Meu irmão voltou pra casa: novo projeto do TSS convida a sociedade para o acolhimento
O projeto do Teatro da Solidão Solidária vai acontecer simultaneamente em todos países no dia 20 de Dezembro de 2022 – Dia da Solidariedade
O ano passado enquanto os jornais do mundo inteiro anunciavam que estava se aproximando a data mais comemorada pelo cristianismo, o natal – em que se comemora o nascimento de Jesus , o Teatro da Solidão Solidária fazia os seus preparativos para lançamento do seu novo projeto “Meu irmão voltou pra casa”.
O projeto consiste inicialmente no acolhimento de uma pessoa em situação de rua, refugiado, imigrante ou qualquer outra pessoa em estado de fragilidade independente do seu segmento social – seja acolhida para uma ceia de natal pelos diversos núcleos do TSS espalhado pelo mundo.
Para anunciar a realização da segunda edição do projeto o Portal Conexão Boas notícias convida o criador e diretor do Teatro da Solidão Solidária Ivan Antonio, para uma entrevista sobre esse projeto que acontecerá simultaneamente em vários países no dia 20 de dezembro deste ano.
Conexão Boas Notícias — O ano passado o projeto “Meu irmão voltou pra casa “ aconteceu
com muito sucesso aqui no Brasil e em vários países onde você passou ministrando oficinas e criando núcleos. Como é desenvolvido esse projeto e qual o seu impacto na vida das pessoas?
Ivan Antonio — O maior potencial do projeto está em acolher pessoas, a princípio todo mundo pensa que esse acolhimento se resume no ato em que as pessoas deduzem como solidário que é acolher uma pessoa aqui no Brasil em situação de rua e em outros países um imigrante ou refugiado para uma ceia de natal. Mas ao acolher uma pessoa independente do seu segmento social, porque o ano passado tivemos a experiência de acolher empresários, policiais, professores em estado de depressão para o projeto e o que é impressionante é que os relatos de quem participou dessa experiência acolhendo, também se sentiu acolhido. É uma troca extraordinária.
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Impressionante é que os relatos de quem participou dessa experiência acolhendo, também se sentiu acolhido. É uma troca extraordinária.
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Conexão Boas Notícias — Como se organiza os grupos de acolhimentos?
Ivan Antonio — Os grupos inicialmente são organizados através das oficinas e palestras do Teatro da Solidão Solidária que ministro juntamente com assistentes e professores do método aqui no Brasil, América Latina, Europa África e Estados Unidos. A partir desses grupos que são multiplicadores e que divulgam o projeto em suas cidades e países, outros artistas e grupos sociais que se sentem atraídos pela iniciativa passam a incorporar o projeto.
Conexão Boas Notícias — Qualquer pessoa pode participar do projeto?
Ivan Antonio — Sim, não apenas artistas. É um projeto artístico/social porque o acolhimento se faz não apenas com coisas materiais básicas que muitas dessas pessoas necessitam diante do seu estado de vulnerabilidade mas essa pessoa é acolhida com poesia, dança, música e outros segmentos artísticos. Cada grupo que formamos tem em média de dez a quinze pessoas que se
unem para se transformar num grupo de apoio para essa pessoa acolhida.
Conexão Boas Notícias — Então, o projeto não se resume nesta ceia que o grupo oferece nessa data específica em que acontece o evento?
Ivan Antonio — Não, a ceia de natal é apenas uma ação de Boas vindas as pessoas acolhidas porque sabemos que essas datas tem um impacto maior no estado de isolamento em que se encontram, mas a finalidade do projeto é a formação de um grupo em que essa pessoa possa contar a partir daquela data, um grupo em que essa pessoa possa chamar de um grupo de amigos. A solidão tem matado mais pessoas do que a violência em qualquer país em situação de guerra.
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A solidão tem matado mais pessoas do que a violência em qualquer país em situação de guerra.
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Conexão Boas Notícias — Como fazer para participar do projeto?
Ivan Antonio — Todas as pessoas da comunidade independentes dos seus segmentos sociais e crenças são bem vindas desde médicos, psicólogos, dentistas, advogados , professores, empresários, operários, policiais, líderes comunitários, funcionários públicos etc. – é um projeto de partilha em que cada um acolhe e é acolhido, ensina e aprende com o outro.
