Jornalista russo leiloa prêmio Nobel da Paz e diz que doará dinheiro a refugiados ucranianos
O editor-chefe russo do jornal independente Novaya Gazeta leiloou sua medalha do Prêmio Nobel da Paz por US$ 103,5 milhões.
Muratov foi copremiado com o prêmio da paz em 2021 por defender a liberdade de expressão na Rússia.
Depois de ganhar o prêmio, ele decidiu inicialmente doar o montante de US$ 500 mil dólares para a caridade, mas depois optou por leiloar o próprio prêmio em si.
Os lances para a medalha de ouro de 23 quilates começaram online no início deste mês e, até ontem, mal haviam chegado a meio milhão de dólares. O leilão, no entanto, tomou um rumo surpreendente e acabou arrecadando mais de 103 milhões de dólares. A Heritage Auctions, que realizou a venda em Nova York, não revelou quem foi o dono do lance vencedor.
O valor, segundo Muratov, será doado ao Unicef para ajudar crianças deslocadas pela guerra na Ucrânia. A Organização das Nações Unidas estima que mais de 7 milhões de pessoas tenham deixado o país nos últimos 4 meses.
Antes do leilão, Muratov descreveu a medida como um “ato de solidariedade”‘ com os milhões de ucranianos que foram deslocados pela invasão da Rússia. E pediu que outros cidadãos russos vendessem suas lembranças pessoais para ajudar a mitigar a crise no país vizinho. Muratov contou ter mantido um cópia de sua medalha — feita em chocolate.
A Novaya Gazeta suspendeu suas operações em março de 2022, logo após a invasão da Ucrânia pela Rússia.
A suspensão foi necessária depois que Moscou determinou que qualquer pessoa que descrevesse as ações da Rússia na Ucrânia como uma “guerra” enfrentaria multas pesadas ou fechamentos. O Kremlin chama o conflito de “operação militar especial”.
Em abril, Muratov foi atacado com tinta vermelha misturada com acetona a bordo de um trem na Rússia. O agressor gritou: “Muratov, isto é pelos nossos meninos”, disse ele, em uma provável referência ao Exército russo.
Muratov é um dos jornalistas fundadores da Novaya Gazeta, em 1993, após a queda da União Soviética.
Desde 2000, seis jornalistas do jornal e colaboradores foram mortos em conexão com seu trabalho, incluindo a repórter investigativa Anna Politkovskaya.
“A mensagem mais importante hoje é que as pessoas entendam que há uma guerra acontecendo e precisamos ajudar as pessoas que mais sofrem”, disse Muratov em um vídeo divulgado pela Heritage Auctions.
Ele ganhou o Prêmio Nobel da Paz junto com a jornalista Maria Ressa, que cofundou o site de notícias online Rappler, nas Filipinas.
Ressa e Muratov são conhecidos por publicar investigações que incomodaram os líderes de seus países e se tornaram símbolos da luta pela liberdade de imprensa.
Com informações: BBC News Brasil