Jean-Michel Basquiat: obras do artista afroamericano em retrospectiva no Brasil
No espaço amplo, os desenhos estão espalhados pela parede ou recostados nela. No piso, a folha branca é cercada pelos latões de tinta. O rapaz de cabelo black power e olhar rebelde liga o rádio e a televisão. O fluxo que inspira o jovem artista é o dos ruídos do mundo. Mesmo com o seu próprio ateliê, Jean-Michel Basquiat mantinha a essência do graffiti e das ruas.
“Ele tem um trabalho intuitivo. Insere tudo o que está fazendo, pensando, o que está acontecendo ao redor dele entra nas obras, seja em imagens, seja em palavras. Ele é uma esponja. Era bombardeado por todas essas informações o tempo inteiro”, ressalta o curador de arte, o holandês Pieter Tjabbes sobre o pintor, desenhista e gravurista nova-iorquino.
Jean-Michel Basquiat é considerado o primeiro afroamericano a fazer sucesso nas artes plásticas de Nova Iorque. A partir desta quinta-feira (25), uma exposição com 80 peças do artista será aberta no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo. Em cartaz até abril na capital paulista, ‘Retrospectiva Basquiat’ terá temporadas ainda em Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, encerrando as exibições no Brasil em janeiro de 2019.
Mesmo com uma carreira curta, Basquiat produziu de forma intensa entre os 17 e 27 anos, tempo suficiente para colocá-lo na lista dos nomes de artistas mais importantes da década de 1980, em um estilo identificado como neo-expressionista. “Ele pinta tudo que está no apartamento: a geladeira, a porta do banheiro”, comenta Pieter Tjabbes, curador da exposição.
Esquadrias de janela, peças de madeira ou mesmo as telas serviam de suporte para as pinturas de Jean-Michel Basquiat, com traços semelhantes aos do graffiti. Desenhos, pinturas e colagens também era elementos mesclados em suas obras.
A temática negra e a música, em especial o hip hop envolviam a obra do pintor. “Ele era um artista negro, afroamericano, dentro de um meio de artes que era quase totalmente branco. Então, a obra sempre permeia esse viés de crítica sobre o sistema. Basquiat ressalta muito negros importantes na música e nos esportes”, lembra o curador.
Jean-Michel Basquiat participou de diversas exposições, entre elas a Documenta de Kassel, na Alemanha, uma das principais mostras de arte contemporânea do mundo. Na época, o jovem artista tinha apenas 21 anos de idade. Foi nesse período que conheceu Andy Warhol, artista plástico com o qual colaborou ativamente e teve influências.
O talento e o impacto das suas obras valorizaram o trabalho do artista, com peças que chegam a custar US$ 57,3 milhões, como a adquirida pelo bilionário japonês Yusaku Maezawa em 2016. Entretanto, nos museus e instituições públicas são escassas. “Quando os museus começaram a se interessar, os preços já estavam proibitivos. O resultado é que relativamente poucos museus têm obras dele nas coleções”, diz o curador.
Jean-Michel Basquiat morreu de overdose em 1988, mas seu trabalho continua a fazer sucesso e a atingir altos valores em leilões de arte. “A obra dele manteve a atualidade, um fascínio, tanto da parte visual, estética, quanto do conteúdo”, ressalta o curador Pieter Tjabbes.
Com informações: Agência Brasil / Arte na Rede