Devoção da Cor: a arte pelas mãos da artista plástica Eliz Patrício
Os pés descalços, as palmas das mãos unidas e um o olhar de inocência fixo nas imagens. Uma oração de criança. A foto da menina, filha da produtora cultural Renata Cabral emudece a artista Eliz Patrício. “Emoção e certeza que minhas mãos são abençoadas”, comenta sobre a fotografia recebida.
A escultura que a garotinha contempla faz parte da exposição “Devoção da Cor: pelas mãos de Eliz”, da paraibana Elizângela Patrício da Silva. Diferente das imagens tradicionais que representam personalidades da Igreja Católica Apostólica Romana, o trabalho da artista traz novas percepções sobre a fé e arte.
“Se buscarmos um pouco sobre a história de cada santa podemos verificar que elas tiveram vivências, histórias de vida antes da santidade. Como exemplo, temos Santa Barbara, cuja história (verídica ou não, mas está dito) tem resquícios das vivências de muitas mulheres na sociedade atual. Ela lutou contra um casamento forçado, por conveniência, questionou a partir de estudos e foi morta por não ser aceita”, explica Eliz Patrício em entrevista ao Conexão Boas Notícias.
Cores fortes e sutis, estampas florais e estruturas com tonalidades chamativas são utilizadas com uma intenção e significados. “A pintura da imagem que representa Jesus fiz na cor rosa, justamente para trazer a questão da cor como gênero, de ser colocada uma determinada cor para representar alguém. Uma cor não representa ninguém, somos cores, temos vida. São histórias parecidas com o que vemos hoje”, destaca.
Formada em Pedagogia, a arte faz parte da vida de Eliz Patrício desde criança quando desenhava e pintava. “Foi justamente na infância que tive o primeiro contato com pintura em imagens no gesso. Imagens decorativas presenteadas por uma tia. Era uma forma de passar o tempo, naquela época”, relembra. Casada com o artista plástico Guto Holanda, a vivência no meio artístico e o acompanhamento do processo criativo do marido despertou nela o interesse pelas artes visuais.
“A proposta de arte como forma de expressão surge a partir da artista Renata Cabral que, na ocasião estava em parceria com Guto Holanda em uma exposição. Renata viu alguns dos meus trabalhos, percebeu minha habilidade para trabalhos manuais e me instigou a criar. Surge, então, a série Devoção da Cor, onde relaciono as minhas inquietações na produção das obras, influenciadas pelas relações cotidianas, pelas cores, pelo amor, pelas mãos de Eliz”, conta.
Em suas peças, a paraibana lança um olhar artístico e sensível sobre a religiosidade, a partir da sua própria experiência enquanto artista. “Ao produzir busco transmitir vivências, significados, sentimentos de amor e alegria. Para mim, podemos ver uma imagem religiosa e sacra de maneira alegre e pessoal. A concepção de santidade me incomoda bastante, pois, na maioria das vezes, me remete ao sofrimento, angústia e não é assim que acredito na concepção de fé”, afirma.
“Nessa construção do processo criativo, compreendi que é possível criar, de nos expressarmos, de falarmos o que sentimos a partir da arte”, completa Eliz Patrício.
As obras da série Devoção da Cor podem ser vistas no Celeiro Criativo, no Altiplano e no Jardim Mariah, no Cabo Branco, ambos em João Pessoa, assim como no Buarque-se Café com Arte, em Intermares, Cabedelo.
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Por Marcella Machado, da redação do Conexão Boas Notícias