Tarsila do Amaral: EUA inaugura primeira grande exposição com obras da artista no país
Após quase um século de atraso, os Estados Unidos inauguram a primeira exposição individual da pintora brasileira Tarsila do Amaral, no Museum of Modern Art (MoMA), importante instituição cultural daquele país, localizado em Nova York. Serão exibidas peças produzidas pela artista plástica durante os anos de 1920.
A exposição intitulada Tarsila do Amaral: Inventing Modern Art in Brazil será aberta no próximo domingo (11). Cerca de 130 obras compõem a mostra que passeia da infância no interior de São Paulo, os seus estudos de arte em Paris até o regresso ao Brasil. Entre as peças estão pinturas, desenhos, cadernos, fotografias e documentos. A Negra (1923), Abaporu (1928) e Antropofagia (1929), três das principais obras da pintora paulista também estão incluídas.
A data de estreia é significativa. Em um 11 de fevereiro de 1922, o Teatro Municipal de São Paulo foi palco da abertura da Semana de Arte Moderna, movimento integrado pela paulista Tarsila do Amaral. Naquela época a artista estava na Europa e não participou do evento, mas a obra da brasileira é sinônimo de arte nacional independente e modernista, características desse marco do século XX.
“A figura de Tarsila é inextricavelmente ligada ao projeto moderno brasileiro”, diz o historiador Luis Pérez-Oramas, um dos curadores da exposição no MoMA em parceria com Stephanie D’Alessandro. Para a ex-curadora de Arte Moderna Internacional do Art Institute of Chicago, sem os desenhos e pinturas da artista brasileira, “o movimento cultural mais importante na história moderna brasileira teria tido um efeito muito diferente na produção artística nacional depois de 1920”, disse.
Tarsila do Amaral nasceu em uma família paulista rica, em 1 de setembro de 1886. Estudou na França e conviveu com intelectuais europeus como Matisse, Picasso, Georges Braque, Robert Delaunay e André Derain. Da experiência do estrangeiro e da descoberta das singularidades do seu próprio país, a pintora criou obras únicas.
“Ela faz uma síntese dessas duas coisas, nacional e internacional. A Tarsila foi formalmente muito engajada com o que de mais interessante se fazia naquela época e trabalhava com temas brasileiros”, afirma o professor Tadeu Chiarelli, diretor do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP).
Com Abaporu, pintado em 1928, a obra de Tarsila do Amaral inspirou o Manifesto Antropofágico, escrito pelo poeta Oswald de Andrade, segundo marido da artista. A tela é símbolo do movimento que buscava digerir a arte europeia para criar uma arte brasileira, única e própria. O trabalho completa 90 anos em 2018.
“Sinto-me cada vez mais brasileira. Quero ser a pintora da minha terra. Quero, na arte, ser a caipirinha de São Bernardo, brincando com suas bonecas de mato, como no último quadro que estou pintando”, declarou certa vez a artista que morreu em 17 de janeiro de 1973. Tarsila do Amaral: Inventing Modern Art in Brazil fica em exposição no MoMA até 3 de junho.
Essa é a terceira grande exposição dedicada a um artista brasileiro em Nova York em menos de um ano, após a de Lygia Pape no Met Breuer e a de Hélio Oiticica no Whitney Museum of American Art.
Com informações: O Estado de São Paulo / AFP / Sesc São Paulo