Pensamento dança
Por Carlos Saldanha Mancur
Igor Fagundes reúne poesia e dança em livro onde o poema pensa as arte do corpo: “pensamento dança”
“Igor Fagundes é das maiores inteligências poéticas da literatura brasileira contemporânea. E sublinho tanto o substantivo quanto o adjetivo. Sua capacidade de produção é extraordinária. Poucos conseguem conciliar qualidade e extensão como faz. E, quando digo ‘poucos’, ainda estou exagerando.” (Antonio Carlos Secchin, poeta, ensaísta, professor emérito da UFRJ, membro da Academia Brasileira de Letras)
Quem diria que a poesia, depois de seu histórico afastamento da filosofia e da ciência, suscitaria uma discussão teórica em torno da dança? Conjugando pensamento e corpo, Igor Fagundes – que é poeta, ensaísta e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde coordena o curso de Teoria da Dança – reflete sobre as possibilidades de crítica e tradução do dançar em literatura e vice-versa, fugindo de paradigmas que contrapõem ciência e arte no ocidente.
Diz o autor: “No grego, a palavra ‘teoria’ compreendia originalmente a ‘prática’ dos poetas, dos dançarinos. Assim, não é só a dança que requer uma escrita capaz de pensá-la resguardando o movimento na experiência literária. Não é só o escrever que precisa dançar, para que pense e flexibilize a rigidez conceitual por meio de ritmos, imagens, metáforas. É a dança mesma que precisamos reconhecer como pensamento; uma escrita diversa, na qual o corpo é palavra”.
Esses são um dos muitos assuntos de pensamento dança, nono livro do autor. A obra vem a público depois do premiado Poética na incorporação – Maria Bethânia, José Inácio Vieira de Melo e o Ocidente na encruzilhada de Exu, de 2016, no qual o discurso teórico e ensaístico vinha, em caminho inverso, contaminado pela poesia. Apresentada, de início, como tese de doutorado não convencional a respeito do sagrado, a obra desconstruía o científico e o religioso na linguagem poética. Mas, de acordo com Fagundes, pensamento dança dialoga também com seu último livro de poemas, zero ponto zero, de 2010. Neste, o campo da matemática se afirmava e ao mesmo tempo se negava no pensar poético: “Enquanto em zero ponto zero havia uma irônica numerofilia, que denunciava certa numeropatia de nossas existências, existe em pensamento dança uma acidental numerologia: são 72 poemas inéditos e 27 já publicados, mas modificados pelo tema da dança. Em 72 e 27, temos: 7+2=9; 2+7=9, do mesmo modo que o número total de poemas do livro (99) culmina em 9 (9+9 = 18; 1+8=9). Trata-se de algarismo dominante no meu mapa numerológico”, conta o autor, sinalizando que “nove” é o número de sua data de nascimento, do nome literário Igor Fagundes e do nome completo Igor Teixeira Silva Fagundes. É um algarismo da maturidade, que demarca o encerrar de um ciclo e início de outro, assim como 99 poemas anunciam o término da casa das dezenas e prenunciam a das centenas, erguendo uma parede bem-acabada diante do número 100”, diz, referindo-se a seu livro Sete mil tijolos e uma parede inacabada, de 2004.
Em edição de luxo e capa dura da Penalux, a obra pensamento dança foi lançada recentemente (31/10), no Centro de Artes Nós da Dança, em Copacabana, Rio de Janeiro (RJ). Na ocasião, alunos de Dança da UFRJ apresentaram uma performance com Fagundes, dançando poemas do livro.
Dividido em três seções, “Ensaio”, “Estreia” e “Reestreia”, a obra traz na fortuna crítica depoimentos de escritores consagrados, como Antonio Carlos Secchin e Astrid Cabral. O livro trava ainda um diálogo com poetas da literatura em língua portuguesa transportados para o universo da dança, do mesmo modo como ícones da história da dança são transportados para o universo da literatura, misturando-se a personagens e práticas corporais não eurocêntricas.
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“Porque a dança não é só o texto; muitas vezes é o contexto ou o pretexto para discutir relações étnico-raciais, de gênero e outras questões de ordem política, cultural e existencial”, finaliza o autor
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Igor Fagundes
Poeta, ensaísta e crítico literário com mais de 60 prêmios em concursos e festivais literários no país. É doutor em Poética e professor da UFRJ, onde coordena atualmente o Bacharelado em Teoria da Dança.
Como poeta, publicou Tranversais (2000), Sete mil tijolos e uma parede inacabada (2004), Por uma gênese do horizonte (2006/ Prêmio Literário Livraria Asabeça), zero ponto zero (2010).
Como ensaísta, assinou Os poetas estão vivos – pensamento poético e poesia brasileira no século XXI (2008/Prêmio Literário Cidade de Manaus: Melhor Ensaio de Literatura), Permanecer silêncio (2011), 33 motivos para um crítico amar a poesia hoje (2011) e Poética na incorporação (2016/Prêmio Afrânio Coutinho de Ensaio da UBE-RJ).
Ajudou a editar e colaborou com mais de 30 estudos sobre variados temas e autores, abrangendo nomes da literatura, da música (Chico Buarque e Maria Bethânia) e da dança (como Pina Bausch).
Serviço:
Título: pensamento dança
Autor: Igor Fagundes
Editora: Penalux
Páginas: 194 (Capa dura, miolo em pólen)
Disponível: www.editorapenalux.com.br/loja
Mais informações:
Igor Fagundes (igortsfagundes@gmail.com)
(21) 99621-1075
* Carlos Saldanha Mancur – Redator e Jornalista, Portal Divulgação Cultural