Flávia Wenceslau: canções de vida, amor e esperança
Talvez o mar explique a profundidade deste cantar. As ondas talvez saibam da vida que movimenta as canções. A maresia talvez guarde o segredo da suavidade das melodias. Na sua voz, palavras contam histórias. Pelos palcos que coloca a planta dos seus pés há entrega. Uma artista da simplicidade da vida. Ouvir Flávia Wenceslau é cruzar os oceanos de nós mesmos e atracar na própria existência.
A cantora paraibana nasceu na cidade de Nova Floresta (PB), mas há alguns anos vive em Salvador, na Bahia. O trabalho na música começou ainda na adolescência. Já gravou três discos e este ano estreou o Show “Por uma Folha”. A maioria das canções que interpreta são composições suas.
Ser autora da própria arte carrega muito da verdade das suas músicas. De onde vem a força das canções, Flávia Wenceslau mesma conta. “Vem daquilo que é sincero no meu sentimento. Apesar da minha imperfeição, tenho sonhos sinceros, por sinceras dores também já passei. E desistir eu não posso, a opção é resistir mesmo. E ir cantando na esperança de encontrar o que procuro”. O Conexão Boas Notícias conversou com a cantora e compositora.
O seu canto é leve e forte ao mesmo tempo. Como descobriu a sua voz?
Meu pai era músico, minhas irmãs cantavam e tenho tias que cantavam também. Eu cantava desde criança em corais até que meu irmão mais velho me levou para cantar numa banda com ele, quando eu tinha treze anos. Não foi bem uma descoberta, para família era natural cantar em casa, ver meu pai tocar e cantar também. Ele cantava muito bem.
Nasceu no interior, mas tem uma ligação forte com o litoral. Que relação é essa entre você e o mar?
Eu conheci o mar aos 16 anos. Apesar de morar relativamente perto, só pude ir nessa época. Fui sozinha de ônibus procurar pelo mar na capital, João Pessoa(PB). Minha ligação é pela origem de tudo no planeta. Não há criatura alguma que não venha da água ou não passe pela água. É natural da gente se confortar só de olhar o mar, talvez porque só a imensidão do mar compreende e acolhe a nossa própria imensidão de sentimentos, de perguntas. A imensidão do que ainda não conhecemos, mas que de alguma forma está em latente potencial dentro de nós.
Agora, Quase Primavera, Saia de Retalhos e mais recentemente Por Uma Folha. Cada projeto seu busca transmitir uma mensagem singular ou um momento da sua vida?
Talvez todos os nossos momentos e aprendizados transmitam a mesma mensagem, e a gente vai aprendendo e firmando essa mensagem no caminhar. Eu canto a mesma coisa desde sempre: esperança, amor, paz, fé. O que muda são os acontecimentos. Quando eu me transformar em puro amor e paz, pronto, não vai acontecer mais nada. Não vou mais nem morar por aqui (risos). Mas isso ainda vai demorar demais. Então, vou vivendo e contando do caminho, mas a mensagem não muda na sua essência.
Qual a sensação de ter uma música sua na voz de cantores e cantoras como Maria Bethânia?
É um sentimento muito bom. Passei muitos anos insistindo na minha forma de escrever e fui muito criticada e aconselhada a adequar minha obra ao mercado e ao que vende mais rápido. Quando Maria Bethânia gravou foi como o aval artístico mais importante do país. Igual a ela aqui no Brasil não tem nenhuma, isso é uma realidade. A força dela é única. E a gente tem uma cultura de estima baixa, o povo precisa que fulano seja aprovado por beltrano para que haja a possibilidade de mais aceitação. Isso é da nossa cultura ou da falta de cultura e mais expansão de consciência e capacidade de percepção.
As músicas que fazem sucesso hoje transmitem muita negatividade. Como é levar as suas canções em meio a esse cenário?
Eu acho bom levar minha canção nesse cenário, eu canto o que me faz bem, o que me traz alegria e fé na vida! Quem vibra na mesma sintonia se une ao meu caminho e seguimos em frente. Tudo é uma escolha, eu escolho por algo que me oriente, equilibre e eleve meus sentimentos. O que outras multidões escolhem, confesso que não chega a ser uma preocupação para mim. Sempre haverá Luz, é só a gente querer trabalhar para merecê-la.
Tem feito transmissões ao vivo via Facebook com os fãs. Esse contato é diferente daquele que você tem na rua e nos shows?
A única diferença é que ali eu estou em casa, na informalidade daqueles minutos do dia que dedico a entrar ao vivo. Não me arrumo como se fosse show, nem me maquio, etc. A diferença é só essa, pois sou aquilo ali nos shows, na rua; se eu não estiver muito bem também não é tão difícil perceber.
Está com um show novo, “Por Uma Folha”, lançado no mês de abril em Salvador. Como foi a escolha do repertório e dos convidados?
A escolha do repertório foi decidida por mim com auxílio de Jackson Costa, diretor artístico. O show é uma estrada, a minha jornada até aqui. Passo pela infância, quando saí de casa ainda criança, meu primeiro emprego foi aos 11 anos de empregada doméstica, falo da adolescência, falo da época em que fiz barzinho… falo de tudo como foi através de cada canção. Porque a minha escrita não é fictícia em nenhum momento, meu ponto de partida é sempre a realidade do meu próprio caminho ou outra situação com outros personagens, mas sempre histórias reais. Os convidados foram surgindo pelo significado em minha vida. Alguns estou conhecendo por agora, e sei que vou cantar com artistas que admiro, mas ainda não conheço pessoalmente.
Por Marcella Machado, da redação do Conexão Boas Notícias