Pajé Mapulu Kamayurá recebeu Prêmio Direitos Humanos 2018

O Prêmio de Direitos Humanos de 2018, do Ministério dos Direitos Humanos (MDH), reconheceu a liderança da filha do pajé Tacumã Kamayurá, a cacica e também pajé Mapulu Kamayurá.

A líder feminina do Xingú é uma das organizadoras da Festa do Yamaricumã: celebração feita por mulheres indígenas na qual elas se transformam em guerreiras. “A festa de mulher que a gente fez mês passado tem minha neta [sic]. Estou passando para ela o meu conhecimento, para ela coordenar a mulherada lá. Para ela ser líder e cuidar mais do povo”, diz Mapulu sobre a neta de 13 anos que já se prepara para assumir a liderança Kamayurá.

Pajé Mapulu Kamayurá recebeu o Prêmio de Direitos Humanos 2018 (21/11) em reconhecimento pela liderança de Mapulu na articulação e empoderamento das mulheres indígenas do Alto Xingu. Ela foi indicada por Andrezza Colatto da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres,ligada ao Ministério dos Direitos Humanos (MDH).

Foto: Reprodução

O prêmio “vem para fortalecer as ações internas da comunidade e para divulgar esse trabalho importante para outros povos por meio do diálogo e do intercâmbio de saberes.  Dando visibilidade, conquistando espaço e respeito à causa indígena ao jeito tradicional de viver e se organizar”, declarou.

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A pajé Mapulu é uma líder feminina do Xingu muito respeitada. Conheci sua história e, pra mim, não haveria outra pessoa mais indicada para esta honraria. O trabalho dela espalha-se por todo o Xingu, ultrapassa as fronteiras de sua aldeia.”
– Andressa Colatto

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O presidente da Funai, Wallace Bastos, felicitou a pajé pela premiação e o reconhecimento em relação às ações de afirmação da cultura e empoderamento das mulheres xinguanas promovidas por ela. “Mapulu Kamayurá representa a força da mulher indígena brasileira que, mesmo diante de todos os obstáculos, luta pela afirmação da mulher nas comunidades onde criam seus filhos e filhas e nas quais exercem o papel de forte vínculo comunitário, político e cultural”, afirmou Bastos.

Intercâmbio de saberes 

Mapulu aprendeu muito do que sabe com seu pai, o cacique Tacumã Kamayurá, que morreu em 2014. Um de seus principais ensinamentos é a preservação da cultura e dos costumes de seu povo, seja na obtenção do alimento, a forma de cozinhar, de se relacionar, sua língua, seus rituais, entre outros. Com o passar dos anos, ela também aprendeu a importância do intercâmbio de saberes com outros povos que vivem no Alto Xingu, onde está sua aldeia. Nela vivem 600 pessoas. No Xingu, são mais de 7 mil indígenas.

Foto: Reprodução

Mapulu é guardiã da ancestralidade do povo Kamayurá e se tornou pajé. Cuida da saúde de seu povo e tem um trabalho dedicado às mulheres indígenas. O contato com os brancos e os agentes de saúde enviados pelos governos a fez compreender que não há sabedoria em refutar o conhecimento destes, mas, sim, em somar habilidades para salvar vidas e melhorar as condições de saúde dos indígenas.

Devido esse entendimento, ela e o cacique Kotok integram a Associação Indígena Hiulaya. Eles querem realizar, em dezembro, um encontro dos Pajemen (pajés, rezadores, raizeiros e parteiras) com agentes de saúde que atuam no Alto Xingu. Na ocasião pretendem explicar como é o trabalho dos pajés e porque é importante e também possível aprenderem a trabalhar juntos, com respeito. Juntos poderão identificar as doenças que devem ser tratadas pelos médicos e enfermeiros e as que devem ser tratadas por pajelança, ou, ainda, por todos, em harmonia. “É importante que todos compreendam quando um parto pode ser realizado pelas parteiras e quando é necessário um médico”, disse Mapulu.

Foto: Reprodução

Respeitando os ensinamentos de Tacumã pela preservação de seus costumes e das tradições da pajelança, Mapulu ressalta que o ideal é que o pajé possa atuar primeiro porque seu tratamento é um ritual espiritual de cura que pode envolver o raizeiro. “Eu faço cura de dor de cabeça, coluna, dores, aquele que usa drogas, eu curo. Já o raizeiro cura pneumonia, pressão alta, diabetes, câncer do útero. Eu já curei coisas muito graves”, conta. 

Caso o indígena não melhore, entra o conhecimento dos médicos. “Se não consigo, a enfermeira atende e encaminha para a cidade. Por isso, queremos fazer esse encontro”, salientou.

A intenção de Mapulu é fortalecer o papel social, político e cultural dos pajés. Para Mapulu, essa parceria é essencial para dar continuidade à saúde e ao equilíbrio das comunidades e dos povos do Xingu. 


Com informações: Ascom- Funai / Conexão Planeta / Mdh 

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