Paraibano Narcizo Neto: uma das mentes do maior acelerador de partículas do Brasil

O paraibano Narcizo Marques de Souza Neto, 40 anos, trabalha com experimentos de raio-x em condições extremas de pressão e temperatura. Ele é um dos principais pesquisadores do projeto Sirius.

Nasceu na cidade de Malta, na Paraíba, e estudou parte de sua vida em escolas públicas em Campina Grande (PB). Ele fez parte da primeira turma de física da Universidade Federal de Campina Grande. 

Narcizo Neto viajou de avião pela primeira vez no ano de 2001. Na época ele conheceu o CNPEM, e foi selecionado para um programa de bolsa de verão. 

Depois de conhecer Campinas (SP), ele fez mestrado e doutorado na Unicamp e pós-doutorado em Chicago, nos EUA, onde morou durante três anos. Lá, ele desenvolvia uma técnica para testar materiais sob alta pressão, quando recebeu uma proposta para trabalhar como pesquisador na fonte de luz síncrotron americana.

Imaginação fértil

Narcizo Neto, na sua infância, em Campina Grande-PB. Arquivo Pessoal | Reprodução

Narcizo Marques de Souza Neto. Filho de um caminhoneiro e uma dona de casa. Ele recorda que na infância tinha poucos brinquedos para se divertir em casa. Estudar nem sempre foi fácil. Neto estudou em escola pública.

“O mais importante era ter uma imaginação fértil”, recorda. “Eu inventava brinquedos. Usava pedaços de madeira para construir um carrinho, juntava um monte e imaginava que era um volante, uma marcha. Eu poderia ficar num canto brincando com pedras e madeiras e imaginar que era um brinquedo”, conta Neto.

Os pais de Narcizo Neto  passaram por muitas dificuldades para pagar as mensalidades de sua escola e as cartas de cobrança do colégio chegavam com frequência à sua casa. Mesmo quando chegou à universidade, não sonhava em trabalhar num laboratório tão importante.

Narcizo Neto (a direita). Ele fez parte da primeira turma de física da Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba. Foto: Arquivo Pessoal | Reprodução

“Meu sonho era ser professor na Universidade Federal de Campina Grande. Hoje, mesmo distante, eu consigo colaborar com o pessoal de lá. Neste ano, um mestre se formou com a minha orientação, por exemplo”, conta ele. 

A mãe de Narcizo Neto morreu, mas ele diz que seu pai está muito orgulhoso de sua profissão. “Com 82 anos, ele viajou pela primeira vez de avião para visitar o neto aqui (em Campinas). Tudo o que ele queria em relação à educação funcionou e deu frutos”, diz. 

O pesquisador ainda se orgulha ao falar que não se arrepende de ter voltado ao Brasil e que hoje seus amigos pesquisadores americanos tratam o Sirius como uma referência a ser estudada e alcançada.

O pesquisador recusou proposta para trabalhar no acelerador de partículas em Michigan para voltar ao Brasil. 

Sirius: decisivo na sua escolha

Narcizo Neto fazendo experimento em baixas temperaturas. Foto: Arquivo Pessoal | Reprodução

Mesmo com um salário maior nos EUA, ele preferiu voltar para o Brasil para colaborar na formação de cientistas do país e fugir do frio. A construção do Sirius também foi um fator decisivo na sua escolha, já que ele poderá fazer seus estudos no melhor aparelho do mundo, de acordo com o que dizem os cientistas.

Uma das possíveis aplicações das pesquisas de Neto no Sirius é no desenvolvimento de trens de alta velocidade. Outra possibilidade seria desenvolver baterias e dispositivos eletrônicos com baixíssimo consumo de energia. “Você pode pensar que, daqui 50 anos, por exemplo, você teria um celular cuja bateria carregada apenas uma vez durasse dez anos”, afirma.

Hoje, ele já faz seus estudos no UVX, mas diz que suas condições de trabalho vão melhorar significativamente quando o Sirius estiver pronto. A intensidade de luz que ele usa vai aumentar em mais de mil vezes e com um feixe de luz mil vezes menor, o que possibilita um sinal com baixíssimo ruído e um estudo mais preciso.

No novo acelerador de partículas, o pesquisador paraibano ainda poderá testar materiais sob uma pressão semelhante à encontrada no núcleo de Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar.

“O Sirius será o primeiro laboratório no mundo a atingir essas condições. Em alguns lugares do mundo, já é possível chegar à (pressão) do centro da Terra, mas a de Júpiter é pelo menos cinco vezes maior”, explica.

Premiado internacionalmente

Narcizo Neto recebendo prêmio Dale Sayers Award, na Alemanha. Foto: Arquivo Pessoal | Reprodução

Em 2015, Neto foi o primeiro pesquisador da América Latina a ganhar o Dale Sayers Award da Sociedade Internacional de Absorção de Raios X (IXAS, por sua sigla em inglês). Esse é considerado um dos mais importantes prêmios na área de espectroscopia por absorção de raios-x (XAS).

De acordo com a instituição, ele foi premiado devido a suas “contribuições para o desenvolvimento de XAS para estudos de matéria sob condições extremas”.

Sirius

Iniciado em 2012, o Sirius é o maior projeto da ciência brasileira, uma infraestrutura de pesquisa de última geração, estratégica para a investigação científica de ponta e para a busca de soluções para problemas globais em áreas como saúde, agricultura, energia e meio ambiente. Será um laboratório aberto, no qual as comunidades científica e industrial terão acesso às instalações de pesquisa.


Com informações: BBC News Brasil

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