Google premia startup brasileira de tradução digital para Libras

A Hand Talk, startup que utiliza inteligência artificial para traduzir textos e vídeos na internet em português para a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), foi uma das 20 vencedoras do Desafio Google de Impacto em IA, que tem como objetivo premiar iniciativas tecnológicas de impacto social do mundo todo.

A plataforma, que foi fundada em 2012 e possibilita a comunicação de surdos e pessoas com deficiência auditiva, foi escolhida dentre 2602 inscrições de 119 países. Com a premiação, a empresa recebeu um aporte de R$ 3 milhões do Google.

Hand Talk possui um plug in para sites e uma versão em aplicativo, nos quais textos e áudios são traduzidos por um simpático personagem 3D chamado Hugo – batizado pelos fundadores da startup, Ronaldo Tenório, Carlos Wanderlan e Thadeu Luz, que são de Alagoas, Maceió. 

A versão para mobile já conta com mais de dois milhões de downloads. Para se adequarem a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146), grandes empresas já contratam o serviço, como a Samsung, Bradesco, Natura e Avon, para seus respectivos sites. 

Para que Hugo seja cada vez mais eficaz, o sistema de inteligência artificial é feito em conjunto: milhares de traduções são realizadas diariamente. “Temos intérpretes, surdos validando os sinais, desenvolvedores, cientistas de dados, designers e animadores 3D para fazer o Hugo ganhar vida”, ele explica. “É a soma de expertises diferentes, seja da área de computação ou na área linguística.”

Foto: Reprodução

Dados do último censo do IBGE aponta que existem 10 milhões de surdos no Brasil. Segundo a Federação Mundial dos Surdos (WFD, na sigla em inglês), 80% dos surdos de todo o planeta têm baixa escolaridade e problemas de alfabetização. Para Tenório, no Brasil muitos “surdos vivem deslocados como estrangeiros”, visto que nem todo conteúdo é traduzido para Libras.

Como resposta ao problema, a plataforma tem mudado o cotidiano dessas pessoas, uma vez que também conta com uma seção educativa para o aprendizado de Libras. “Recebemos depoimentos emocionantes, principalmente de familiares de surdos que não conseguiam se comunicar com seus filhos”, comenta Tenório. “O Hugo está sendo muito mais do que um tradutor, ele está sendo uma ferramenta que aproxima pessoas por meio da comunicação.”

Foto: Reprodução

Um exemplo é Dilmara Dias, de 47 anos, que tem deficiência auditiva e escolheu a a Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), em Guarujá (SP), para fazer a sua pós-graduação. O bonequinho o Hugo está no site da faculdade desde 2018, permitindo que  pessoas com deficiência auditiva acessem seus materiais didáticos.  

“Acredito que ações inclusivas como esta se tratam de um grande exemplo a ser seguido, tendo em vista que por várias vezes esbarrei em dificuldades de informações”, contou Dias. “Isso acontecia por não existir uma preocupação em atender a todos os usuários, deficientes ou não”, salientou.

Segundo Tenório, o próximo passo, aproveitando o aporte de R$ 3 milhões do Google, é estender o serviço para que cada vez mais pessoas tenham acesso às traduções. A empresa ainda visa traduzir a língua de sinais americana para atender os Estados Unidos.

Pensando nisso, ele participou do evento Google I/O, conferência anual voltada para o desenvolvimento de aplicações para os seus sistemas operacionais, que aconteceu em Mountain View, na Califórnia. “Temos que ter parcerias com experts da língua americana de sinais. Um dos motivos pelo qual estou aqui é para criar essas parcerias”, enfatiza.


Com informações: Galileu / Hand Talk

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