Conexão Boas Notícias — Ao se integrar ao projeto o que a pessoa acolhida pode esperar?
Ivan Antonio — Que vai ser respeitada e tratada com muito amor e o mais importante vai ter oportunidade de compreender o seu próprio potencial e que aquele grupo de amigos não será o responsável para a ressignificação da sua própria vida mas um ponto de apoio e mediação, o TSS instiga as pessoas a se olharem no espelho e perceberem o seu próprio potencial porque a partir desse olhar o projeto cumpre o seu maior papel, ser mediador daquele que se descobre autônomo.
Conexão Boas Notícias — Como acontece essa mediação que você menciona como importante para essa transformação – Porque a maioria das pessoas chegam no projeto sem ter onde morar, comida e numa situação de vulnerabilidade total?
Ivan Antonio — Na década de noventa conheci o sociólogo Herbet José de Sousa, o Betinho que foi o criador da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida. Na época nosso grupo estava em cartaz em São Paulo com o espetáculo “O sanatório para Freud “ e com esse espetáculo incorporamos a campanha do Betinho nos apresentando em algumas cidades em troca de alimentos para a campanha. Na época o Betinho estava sendo muito criticado porque alguns achavam que eram um projeto apenas assistencialista, os críticos mais ferozes diziam que se devia ensinar a pescar e não dar o peixe. Lembro-me dele dizendo que tinha levado um livro para uma pessoa em situação de rua aprender como pescar e depois de alguns dias ele voltou para saber o que o leitor tinha achado do livro e ele tinha morrido de fome. Aprendi com isso que algumas pessoas estão no seu limite de sofrimento enquanto nós “intelectuais” doamos livros.
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Aprendi com isso que algumas pessoas estão no seu limite de sofrimento enquanto nós “intelectuais” doamos livros.
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Conexão Boas Notícias — O que fazer para essa pessoa tão fragilizada aprender a pescar enquanto está com fome?
Ivan Antonio — O projeto é mais amplo do que as pessoas possam imaginar sem estarem imersos no projeto, o Teatro da Solidão Solidária trabalha em suas oficinas os mais diversos segmentos sociais, nas nossas aulas através de exercícios de corpo e voz ressignificamos o olhar de pessoas que excluem e que tem alicerce solidificados nos seus privilégios a se colocarem no lugar do outro e com isso iniciamos um trabalho de consciência de solidariedade humana, respeito e partilha. Cada um doa o que pode e é capaz. Por exemplo, se você é um dentista seja da iniciativa privada ou pública, algumas pessoas chegam no projeto com a alta estima em frangalhos, se negam a sorrir porque a sua boca falta dentes ou com vários dentes estragados, muitos dos nossos profissionais dentistas ou cuidam nos seus próprios consultórios ou os orientam como ter seus direitos a uma assistência gratuita na rede pública, muitos dessas pessoas tem muitas dificuldades, as vezes elas mesmas se negam a ir buscar ajuda com medo de sofrerem preconceitos. Algumas alunas que são médicas, enfermeiras tem contribuído muito nesse aspecto… Advogados que colaboram no auxílio para tirar segunda via de documentos e direitos básicos na esfera pública que muitos nem sabem que tem, professores que tiram uma hora do seu tempo pra dedicar ao ensino de pessoas que sequer sabem assinar o nome, alunos que leem livros para deficientes visuais.
Conexão Boas Notícias — Em tempo de Pós-pandemia e numa sociedade contemporânea que
a maioria das pessoas estão envolvidas nos seus próprios problemas, tem sido fácil atrair pessoas para esse projeto.
Ivan Antonio — Tenho um poema que diz:
Minha maior tristeza
É lutar por tantos
Com tão poucos…
Esse poema me acompanhou por muito tempo como uma sentença, hoje já incorporei essa poesia a minha vida com mais suavidade, já não são mais tão poucos que me acompanham, os tempos mudaram e a cada dia chega mais pessoas como verdadeiros anjos de luz para nos ajudar, o problema é que também com as crises mundiais e aqui no Brasil não é diferente cada dia mais pessoas estão a procura de si mesmo e do outro para se curar da solidão.
