Francisco José: um repórter sertanejo pelos cinco continentes

Mergulhar com tubarões, revelar paisagens deslumbrantes, desbravar lugares exóticos e perigosos fazem parte da sua rotina. “Às vezes, a gente corre riscos desnecessários, mas é preciso ter autoconfiança”, justifica. Das viagens, coleciona histórias e oito passaportes cheios de carimbos. Francisco José de Brito, ou apenas Chico José nasceu no Crato, interior do Ceará, mas foi adotado por Pernambuco ainda criança.

Foto: Arquivo Pessoal

A paixão pelo esporte o trouxe para o jornalismo. Logo passou a ser o repórter com o sotaque e a força do nordestino. Na sua bagagem carrega mais de duas mil reportagens, documentadas e compartilhadas agora em 40 anos no ar: a jornada de um repórter pelos cinco continentes, da Globo Livros.

Chico José esteve em João Pessoa no último sábado (8), onde participou de uma sessão de autógrafos de mais de três horas sem pausa no lançamento do livro. É a resistência já conhecida do repórter sertanejo.

No final, ainda encontrou energia para uma conversa com o Conexão Boas Notícias. O escritor falou da obra, aventuras, coragem e como se tornou um contador de histórias boas.

Foto: Reprodução

 

40 anos no ar. Como foi relembrar tantas histórias e colocá-las no papel?

Eu guardei tudo na memória. Apesar do tempo, as histórias são as mesmas, sempre com testemunhas que são os profissionais que trabalham comigo, os personagens que viveram as histórias comigo. Então, quando eu completei quarenta anos no ar, quarenta anos como repórter da TV Globo, eu decidi escrever o livro e em 24 dias o livro estava pronto.

Entrou no jornalismo por acaso, mas logo conseguiu publicar sua primeira matéria na íntegra e, mesmo sem experiência no telejornalismo, foi contratado pela Rede Globo. Foi a sua personalidade e as características que seus colegas apontam em você que fez sua trajetória bem-sucedida?

Eu atribuo isso a força de vontade, ao fato de ser sertanejo. Os sertanejos sempre lutam muito para viver e eu enfrento as dificuldades com muito mais facilidade do que quem vive só na área urbana. É tanto que os meus trabalhos são na selva, no mar, nas montanhas. Eu me identifico muito com esse tipo de trabalho. Quanto mais difícil a pauta, mais me atrai. Então, isso me levou a fazer esse tipo de reportagem. São 98 Globo Repórter, eu espero completar os cem ainda esse ano. Sou uma pessoa realizada pela profissão que eu escolhi mesmo tendo começado por acaso.

Reportagem na tribo Enawenê-Nawê. Foto: Reprodução

Em um evento acadêmico aqui na Paraíba você disse que deixou de ser repórter da miséria e passou a ser repórter de coisas boas. Por que essa mudança?

Quando eu comecei a fazer reportagens na Globo estava tendo uma das piores secas de todos os tempos no Nordeste. Naquela época o descaso era tão grande que morriam as pessoas e os animais. Hoje morrem só os animais. Naquela época o índice de mortalidade infantil no Nordeste era alarmante, era o maior do mundo e eu passei a fazer muitas reportagens nesse lugar, mostrando não só a miséria, mas principalmente a situação daqueles brasileiros que viviam tão esquecidos do mundo, tão esquecidos de quem vive nas grandes capitais e esquecidos, principalmente, pelos governos municipais, estaduais e federal que tinham que fazer alguma coisa. Então, eu me senti no início o mensageiro da miséria. Depois que isso foi sanado, eu passei a ser o mensageiro da beleza da nossa região nordestina e, com o tempo, eu fui aos lugares mais bonitos do mundo. E hoje eu posso lhe dizer que no dia 19 de maio vai entrar um Globo Repórter sobre a Micronésia que é o lugar mais bonito que eu já estive.

Foto: Arquivo Pessoal

O repórter Marcelo Canellas fala na orelha do livro que você faz um jornalismo destemido. De onde vem a coragem do repórter Francisco José?

Não, não é coragem, é vontade de fazer, de enfrentar as dificuldades, tudo e controlar o medo. As pessoas dizem “você não tem medo de mergulhar com tubarão?”. Se eu tivesse medo eu não ia lá. Eu sei que o tubarão está naquela área, eu sei que eu vou encontrar com ele. Eu sei que o gorila está em cima da montanha. Por que é que eu vou lá? Eu vou correr na hora que o gorila aparecer? Não, eu tenho que ficar. Então, eu me acostumei a controlar o medo e enfrentar a situação para poder fazer uma boa reportagem.

Jornalista Francisco José no cânion do Rio São Francisco. Foto: Divulgação

Qual o segredo de contar boas histórias?

Com o tempo você se torna, realmente, um contador de histórias. É o que eu faço. Cada reportagem é uma história que eu estou contando para o telespectador. E com o tempo eu passei a memorizar todas essas histórias e agora eu estou contando num livro, 40 anos no ar.

Além dos leitores serem presenteados com boas histórias, uma instituição do sertão de Pernambuco será diretamente beneficiada com o livro.

Acompanho o trabalho do padre Airton Freire que há mais de vinte anos vem criando escolas, hospitais, abrigos. Agora ele está com uma casa só para recuperar jovens viciados em drogas e ele depende de doações. Quando eu escrevi o livro, eu decidi transferir direto da Editora Globo para à Fundação Terra a totalidade da renda do livro. 


Por Marcella Machado, da redação do Conexão Boas Notícias

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