Engraxate tornou-se artista plástico com exposições dentro e fora do país

Josafá Neves nasceu no Gama e reside no Núcleo Bandeirante, Distrito Federal. Ele usa sua arte para recriar a identidade negra. Entre seus principais temas de trabalho estão retratos de negros, escravidão e matrizes africanas.

“É um assunto que eu não posso me calar. Temos que trazer à tona esse racismo jogado para debaixo do tapete”, desabafa.

Com 46 anos, ele já foi engraxate, garçom, jornaleiro e lavador de carros. Mas há exatamente duas décadas, a vida de Josafá mudou radicalmente. Sua história é um exemplo de superação, o tempo e a experiência foram seus aliados. Tornou-se um artista plástico com exposições dentro e fora do país, suas obras são vendidas por mais de R$ 20 mil.

Arte de Josafá Neves. Foto: Reprodução/Michael Melo/Metrópoles

Josafá já participou de mostras por oito cidades brasileiras e em bienais de Havana (Cuba) e Caracas (Venezuela).

Divide seu tempo de trabalho com o cuidado diário dos três filhos de 13, 15 e 21 anos de idade que moram com ele numa casa pequena, amarela, com portas e janelas vermelhas. “Me chamo de pãe”. É trabalhoso conciliar arte com a rotina diária, mas tudo dá certo”, conta.

A casa-estúdio fica apertada entre os prédios do centro de Núcleo Bandeirante. A simplicidade do lugar contrasta com o valor das suas obras no mercado de arte, no local não faltam livros de teóricos e de artistas nacionais e internacionais.

Josafá não tem formação acadêmica em artes, mas estuda sobre o tema, e diz ter uma enorme vontade de fazer curso superior em sociologia.

Josafá Neves. Foto: Reprodução/Michael Melo/Metrópoles
Arte de Josafá Neves. Foto: Reprodução/Michael Melo/Metrópoles

Diáspora

A Exposição individual do artista “Diáspora”, esteve em cartaz na Caixa Cultural, em Brasília, até 14 de maio.

Josafá ao comentar sobre sua arte, declara com conhecimento: “Não foi Picasso quem deu início ao Cubismo, mas sim Braque, que se inspirou na arte africana para fazer seus quadros”.

O artista inspira-se em brasileiros como Rubem Valentim, Athos Bulcão e Ana Maria Pacheco. Entre os nomes internacionais: Picasso, Matisse e Renoir. “Gosto de me apropriar daquilo que encontro e acredito que seja vital aos meus trabalhos”. Destaca. 

Suas obras são trabalhadas, antes de fazer seus desenhos, ele pinta a tela de preto, ele explica: “Eu trabalho sobre o negro. Escureço para depois clarear”. O resultado dessa técnica é a impressão de que as figuras ali retratadas parecem “emergir das sombras”, de modo a fugir do esquecimento, como afirmou Bené Fonteles, curador da “Diáspora”.

No mês que vem Josafá viaja para a França com o objetivo de encontrar suas irmãs que vivem na Europa e passear pelos museus do país.

“Aprendi que se a gente faz o que gosta, tudo sai bem. Para produzir minha obra, inspiro-me em tudo: na natureza ao meu redor, na minha vida e na minha ancestralidade”, ressalta.


             


Com informações: Metrópoles

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