Escolas estaduais da Paraíba: Hortas enriquecem aprendizado e promovem alimentação saudável
Horta como espaço de aprendizagem. Além das salas de aulas, professores e alunos da Rede Estadual de Ensino adotaram as hortas como espaço adicional para o ensino das disciplinas como Ciências, Geografia, Biologia e Matemática.
Cebolinha, tomates, couve, alface, coentro, acerola, mamão, macaxeira, batata doce, beterraba e cereja, plantas medicinais: hortelã, cidreira e capim santo são cultivados nas escolas, incluindo a criação de peixes.
São exemplos dessas práticas de cultivos a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Campo Sementes e Mudas, em Cruz do Espírito Santo; Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Felipe Tiago Gomes, em Picuí; Escola Cidadã Integral Técnica Jornalista José Itamar da Rocha Cândido, em Cuité; Escola Estadual de Ensino Fundamental Calula Leite, em Conceição.
Valorizando o lugar
A Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Campo Sementes e Mudas, localizada na zona rural de Cruz do Espírito Santo, passou por um processo de superação. Encontrou no projeto da horta o suporte para inovar as práticas pedagógicas, oferecendo aos alunos um ensino de qualidade e mostrando a importância dos hábitos e costumes do campo por meio da implantação.
Para realizar as atividades na horta, a escola teve o apoio da Secretaria de Estado da Educação (SEE), que fez parceria com a professora Socorro Xavier Batista do Centro de Educação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) para a formação dos professores em Educação do Campo e o Instituto Federal, Ciência e Tecnologia (IFPB) Campus João Pessoa. Uma parceria da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq) com a SEE, que distribuiu 120 laboratórios de ciências aplicadas em escolas da Rede Estadual, apoiou o projeto disponibilizando kit solar para a economia de energia.
Os alunos da escola são filhos de agricultores e canavieiros. O intuito dessa parceria foi adaptar à realidade local, valorizando aquilo que faz parte da vida dos alunos e de suas famílias.
Nos 11 canteiros são cultivados pelos alunos: cebolinha, tomate, couve, alface, coentro, acerola, hortelã e mamão. Após a colheita, os alimentos são utilizados nas refeições da escola e distribuídos para alunos e professores, incentivando a alimentação saudável livres de agrotóxicos. Além da horta, um espaço foi separado para a piscicultura, que conta com a criação de 10 peixes. A água do aquário também é utilizada para a irrigação das plantas.
A horta se tornou um espaço de aprendizagem, onde todos os professores ministram aulas incorporando o projeto nas práticas cotidianas da escola. O trabalho na horta envolve os 254 alunos da escola, mas são os alunos do Ensino Médio que preservam a horta irrigando e trazendo adubos. Para isso foi elaborado um cronograma para plantação, colheita e manutenção.
Aplicar a horta como sala de aula motivou os discentes trazendo a compreensão dos conteúdos das disciplinas, e os fez valorizar mais a escola por verem a dedicação dos professores e gestão no aprendizado de cada um deles.
Sala de aula integrada
A aluna do 1º ano do Ensino Médio Letícia de Fátima aprecia a escola pelas aulas práticas. “Aqui é uma sala de aula integrada, o que é discutido em sala realizamos na horta. Com ajuda dos professores, aprendemos todas as matérias”, disse.
Iranildo de Castro é aluno do 8º ano. Morava numa comunidade distante da escola, mesmo assim ele não desistiu de estudar. “Onde eu morava tinha a dificuldade de transporte, surgiu a oportunidade de estudar no Campo Sementes e Mudas, por isso mudei para a casa da minha irmã. Gosto de plantar, colher e irrigar as plantas. A horta ajuda no aprendizado de todas as disciplinas, quando terminar a escola pretendo fazer uma faculdade de agronomia”, falou.
Projetos
Além do projeto que insere a horta como espaço de aprendizagem, os professores de Matemática e Biologia estão trabalhando dois projetos dentro do contexto da Educação do Campo.
No projeto ‘O ensaio da matemática aplicado com base em atividades produtivas dos pais dos educandos’ a professora leva os alunos para a lavoura (ambiente de trabalho dos pais). Lá é realizada a aula de matemática, aumentando o rendimento dos alunos, prestigiando o trabalho dos pais.
O outro projeto é ‘O ensino e aprendizagem da biologia em consonância com a educação do campo sob a perspectiva da sustentabilidade’, que surgiu para diminuir as dificuldades nos conteúdos de Biologia, promovendo a prática da sustentabilidade, por meio da utilização de materiais recicláveis dentro da escola.
Incentivo
O aluno Anderson Uchôa, do 9º ano, sempre se dedica nas atividades. “O que eu aprendo aqui posso fazer em casa. Para mim é um incentivo, me envolvo com todos os projetos da escola, quando terminar quero ser professor de matemática”, observou.
Para o professor de Ciência e Biologia Iranildo de Castro, o projeto avançou o conhecimento dos alunos. “Os desafios são grandes, mas quando conseguimos aliar teoria e prática e ver resultados é uma sensação de satisfação e dever cumprido” disse.
Desenvolvimento cognitivo
A professora de Matemática Rejane do Nascimento percebeu que o desenvolvimento cognitivo dos alunos após as aulas práticas é bastante eficaz. “Com as aulas práticas os alunos conseguiram sanar as dificuldades e entender o conteúdo com mais facilidade. É um trabalho árduo e cansativo, mas quando vejo os olhos dos alunos brilhando de satisfação, mostra que vale a pena todo esforço. Um trabalho maravilhoso! “, enfatizou.
