Michelle Bolsonaro: primeira-dama quebra o protocolo e discursa em libras
Discreta, não gosta de dar entrevistas, mas já disse que quer se dedicar a projetos sociais. Michelle Bolsonaro, de 38 anos, mulher do novo presidente Jair Bolsonaro, em um gesto inédito na história das posses presidenciais recentes do país: discursou no parlatório do Palácio do Planalto antes do marido durante a cerimônia de posse presidencial, nesta terça-feira, 1º de janeiro de 2019.
Gratidão
A primeira-dama do Brasil se manifestou em libras – a língua de sinais para surdos -, público para qual ela faz trabalho voluntário, e agradeceu a todos que demonstraram apoio nos dias em que o marido ficou internado após o atentado a faca em Juiz de Fora, em setembro do ano passado.
Michelle fez um agradecimento especial ao filho do presidente Carlos Bolsonaro pela parceria durante o tempo em que que o capitão passou no hospital. A primeira-dama também se dirigiu à pessoas surdas e com deficiência e pronunciou o famoso slogan da campanha, “Brasil Acima de Tudo, Deus Acima de Todos”.
Emocionante, do princípio ao fim. Antes de terminar o discurso, que era traduzido por uma assessora, a primeira-dama agradeceu ao “amado esposo” e o beijou, incentivada pelo público. Arrancou aplausos efusivos. “Estamos todos de um lado só. Juntos alcançaremos um Brasil com educação e liberdade para todos”, concluiu Michelle Bolsonaro.
O discurso da primeira-dama disputou espaço com as manchetes esperadas sobre seu figurino: um vestido midi de decote ombro a ombro, acinturado e em um tom rosa claro, assinado pela estilista Marie Lafayette, que recebeu elogios nas redes sociais e de especialistas.
Michelle Bolsonaro não teme holofotes, sua desenvoltura, sorriso espontâneo e expressividade é uma espécie de trunfo narrativo para Bolsonaro. Nem mesmo a performance da primeira-dama se encerrou e seus apoiadores já afirmavam que a participação era uma “prova” de que Bolsonaro não é machista.
Primeira dama
A mais nova moradora do Palácio do Planalto deve seguir a tradição das primeiras-damas brasileiras e ter um cargo ligado à área social (com exceção de Marisa Letícia, que não quis esse papel). Michelle já havia manifestado, em entrevistas recentes, o desejo de desenvolver “todos os trabalhos possíveis” na área de ação social, embora ainda não tenha detalhado como deverá ser essa atuação.
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“Era algo que eu já fazia antes de me casar com o Jair. Eu tenho um chamado para ação social. É algo que Deus colocou na minha vida, no meu coração.”
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No discurso Michelle declarou ainda: “Agradeço a Deus essa grande oportunidade de poder ajudar as pessoas que mais precisam. Trabalho de ajuda ao próximo que sempre fez parte da minha vida e que a partir de agora, como primeira-dama, posso ampliar de maneira ainda mais significativa.
No fim de setembro, ela participou da formatura da Trupe Miolo Mole, um grupo que leva alegria a crianças internadas em hospitais. Em dezembro, ajudou a organizar uma festa de Natal para crianças pobres de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Sem alarde, Michelle Bolsonaro já está fazendo articulações em Brasília para botar em prática um projeto social para o governo do marido.
A primeira ação começou já na posse. A estilista Marie Lafayette criou os dois vestidos que a primeira-dama usou nesta terça-feira (1º). A inspiração veio de dois ícones da moda: Grace Kelly, princesa de Mônaco, e Jacqueline Kennedy, ex-primeira-dama dos Estados Unidos. Marie já tinha sido responsável pelo vestido do casamento de Michelle. Mas, para ganhar a preferência da primeira-dama nesse momento único, a estilista fez a proposta certeira.
“Eu falei pra ela, poxa eu tive uma ideia: ‘por que a gente não junta estes vestidos todos que você vai ter que usar?’ Porque existe um protocolo também de se vestir em eventos oficiais, e depois esses vestidos podem ser vendidos, leiloados. E aí ela vai escolher instituições que sejam do agrado dela, que enfim, toquem o coração dela para que ela faça essas doações”, conta a estilista.
Evangélica
Michelle realiza trabalhos voluntários na igreja, principalmente de educação à comunidade surda. É com esse público, aliás, que costuma ter maior proximidade nos cultos de domingo da Igreja Batista Atitude, no Recreio, na zona oeste do Rio de Janeiro, para onde vai duas vezes por semana, sempre acompanhada de seguranças.
