Mãe pedala mais de cinco horas todos os dias para acalmar filho autista
Amor de mãe. Suellen Cristina Budenetz, 29 anos, todos os dias: dos ensolarados aos chuvosos, ela passeia com seu filho de bicicleta. São mais de cinco horas pedalando pelas ruas de Garuva – Santa Catarina.
Os passeios diários são sagrados para a mãe que costuma sair 13h30 de casa, voltando às 16h para um breve café e retorna às ruas em seguida. Costuma voltar para casa no início da noite. Pode parecer estranho vê-la vagando, por diversas vezes, com seu meninão na garupa, muitas vezes, equilibrando-se com uma mão no guidão e outra com o guarda-chuva, mas foi o único modo que encontrou para acalmar e alegrar seu filho Adryan Gabriel do Nascimento, diagnosticado com autismo severo.
Apaixonado por bicicletas
“Ele é apaixonado por bicicletas, o brinquedo dele é um pedaço de bicicleta velha que costuma girar os pedais e ver o movimento da roda”, revela a mãe que brilha os olhos ao ver o tímido sorriso que seu filho dá quando é convidado para subir na garupa.
Mas não é apenas à bicicleta que Gabriel resguarda seu amor. O menino também é apaixonado por ônibus, principalmente, os escolares, de cor amarela. Suellen já decorou os horários que os ônibus deixam e buscam os alunos nas escolas Carmem Seara Leite e Vicente Vieira. Gabriel observa atento a movimentação dos veículos, como se assistisse a um desenho favorito. “Quando os ônibus escolares vão embora, recorro à rodoviária”, conta, sorrindo.
Das estradas que Suellen percorreu com seu filho, as únicas dolorosas foram aquelas caminhadas quando ele ainda estava em seu ventre. No sexto mês de gestação, descobriu que Gabriel tinha hidrocefalia; em seguida, a microcefalia foi diagnosticada. “Foi um susto atrás do outro, não sabia o que isso poderia significar na vida de meu filho”, conta a mãe que ouvia dos médicos que seu filho não falaria, não andaria e poderia viver, para sempre, em estado vegetativo.
Um aborto foi sugerido pela equipe médica, mas Suellen negou. Sentia-se mãe desde a descoberta da gravidez e a levaria até ter o único filho em seu colo. Gabriel nasceu e ficou internado na UTI durante três semanas. Foi necessário um mês e meio para realizarem todos os exames. “Entrava na maternidade chorando, em todos os dias que fui visitar meu filho. Nunca houve boas notícias no início de sua vida” lamenta.
Perseverante, Suellen saiu da maternidade com o filho nos braços, tendo a certeza de que, daquele momento em diante, cada superação de Gabriel seria a realização de um sonho. E assim se fez, quando o menino começou a andar aos dois anos, depois de um longo período de fisioterapia. Um momento que a mãe levará para sempre em suas lembranças, foi quando ele disse a primeira e única palavra, aos seis anos de idade: ‘Mama’.
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“Ele me chamou de ‘mama’ e eu me emocionei na hora, foi inesperado. Pedi para ele repetir, mas ele não repetiu. Só depois de um tempo… É a única palavra que ele fala, mas é tudo pra mim”, conta, Suellen.
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Quando Gabriel ainda tinha seis anos, Suellen descobriu uma nova condição na vida do filho. Matriculado na APAE de Garuva, o menino foi diagnosticado com autismo severo. Passou a tomar dois calmantes diários; um terceiro, caso necessário. Era um novo e desconhecido caminho que Suellen deveria percorrer, conhecendo, diariamente, os desafios de ser mãe de uma criança autista, à medida que o filho crescia. E ele cresceu. Ainda cresce, para suspiros aliviados da mãe que tem como único medo de sua vida o risco de perdê-lo.
Se há algo que faz Suellen repensar em sua postura como mãe são os mimos que ainda dá ao filho único. “Acho que exagerei um pouco, mas meu marido, pai de Gabriel, está ensinando-o a ter noções de limite”, afirma a mãe que se esforça para orientar seu filho para os desafios do mundo, principalmente, quando Gabriel não terá mais ela para guiá-lo, nem na bicicleta, nem na continuidade da vida.
O momento em que Gabriel irá pedalar sozinho, um dia chegará, é uma certeza que aflige Suellen. “Só a mãe tem paciência. Paciência para fazer comer… Tem dias que preciso insistir para que ele coma direitinho. Faço isso pelo amor de mãe que sinto por ele, sou perseverante. Sei que, dificilmente, outro fará”.
Suellen e Gabriel ainda terão tantas outras estradas para pedalar. Às vezes, a bicicleta estraga. Caem as correntes, furam-se os pneus. Vem o vento e torce o guarda-chuva. Respinga lama e um pouco de cansaço. Aí surge um sorriso no meio de tudo isso, um sorriso inesperado. Um sorriso que contagia os dois. A bicicleta vai embora. Nela, há uma mãe, um filho e uma felicidade que só a simplicidade dos momentos pode explicar.
Com informações: Folha Norte SC
Edição: Josy Gomes Murta