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Cada dia mais pessoas estão a procura de si mesmo e do outro para se curar da solidão.
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Conexão Boas Notícias — Quanto tempo cada voluntário deve dispor para participar do
projeto?
Ivan Antonio — O tempo que puder, as vezes uma ligação de cinco minutos você resolve um problema de uma pessoa que passou uma década sem conseguir resolver porque não tinha a orientação necessária, um abraço salva uma vida. Uma roda de conversa em que você participa e que a pessoa olha ao redor e sente que tem pessoas que se importam com ela. Uma indicação para um emprego, um lugar para tomar um banho e um sabonete as vezes um perfume que aquela pessoa nem mais se recorda do cheiro. Uma roupa, um sapato, tudo isso compartilhado com um olhar de amor faz a diferença. Saímos em grupos para ir ao teatro, ao cinema, uma festa de aniversário, um barzinho…Quando a gente integra uma pessoa fragilizada ao grupo e ela se sente parte do grupo muda tudo.
Conexão Boas Notícias — Quantas pessoas devem participar de cada grupo e como fazer para
participar?
Ivan Antonio — Temos grupo de dez, quinze pessoas e o objetivo é envolver o maior número de pessoas em cada grupo para que a tarefa de cada uma pessoa do grupo se torne mais leve e prazerosa, uma das coisas que trabalhamos no Teatro da Solidão Solidária é que o voluntário não
pode se transformar num escravo ou num refém do seu próprio trabalho voluntário. Cada grupo poderia acolher mais pessoas, mais não podemos, temos que reconhecer humildemente as nossas limitações e portanto cada grupo acolhe apenas uma pessoa. Existem algumas Ongs e instituições públicas e privadas que já são nossas parceiras e que já fazem um trabalho assistencial que colaboram muito com o projeto porque elas já acolhem pessoas e tem toda uma estrutura para esse acolhimento etc. – Nesse caso entramos com a parte do convívio em acolher a pessoa no nosso meio e partilhar com ela lugares, grupos e pessoas que no cotidiano essas pessoas não tem acesso, compartilhamos com elas bens materiais e imateriais que são negados quase sempre.
Conexão Boas Notícias — Quais os maiores desafios que o projeto encontra?
Ivan Antonio — Nos deparamos todos os dias com desafios inusitados. Com o advento da pandemia aconteceu uma coisa que não estávamos preparados, muitos dos nossos colaboradores inclusive empresários entraram em situação de muitas dificuldades em especial falência e com essa realidade a depressão veio junto. Perdas de pessoas queridas pela Covid-19, o próprio isolamento aliada a todas outras crises, violência, política etc… Perdemos muita gente pelo caminho. Perdi minha mãe, minha irmã e meu pai, muitas vezes tive vontade de desistir… Eles de onde estão não deixaram. Lembro-me de algumas vezes em que meus assistentes e coordenadores do projeto me ligavam pra falar das alegrias de ver aquela pessoa que foi acolhida vencendo suas batalhas e outras vezes que estavam se sentindo sós… Eu não tinha força pra dizer nada, pedia pra outro assistente entrar em contato e tal. As vezes eu tinha que está presente em alguns lugares que eu tinha que dizer coisas, palavras de esperança que eu mesmo precisava ouvir, então ao dizer e ver um sorriso da pessoa que ouvia eu me reenergizava e seguia em frente. Quando você contribui com a mudança do outro, você se cura. Estamos realizando agora a segunda edição e nosso sonho é que consigamos fazer com que as pessoas entendam que conseguiremos mudar o rumo das coisas se nos juntarmos, cada um de nós, os professores, os assistentes, todos nós temos plena consciência da luta de classes e com essa consciência buscamos o ponto de luz existente em cada um dos seres humanos independente de onde estejam e independente de quais sejam os seus segmentos… A luz! A luz! Existe em cada um! É preciso procura-la e com ela iluminar o mundo.
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A luz! Existe em cada um! É preciso procura-la e com ela iluminar o mundo.
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Conexão Boas Notícias — Por que o projeto chama-se “meu irmão voltou pra casa”?
