Pesquisadores confirmam e catalogam eficácia de plantas medicinais da Caatinga
Uma viagem por cerca de 30 mil quilômetros em busca da sabedoria popular e das forças da natureza. Um grupo de 30 pesquisadores do Instituto Nacional do Semiárido e de diferentes universidades do Brasil começaram a desenvolver um catálogo com aproximadamente 100 plantas da Caatinga usadas pelas comunidades do sertão de Pernambuco no combate a doenças.
O catálogo em construção irá reunir plantas utilizadas como anti-inflamatórios, cicatrizantes e antibióticos por essas populações e será transformado em e-book. Os pesquisadores aplicaram questionários em 50 comunidades tradicionais e quilombolas, localizadas nos municípios de Lagoa Grande, Santa Maria da Boa Vista, Petrolina, Buíque, Tupanatinga e Ibimirim.
As mulheres, idosas e analfabetas são as guardiãs dos segredos das plantas. Senhoras de 80, 90 e 102 anos responderam aos questionários. O objetivo dos pesquisadores é também aproximar os jovens desse saber para que o conhecimento não se perca nas próximas gerações.
Mesmo com os estudos concluídos, os pesquisadores retornam as localidades para realizar oficinas e apresentar o resultado do trabalho. “Isso é muito importante para trazer para população essa educação pela conservação, para que eles não destruam essas plantas. O alvo principal é a educação dos mais jovens, para que a criação de empregos seja gerada com o conhecimento deles mesmos”, afirmou a pesquisadora Márcia Vanusa da Silva, coordenadora do Núcleo de Bioprospecção e Conservação da Caatinga e professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Catalogação do saber tradicional
Em campo, no questionário são apresentados o nome da planta nativa, os benefícios e o uso dela pela comunidade. Recolhida pelos estudiosos e levada para análise em laboratório, a planta passa por identificação botânica e é catalogada com o nome científico.
“Depois que a planta é identificada, a gente tem um ‘know-how’ de pesquisadores e, dependendo do uso da comunidade, é escolhido o especialista. Ele comprova se existe a atividade biológica e em que dosagem, se há toxicidade ou se o uso é seguro”, explicou Márcia.
Plantas curadoras
O catálogo em construção já demonstrou a eficácia de muitas plantas. A ameixa do Brasil (Ximenia americana), usada na tradição popular em processos inflamatórios, pós-partos e banhos de assento é uma delas. Para testá-la os pesquisadores usaram um anti-inflamatório comercial e o extrato da planta para depois medir a atuação dos dois produtos na inflamação.
O jatobá e o angico do caroço, tidos como expectorantes, também tiveram suas ações comprovadas. O primeiro teve seu potencial antimicrobiano testado e o segundo foi usado como antibiótico em bactérias do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Nas análises em laboratório, o vicky (Polygala decumbes), a massaranduba (Manilkara rufula), a braúna (Schinopsis brasiliensis) e o cedro (Cedrela odorata) conseguiram matar os parasitas Trichomonas vaginalis, responsáveis pelo desenvolvimento de doenças sexualmente transmissíveis.
Os cientistas ainda estudam o óleo da umburana de cambão (Commiphora leptophloeos), cutia (Eugenia brejoensis) e jatobá (Hymenaea courbaril) para atuar com efeito larvicida, repelente e ovicida contra vetores como o Aedes aegypti, transmissor do vírus zika, chikungunya e dengue. No caso da umburana de cambão, a planta também pode ser usada no combate a bactéria causadora da tuberculose.
Na área cosmética, o alto poder antioxidante do umbu (Spondias tuberosa) pode ser utilizado em cremes antissinais e antienvelhecimento, assim como para controle de diabetes.
Segundo a pesquisadora Márcia Vanusa, 60% do mercado farmacêutico mundial produz medicamentos de base biológica. A comprovação do uso terapêutico eficaz dessas plantas pode impulsionar uma cadeia de produção no semiárido brasileiro, cuja biodiversidade é pouco estudada e desprotegida. “O que a gente quer mostrar é que existe uma riqueza de compostos bioativos ainda não explorada”, ressaltou.
O Instituto Nacional do Semiárido (Insa) é uma entidade vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). O estudo, no valor de R$ 750 mil, foi financiado pela Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).
Com informações: Assessoria MCTIC
Seus artigos são bem informativos, vendo que muitas pessoas buscam informações relevantes, muito bom quando encontramos conteúdo de qualidade como esse, parabéns