Ex-cobrador monta “bibliotecas” em paradas e na própria bike para difundir a leitura no DF
O projeto Cultura no Ônibus começou em 2003. Inicialmente, os livros eram guardados em caixas de sapato ao lado da roleta do ônibus
O ex-cobrador de ônibus Antônio da Conceição Ferreira é um exemplo de como a paixão por algo pode transformar a vida de outras pessoas. Inspirado no seu amor pela literatura, ele montou “bibliotecas” em paradas de ônibus para difundir o hábito da leitura em Brasília.
“Depois que constatei a diferença de comunicação das pessoas que liam daquelas que não liam, tive a ideia para não deixar minha timidez passar a meu filho. Logo que coloquei os livros para emprestar no meu horário de trabalho de cobrador de ônibus”, contou.
Seu Antônio, alfabetizado aos 13 anos, resume o valor da leitura na vida daqueles que cultivam esse hábito.
“A pessoa que lê compartilha com quem não lê, por meio da comunicação falada, entre diálogos acontecidos em vários contextos sociais. Assim, um ser humano troca conhecimento com outro por meio de interação social falada e, com isso, cresce o conhecimento, espalhando-se entre os humanos”, observou.
De cobrador de ônibus a gestor cultural
O projeto Cultura no Ônibus começou em 2003. Inicialmente, os livros eram guardados em caixas de sapato ao lado da roleta do ônibus.
A ideia chamou a atenção da empresa onde Seu Antônio trabalhava, a Viação Piracicabana, e o cobrador de ônibus foi liberado da função para atuar como gestor cultural.
Desde 2015, mais de 179 mil livros foram arrecadados. Infelizmente, após a pandemia da Covid-19, o projeto foi suspenso e as estantes foram retiradas dos coletivos. Porém, a empresa está confiante no retorno da proposta e já está em processo de retomada.
O livro “Capitães da Areia” mudou a sua vida
Natural do interior do Maranhão, Seu Antônio começou a trabalhar ainda na infância para ajudar seus pais agricultores e sempre estudou em escolas públicas. Seu hábito de leitura começou com as páginas de jornal que seu pai trazia como embalagem de compras.
A vida de Seu Antônio mudou após a leitura de “Capitães da Areia”, de Jorge Amado, que conta a história de meninos em situação de rua na Bahia. Ele já estava em Brasília, mas encontrou semelhanças entre os anseios dos personagens do escritor baiano e seus próprios sonhos.
Como ex-cobrador, Seu Antônio fez três semestres do curso de Administração e frequentou algumas disciplinas dos cursos de Biblioteconomia e Letras da Universidade de Brasília (UnB) como aluno especial.
Biblioteca sobre rodas
Seu Antônio criou o projeto Cultura na Bicicleta como uma expansão do projeto Cultura no Ônibus. Ele pedala sua própria bicicleta e empresta obras literárias em Sobradinho.
Ele afirmou que assim que terminar de organizar o espaço do projeto, a variedade de livros aumentará, e seu objetivo é levar o projeto para todas as cidades do Distrito Federal.
No futuro, Seu Antônio planeja investir na reciclagem de bicicletas infantis e distribuí-las para crianças carentes, com o intuito de facilitar a mobilidade urbana e rural e estimular a leitura por meio de eventos em que as novas bicicletas serão entregues.
Quem tiver interesse em doar livros ao projeto pode entrar em contato com o Seu Antônio pelos telefones (61) 99207-9279/98139-2158. Os interessados em fazer empréstimos dos livros também podem falar diretamente com o Seu Antônio para combinar as condições.
Com informações: Correio Braziliense / RPA