A melhoria do espaço coletivo por meio dos projetos realizados dentro da escola afetou diretamente o bem-estar dos alunos, professores, diretoria e familiares, além da comunidade próximo da escola, aumentou a capacidade de aprendizado do aluno e melhorou a convivência com eles. Hoje as práticas pedagógicas da escola estão sendo reconhecidas e o número de estudantes vem aumentando.
Mini estação Aquapônica: baixo consumo de água na escola
A Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Felipe Tiago Gomes, em Picuí, desenvolveu o projeto ‘Horta escolar FTG: produzindo saberes e sabores’. A iniciativa do professor de Biologia Tiago Anderson teve o intuito de atuar na revitalização e transformação dos espaços da escola sem utilização, que normalmente acumulam mato, em espaços de cultivo e socialização.
O projeto é realizado com todos os alunos da escola, sendo o maior envolvimento com os alunos do Ensino Médio que auxiliam na irrigação, organização e conservação da horta. Os canteiros estão espalhados pela escola, onde são cultivados coentro, beterraba, cereja e as plantas medicinais hortelã, cidreira e capim santo. Além do principal, que fica na entrada com as iniciais FTG no cultivo de alface.
A proposta é utilizar a horta e plantas para atividades pedagógicas com todas as disciplinas, além deconscientizar os alunos sobre práticas alimentares promotoras de saúde e bem-estar com consumo de alimentos livres de agrotóxicos e agroquímicos na merenda da escola.
Com a parceria do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB), Campus de Picuí, foi construído um minhocário para auxiliar na produção de mudas e manutenção das hortas. A parte que os alunos mais gostam é a hora da colheita e o momento em que eles fazem a degustação dos alimentos colhidos na hora do almoço.
A região semiárida limita o consumo de água, tornado um problema para o desenvolvimento do projeto de hortas. Pensando em uma solução sustentável, o professor Thiago implantou uma mini estação Aquapônica: um sistema de cultivo que une a piscicultura (cultivo de peixes) e a hidroponia (cultivos de plantas sem o uso do solo, com as raízes submersas na água).
Essa técnica trouxe a toda comunidade escolar uma reflexão sobre o consumo consciente de água, evidenciando que é possível produzir sem desperdiçar. Promoveu o aproveitamento e baixo consumo de água, aliado ao fato de poder produzir peixes e hortaliças de forma simultânea.
‘Hortódromo Ecit’
O projeto ‘Hortódromo Ecit’ foi desenvolvido na Escola Cidadã Integral Técnica José Jornalista Itamar da Rocha Cândido, em Cuité, por meio de uma disciplina eletiva com alunos do 1º e 2º ano do Ensino Médio para construção de hortas.
A iniciativa foi da professora de Biologia Elisângela Costa, que leciona a disciplina Técnica de Responsabilidade Ambiental. Segundo a professora, os estudantes se organizaram em grupos para se responsabilizarem pela construção e manutenção de uma horta, utilizando garrafas pets para demarcação dos canteiros.
O projeto está na fase do plantio. A princípio, o cultivo é de alface, coentro, cebolinha, pimenta, tomate e couve. A horta compõe sete canteiros e outro com o nome Ecit. Porém a horta vai passar por alterações. A meta do projeto é utilizar a horta para conteúdos pedagógicos, evidenciando a importância de uma alimentação saudável.
Horta sem canteiro
Após experiência vivenciada em Israel, a professora Elisangela Costa pretende colocar em prática na escola os conhecimentos adquiridos pelo programa Gira Mundo, construindo com os alunos uma horta sem canteiro, que é a estrutura israelense. O estilo inovador facilita o trabalho, tornando a horta um laboratório de boas experiências e vivências para a comunidade escolar.
Uma das maiores preocupações da Escola é a utilização da água, por ser uma região de escassez. Contudo, a meta do projeto é adequar a irrigação das hortas com técnicas sustentáveis e usar as hortaliças nas refeições da escola.
O projeto tem o objetivo de despertar nos estudantes a importância do papel estratégico que devem desempenhar na construção de um mundo sustentável, instigando-os a pensarem e vivenciarem assuntos relacionados ao meio ambiente, transformando-os em verdadeiros cidadãos ativos.
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“Ações dessa natureza contribuem com o desenvolvimento intelectual e social dos alunos, promovendo responsabilidade e iniciativa que trazem habilidades para serem empreendedores, tornando-os protagonistas no processo de construção do conhecimento”, afirma a professora
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Estímulo a alimentação saudável
Visando a terra fértil que a Escola Estadual de Ensino Fundamental Calula Leite, em Conceição, possui, o professor de História Francisco de Souza tomou a iniciativa de elaborar o projeto ‘Horta na escola’, com o objetivo de estimular hábitos de alimentação saudável e cuidado com a natureza.
O projeto envolveu os alunos do 7º, 8º e 9º ano, que criaram canteiros para as plantações. A escola cultiva cenoura, macaxeira, batata doce, alface, coentro e pimentão, que são colhidos e utilizados na escola para o almoço dos estudantes.
Para Francisco, a horta é um campo vasto de aprendizagem e um espaço onde os professores de diferentes disciplinas aplicam métodos atrativos de aulas. O projeto trouxe conhecimento práticos para a produção de alimentos saudáveis, livres de agrotóxicos e potencializou os saberes e fazeres da coletividade na manutenção e cultivo da horta.
Com informações: Secom-PB