em parceria com o cineasta Tiago Mata Machado. O trabalho da artista mineira Cinthia Marcelle no pavilhão do Brasil foi agraciado com uma menção especial por participação Nacional na Bienal de Veneza.
A instalação recebeu o nome de “Chão de caça”. Cinthia Marcelle explicou o sentido da obra. “É como se a ideia de nação estivesse naufragada. E um bando de entidades, os últimos sobreviventes, estão tentando se estabelecer, resistir, persistir”.
O oposto brasileiro
Um espaço de meditação e zona de encontro. A instalação do brasileiro Ernesto Neto é inspirada no povo Huni Kuin. O artista recriou com uma enorme malha tecida por crochê o ambiente onde os indígenas da região do Acre se reúnem para conversar e pensar.
Ernesto Neto levou um grupo de seis indígenas para realizar a performance da dança da jiboia na Bienal de Veneza. “Estou aqui trazendo a força da arte, e os índios estão trazendo a força da floresta. A arte deles é para trazer força e conexão, porque o sagrado para eles está em todo lugar, nas coisas vivas. Eles são todos artistas”, explicou o brasileiro.
Além de Neto, outros latino-americanos também são destaques na Bienal de Veneza como a argentina Lilian Porter, o mexicano Gabriel Orozco, o chileno Juan Downey (já falecido), a cubana Zilia Sánchez e o colombiano Marcos Avila-Forero.
“Viva Arte Viva”
A 57ª edição da Bienal de Arte de Veneza, aberta ao público no sábado (13), reúne 120 artistas convidados de mais de 50 países. As exposições podem ser visitadas até 26 de novembro, nos complexos do Giardini e Arsenale, em Veneza, na Itália.
Essa edição tem como proposta explorar e celebrar a energia particular, positiva, emergente e inovadora emanadas do mundo dos artistas. “Viva Arte Viva” foi o lema escolhido para a Bienal desse ano. “O ato artístico é contemporaneamente um ato de resistência, de libertação e de generosidade”, resumiu a diretora artística da bienal, a francesa Christine Macel.
A artista estadunidense Carolee Schneemann também foi premiada com o Leão de Ouro por sua trajetória artística. Schneemann é considerada um ícone do feminismo dos anos 1970 e da body-art. A artista usa o próprio corpo como material para suas performances.
Outra novidade da Bienal desse ano é a presença de um número maior de mulheres artistas e a integração de países que participam pela primeira vez do evento como Antigua e Barbuda, Kiribati, Nigéria e Cazaquistão.
O júri do Leão de Ouro deste ano foi presidido por Manuel J. Borja-Villel (Espanha) e também contou com Francesca Alfano Miglietti (Itália), Amy Cheng (Taiwan), Ntone Edjabe (Camarões) e Mark Godfrey (Reino Unido) na comissão.
Com informações: O Globo / G1 / Folha de São Paulo / Labiennale