Comunidades negras da Amazônia são retratadas em exposição fotográfica

A lente da câmera da fotógrafa Marcela Bonfim parece um raio-x. A imagem não é só da pessoa, mas da essência dos personagens de uma Amazônia que se reconhece negra. Em 55 imagens, a paulistana apresenta um trabalho de quatro anos na região da floresta. A exposição com as fotografias está aberta na Caixa Cultural, na Praça da Sé, no centro de São Paulo.

Marcela Bonfim mora em Rondônia há sete anos. A partir de 2013 passou a visitar comunidades quilombolas, tradicionais, indígenas e urbanas, além de terreiros e festejos religiosos na região do Vale do Guaporé (RO). Intitulada de “(Re) Conhecendo a Amazônia Negra”, a exposição ainda traz imagens do Mato Grosso (MT), Maranhão (MA) e Pará (PA).

”Leveza”. Menino ribeirinho de Nazaré. Foto: Marcela Bonfim

A investigação, além de dar visibilidade as populações locais também foi um processo de descoberta da própria trajetória de vida da fotógrafa. “É uma pesquisa de vida mesmo. Ela vem da observação, da sensação, do sentimento, do estranhamento, da crise. É um projeto em que trabalho com o existencial. Ele não tem um compromisso com a academia”, conta Marcela.

Formada em Economia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), foi para Rondânia na busca do primeiro emprego. A fotografia surgiu no caminho de forma quase acidental. Com uma câmera “simples”, sem uma proposta definida, mas com uma afinidade intuitiva com o tema começou a viajar pela região.

“Chapéu de pai”. Jesus Johnson, descendente de imigrantes barbadianos do período da Madeira-Mamoré, em Rondônia. Foto: Marcela Bonfim

“Comecei a me interessar, a perguntar e a buscar. Aí eu descobri o fluxo da borracha, do ouro, que [os imigrantes] vieram majoritariamente do Maranhão, do Pará e do Nordeste”, diz

O trabalho também possibilitou a ressignificação da existência da fotógrafa enquanto mulher negra e a identificar as marcas do racismo na sua própria história. “Não fui diferente de nenhum negro com um pouco mais de acesso aos meios de comunicação, nesse processo, embranqueci e endureci”, relembra.

“Salve Ursula”. Matricarca barbadiana de Porto Velho. Foto: Marcela Bonfim

Na apuração das imagens, a beleza dos fotografados foram desconstruindo e recuperando a essência da economista. “Tem umas imagens que eu acho que são a minha cara, a cara da minha mãe, do meu pai. Então, tem todo esse processo correndo ao redor dessa exposição”, conta.

Nesse percusso, Marcela Bonfim entrou contato com os barbadianos, descendentes dos trabalhadores que vieram do Caribe entre 1873 e 1912 para construir a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré e ainda com imigrantes haitianos, além de ter conhecido a Festa do Divino Pimenteiras, uma celebração de 123 anos que acontece em povoados entre o Brasil e a Bolívia.

Davi, do quilombo da comunidade de Manival, no Maranhão. Foto: Marcela Bonfim

A exposição segue aberta até 17 de dezembro. No dia 11 de novembro, haverá o lançamento do catálogo e um bate-papo com a fotógrafa. O patrocínio do evento é da Caixa Econômica Federal, com visitação gratuita e classificação livre.

Serviço

Exposição (Re)Conhecendo a Amazônia Negra

Local: Caixa Cultural São Paulo, Praça da Sé, nº 111, Centro  –  São Paulo (SP)

Visitação: de 7 de outubro a 17 de dezembro (terça-feira a domingo)

Horário: 9h às 19h

Lançamento do catálogo e bate-papo com a fotógrafa Marcela Bonfim

Dia e horário: 11 de novembro, sábado, às 11h

Contato

Site: https://www.amazonianegra.com/re-conhecimento

Facebook: https://www.facebook.com/AmazoniaNegra/


Com informações: Agência Brasil / Portal Geledés / Bravo!

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