Casa do Jongo da Serrinha: tradição da cultura africana no Brasil
Do bater do tambor ao choque das palmas. Um bailar de pés firmes no chão e rodopios com o corpo. No meio do povo, Pretinho da Serrinha, Nélson Sargento, Zé Luiz do Império, Velha Guarda do Império Serrano, Dorina e Paulão Sete Cordas são majestades na reabertura da Casa do Jongo, no pé do Morro da Serrinha, no bairro de Madureira, zona norte do Rio de Janeiro.
O prédio é mais que um espaço, é um ambiente de resistência e valorização da tradição da cultura africana. No local, crianças e adolescentes tem aulas de dança, capoeira, percussão afro e de samba, inglês, reforço escolar, teatro e recreação. A Casa havia sido fechada em dezembro do ano passado por falta de recursos, mas no sábado (31), depois que uma vaquinha virtual mobilizou uma rede de solidariedade na internet o som voltou a ecoar.
A maior parte das contribuições partiram da ONG americana Rise Up & Care. Com o dinheiro arrecadado o ambiente tem condições para funcionar pelos próximos seis meses. “Mas acho que teremos apoio para ir além disso. A mobilização foi muito grande”, conta Dyonne Boy, coordenadora executiva do Jongo da Serrinha. “A reabertura da Casa do Jongo da Serrinha representa a união e a força da cultura popular”, afirma a coordenadora artística, Lazir Sinval.
Desde 2005, o Jongo é reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A Casa do Jongo surgiu dez anos depois, mas a história dessa manifestação cultural que mescla dança e batuque de tambores tem início no Brasil com os negros bantus escravizados que vieram do Congo e de Angola para o país.
Levados para as fazendas de café do Vale do Rio Paraíba, no interior dos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, o jogo era a única manifestação artística, cultural e religiosa permitida. Quando libertos, instalados no Morro da Serrinha, levaram a dança para o local.
Com o passar dos anos, a tradição que perdia força foi recuperada por personalidades como o Mestre Darcy, Vó Maria Joana e Tia Maria. Aos 97 anos, a moradora da comunidade, filha e neta de negros escravizados, vestida com a blusa que a nomeia, “Tia Maria do Jongo” é uma daquelas que ajudou a criar o Grupo de Jongo da Serrinha.
Em 2000, o grupo foi transformado em Organização Não Governamental (ONG), tempos depois em associação até ser criada a Escola de Jongo. “Ver uma dessas crianças pegando um violão para tocar é de uma alegria sem tamanho. Tudo que a gente faz aqui é para o bem, pensando nelas”, comenta Tia Maria.
Reabertura da Casa do Jongo da Serrinha
Com informações: Agência Brasil / Jornal do Brasil / O Globo