Ivan Antonio — Acreditamos, que cada casa, cada família é um templo e quando me refiro a família me refiro a qualquer família em que o amor esteja presente. Muito dos nossos acolhidos foram abandonados ou abandonaram suas famílias. O Teatro da Solidária busca essa reaproximação trabalhando não apenas com o acolhido mais com a sua família.
Conexão Boas Notícias — Para terminar nossa conversa, qual a mensagem que você gostaria
de deixar para quem dedicou um pouco do seu tempo para ler sua entrevista?
Ivan Antonio — Uma mensagem de esperança e fé na humanidade. Acredito a cada dia piamente mais no amor do que nas armas e cada um de nós veio pra essa existência para percorrer vários caminhos mais dois são primordiais: Amar e perdoar. E por último dizer que a força desta ação, deste humilde projeto está no coletivo, não existem heróis, existem pessoas, grupos de pessoas que se propões a buscar alternativas para o mundo ter mais compaixão, ternura e solidariedade. Cada grupo que se forma é um pedaço do mundo que se transforma.
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Para participar do projeto cada pessoa pode incorporar um grupo já existente em sua cidade ou formar um novo grupo de solidariedade na sua empresa, escola, faculdade ou grupo artístico.
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E em nome do Teatro da Solidão Solidária, nossa eterna gratidão! A todos os alunos, professores, colaboradores e sobretudo aos coordenadores de cada cidade que com muita maestria, amor e coragem conduz o projeto “ Meu irmão voltou pra casa” e os núcleos do TSS pelo mundo. Meu/Nosso muito obrigado!
Para participar do projeto. Entre em contato:
e-mail: projetostss@gmail.com
whatsapp 71 99183 4059
you tube: Teatro da Solidão Solidária
Instagram: ivanantonioartista
Ivan Antonio
Dramaturgo, cineasta, poeta, cantor e compositor. Criador do Teatro da Solidão Solidária (TSS). Natural de Arcoverde (PE). Graduado em Cinema e Vídeo pela FTC (Faculdade de cinema e vídeo) Salvador – Bahia. Pós-graduado em Literatura Brasileira, com extensão em Literatura Universal, e em Neuropsicopedagogia, pela Faculdade Metropolitana de Ribeirão Preto – São Paulo. Mestrando em Negócios Internacionais pela Must University (Flórida – EUA).
Representou o Brasil no Estados Unidos no Brazil Week (Nova York – EUA). Igualmente foi o representante brasileiro em diversos outros eventos internacionais, como o Festival Mundial de cultura da paz (Lyon – França), Festival Aos olhos do mundo (Roma – Itália), Festival Internacional de arte e cultura (Guimarães – Portugal), Festival internacional de teatro – Fazer a festa (Porto – Portugal) e BrazilNoar (Nova arte brasileira, Barcelona – Espanha).
Livros publicados, todos, no gênero Poesia: “Eu, Sonhador”, “Flores em Pé de Guerra”, “O Último Barco do Cais”, “Balada para um Triste Amor”, “Bicho Solto”, “Mar Adentro” e “Amor Revolução Silenciosa”.
Como ator já encenou peças e filmes: “Um Sanatório para Freud”, “Mil Operários em Construção”, “A Caminho da Ternura” e “Carandiru”. Esteve no elenco de filme, como Carandiru, de Hector Babenco. Como ator, atuou em novelas brasileiras, como Sangue do meu sangue (SBT). Como diretor dirigiu grandes nomes do teatro, televisão e cinema brasileiro: Paulo Betti e Sérgio Mamberti (A caminho da ternura), Tadeu Di Pietro (Mil operários em construção), Luciana Paes (Um sanatório para Freud).
Ministrou palestras, oficinas, lançou livros e participou de shows em diversos países do mundo: Estados Unidos, França, Itália, Inglaterra, Alemanha e Portugal.
Foi Secretário de Cultura, Turismo e Relações Internacionais, do município de Camaçari, na Bahia.
E-mails:
Telefone: (71) 9183 4059 – Whatsapp
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Que maravilha de projeto é tão necessário!
Muito boa essa entrevista Ivan!
Fantástico!!!