A mulher do capitão da reserva, que atua como intérprete, aprendeu o alfabeto em libras com um tio surdo e, depois, seguiu estudando por conta própria pela internet. A linguagem que se tornou obrigatória nos principais discursos de Bolsonaro na campanha e até nos lives do Facebook entraria para a história das posses brasileiras.
“Tive essa aproximação de pessoas com deficiência, os surdos, eu tenho um tio surdo também, e tenho muito amor por essa comunidade. Quero fazer o melhor”, explicou Michelle.
A primeira-dama teve um papel importante na aproximação do marido. Bolsonaro é católico. Começou a levá-lo como acompanhante em alguns cultos que frequentava desde o início do relacionamento, há 11 anos. Ali, Bolsonaro encontrou espaço para ampliar a pauta conservadora que defende, como por exemplo sua posição contra o aborto e o casamento entre homossexuais.
Antes da Igreja Atitude, a primeira-dama frequentou por muitos anos a Assembleia de Deus Vitória em Cristo, também na Barra, que tem como pastor Silas Malafaia. Foi ele quem celebrou a união religiosa dela com Bolsonaro, em 2013.
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“Ela é uma menina que gosta de servir. Na minha igreja, pegava cesta básica, achava coisas para bazar. Mas não é boba: sabe se expressar e construir relacionamentos.” disse o pastor
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Ele acrescentou: “Ela não carrega maquiagem e não é sofisticada, mas nem precisa. Michele tem uma beleza natural”, completou o Pastor Silas Malafaia.
“Hoje, a Michelle ajuda nos trabalhos sociais com distribuição de alimentos, festas de final de ano para instituições carentes e também ajuda no Ministério de Surdos, que a gente chama de Incluir”, diz Josué Valandro Júnior, pastor da Igreja Batista Atitude.
Terceira esposa do presidente, a primeira-dama conheceu o marido em 2007 nos corredores da Câmara Federal, onde trabalhava como secretária parlamentar há três anos. Bolsonaro, que estava no quinto mandato parlamentar, a convidou para trabalhar no seu gabinete poucos meses depois. Michelle foi exonerada em 2008, quando o Supremo Tribunal Federal proibiu o nepotismo nos Três Poderes. “A demissão foi pra evitar uma acusação de nepotismo. Mesmo ela tendo o direito de permanecer porque já era empregada quando me casei com ela”, explicou Bolsonaro durante a convenção do PSL. Os dois se casaram no civil em 2007, mas a cerimônia religiosa aconteceu seis anos depois.
De origem humilde, Michelle nasceu em Ceilândia, perto de Brasília, e é filha de Maria das Graças Firmo Ferreira e do cearense Vicente de Paulo Reinaldo, motorista de ônibus, conhecido como “Paulo Negão”.
A jovem, que seria a primeira dama do Brasil, tinha muita energia e foi a luta. Trabalhou num supermercado, numa indústria de alimentos, aliás, este foi o primeiro emprego com carteira assinada.
A primeira dama tem fama de rígida na educação da primogênita, Letícia, de 16 anos, fruto de um relacionamento anterior, e Laura, de 8 anos, filha do presidente empossado, que tem outros quatro filhos de casamentos anteriores.
Os amigos mais próximos dizem que ela é uma mulher simples, doce, tímida, e ao mesmo tempo, uma mulher forte e decidida. Como mãe é linha dura e como esposa, também. Dentro de casa, ela dita as regras.
Avessa, até agora, aos holofotes, Michele acompanhou de longe a campanha do marido, aparecendo publicamente em eventos e atos de campanha somente na reta final da corrida presidencial. Após a vitória de Bolsonaro, no entanto, ela já havia começado uma fase de maior exposição.
Michelle já disse que concorda com 99% das ideias do marido, mas também que já discordou da forma como ele usou as palavras em certas ocasiões. Agora, que os bastidores da campanha ficaram para trás, ela avisa: não será uma primeira-dama decorativa, vai assumir o protagonismo no que é a sua grande paixão: a assistência social.
“Eu tenho muitos planos, muitos projetos e eu peço a Deus que venha nos abençoar, que possamos ter sabedoria e discernimento para conduzir tudo isso, eu sei que é difícil, não é fácil, pelo momento que o Brasil está passando, mas vamos pedir sabedoria e discernimento para a cada dia a gente saber lidar com o novo”, disse Michelle em outubro.
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“Gostaria de modo muito especial de dirigir-me à comunidade surda, às pessoas com deficiência e a todos aqueles que se sentem esquecidos: vocês serão valorizados e terão seus direitos respeitados. Tenho esse chamado no meu coração e desejo contribuir na promoção do ser humano.”
– Michelle Bolsonaro – discurso em Libras no parlatório do Palácio do Planalto (01/01/2019)
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Com informações: El país / Folha de São Paulo / G1