Conheça a história do Porteiro de Ipanema que virou proprietário de apartamento e síndico do prédio

Manoel Firmino do Nascimento, de 61 anos. O paraibano de Campina Grande ficou conhecido nos últimos dias, nas redes sociais, pela incrível história de vida e superação.

Mosquito, ou Muriçoca, porteiro por 34 anos de um prédio em Ipanema, no Rio de Janeiro (RJ), comprou um apartamento no local e se tornou síndico há três semanas. 

No volante de um Chevrolet Kadett de 1997 rodando pela Zona Sul do Rio, Manoel Firmino passa despercebido. O  ex-porteiro não perdeu sua humildade e o compromisso de trabalhar com honestidade. Porém, as conquistas vieram acompanhadas de alguns olhares desconfiados. O Paraibano enfrentou preconceito entre moradores do edifício

Há cerca de 40 anos Manoel Firmino chegou a Cidade Maravilhosa e logo seguiu em busca de um emprego no ramo de construção civil. Entre um trabalho aqui e outro acolá ele conheceu Roberto, um segundo pai para ele — carinhosamente chamado sempre de “doutor”.

Muitos sonhos

Antes de vir para o Rio não terminou a escola, trabalhava na roça. Mesmo assim, o garoto tinha muitos sonhos de vencer na vida. Chegando no Rio ele foi orientado a fazer o curso de bombeiro hidráulico. Na época contou com a ajuda do doutor Roberto, que pagou todos os custos para que o jovem pudesse se capacitar. 

Mosquito trabalhou na mesma equipe de obras por nove anos, quando começou a trabalhar na construção do prédio de número 81, na Rua Nascimento Silva, em Ipanema. Ele não sabia na época, mas o edifício, que viria a se chamar Princesa Christrana, viraria o lar da família anos depois.

Com o término das obras, Manoel foi chamado para ser porteiro e teve a promessa de poder fazer obras “por fora”. E assim ele continuou por 34 anos na função. Os moradores mudaram, novos síndicos foram eleitos ano a ano e Mosquito permanecera por grande parte do tempo morando num apartamento no playground e juntando dinheiro.

“Aproveitei para economizar tudo que era possível. Investi na educação das minhas duas filhas ‘Angélica, 24 anos, está encerrando o curso de Direito na Unigranrio e Andressa, 20, passou para Nutrição na Unirio’. Não pude terminar a escola e jamais imaginei que minhas filhas teriam oportunidade de ir para faculdade”, conta.

O apartamento de porteiro, na realidade, era maior que o atual — que tem sala, cozinha, três banheiros e dois quartos. Com Manoel moram as duas filhas e a mulher, Angela.

“Ele é meu espelho. Serve de inspiração diária”, comenta Andressa, a filha mais nova.

Manoel Firmino do Nascimento é exemplo de superação. Foto: Antonio Scorza | Agência O Globo

Há nove anos o paraibano decidiu mudar de vida. O apartamento 803 ficou à venda e, após algumas semanas de negociação, Manoel arrematou a compra por R$ 420 mil (hoje estimado por ele em R$ 1,5 milhão). Era a realização de algo que ele sequer sonhava ser possível, e para isso usou toda a reserva financeira. As economias que iniciaram com um salário de cerca de dois salários mínimos, deram frutos.

“Manoel chegou de surpresa na assembleia, sem que ninguém soubesse que ele tinha comprado um apartamento. Foi um momento muito legal, ele merece demais”, conta Patrícia Lelal, moradora do Princesa Christrana. 

De porteiro a síndico

Manoel diariamente ouvia de alguns condôminos palavras carregadas de desconfiança e preconceito: Como um porteiro, nordestino e que vive de bicos em obras conseguiu comprar um apartamento na Zona Sul?

Para uma vida inteira de trabalho e dignidade — a boa resposta está na sua história de vida.

Mosquito foi proprietário e porteiro por quatro anos. Ele conta que, naquele período, decidiu se dedicar mais ainda, para provar que a recente aquisição não diminuiria o compromisso com o trabalho e a humildade, característica marcante. Há cinco anos, ele foi demitido em comum acordo e passou a se dedicar exclusivamente às obras.

Ex-porteiro Manoel Firmino na piscina do prédio Foto: Antonio Scorza

Há cerca de três semanas, por iniciativa dos moradores, Manoel Firmino do Nascimento foi eleito síndico do prédio. A votação expressiva com 33 favoráveis enquanto apenas dois condôminos escolheram outro candidato deixava um recado claro: não há mais espaço para o preconceito.

“São poucos os que ainda me olham torto, mas eu levo numa boa. Sou uma pessoa do bem e disposto a ajudar todos. O cargo em si não muda nada. Espero que em breve eu possa reativar a sauna, reformar a academia e expandir o salão de festas”, projeta Manoel.

Nas metas pessoais, o paraibano sonha em comprar um apartamento para cada filha e conhecer melhor justamente o Nordeste. Assim que possível, Mosquito pretende tirar férias e visitar um pouco mais a “terrinha”.

“Conheço algumas cidades só de estar no aeroporto. Quero turistar e aproveitar um pouco. Quem sabe dar um pulo em Cancún e na Itália também”, brinca.

Passagem de bastão

Manoel, atual síndico, ao lado de Luíz, o sucesso na portaria Foto: Antonio Scorza | Agência O Globo

Há cinco anos, Luiz Carlos Violino, 62 anos, assumiu o cargo de porteiro do prédio. Ele ainda pegou um período curto em que Mosquito era chefe da portaria. A sucessão de cargo, no entanto, se restringe a este cargo, garante.

“Jamais que eu pensaria em ser síndico. Para mim é dor de cabeça demais”, afirma.

Luiz comenta que com o ex-colega de profissão e agora patrão, Mosquito, o dia a dia do prédio ficou ainda melhor.

“Ele é muito trabalhador, merece demais. E está sendo um ótimo chefe aqui”, ressalta. 

A vida na roça

Enquanto morava em Campina Grande (PB), Mosquito trabalhava na roça carregando a enxada e ajudando a mãe, dona Maria Antônia da Conceição. Hoje a matriarca está com 90 anos e vive com uma das outras três irmãs. Manoel conta que manda dinheiro sempre que pode e mantém alguns investimentos na Paraíba.

Ela chegou a vir morar no Rio de Janeiro, na Vila Pinheiro, mas desistiu devido à violência da região e retornou para Paraíba. Por lá, Manoel tem pela frente a construção de um prédio com lojas comerciais e alguns apartamentos, onde pretende recuperar o investimento das finanças que tem feito. O empreendimento é supervisionado a distância, mas o sobrinho de Manoel administra os gastos da obra.

“Esses anos não tem sobrado nada, mas mantenho a fé que dará tudo certo. São anos de dedicação para depois poder aproveitar um pouco”, conclui.


Com informações: O Globo

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