TCC escrito à mão: mulher de 87 anos se forma em Jundiaí

Nunca é tarde para aprender. Os cabelos brancos, os seus 87 anos, em nada dificultaram a filha de imigrantes italianos, Luísa Valencic Ficara, de realizar seu sonho e concluir a faculdade de nutrição.

Sua entrada na sala de aula, pela primeira vez, chamou a atenção, e ela logo pôde ver as expressões de surpresa nas faces de colegas e mestras.

“Eu me matriculei quando o curso já tinha começado. Quando cheguei na sala a turma ficou meio espantada. Eles devem ter pensado: ‘O que essa velha quer?’. Com o passar do tempo fui vencendo a vergonha, fiz amizade com os professores, mas o 1º ano foi o mais difícil.”

A surpresa maior foi quando ela, após ter completado seus 87 anos, recebeu o tão sonhado diploma.

Na colação de grau, os estudantes de nutrição do Centro Universitário Padre Anchieta, em Jundiaí (SP), ficaram encantados com a presença de uma senhorinha de sorriso tímido, e os cabelos bem branquinhos.

Devagar se vai ao longe

Sem pressa e andando devagar no palco para pegar o diploma, Luísa Valencic Ficara, de 87 anos, foi aplaudida de pé pelo público que acompanhava a cerimônia. 

“Fui contente por terminar a minha tarefa. Achei que fosse ficar nervosa quando fosse receber o diploma, mas na hora estava bem calma”, diz a vovô sorridente.

Ela já passou dos 80 anos

Dona Luísa, como é conhecida, nasceu na Itália e veio para a América do Sul no período da Segunda Guerra Mundial. Morou em três países sul-americanos até se mudar para Jundiaí, no interior de São Paulo, onde vive há 40 anos.

A irmã e o marido já haviam falecido e ela tinha todos os motivos para, segundo a própria, “ficar em casa dormindo”, Porém, acabou por decidir sair para ocupar sua cabeça.

“Não adianta ficar em casa que começam as dores. Dores crônicas, dores de saudade. Ter a casa vazia traz tudo isso.”

Nunca desistiu

Dona Luísa resolveu travar uma batalha contra ela mesma: se formou em nutrição na faculdade de Jundiaí.

Para chegar aonde chegou, superou muitas dificuldades. A caminhada foi cheia de impedimentos, mas ela nunca desistiu. Dona Luísa recorda que teve que refazer algumas disciplinas, o que acabou estendendo o período do seu curso para seis longos anos. Além disso, por conta de sua dificuldade com o mundo dos computadores, seu TCC foi totalmente escrito à mão.

TCC escrito à mão

Nas aulas, ela impressionava a todos com a sua dedicação. E o que mais a evidenciou foi seu esforço em escrever o TCC inteiro à mão.

O Trabalho de conclusão de Curso de Dona Luísa foi sobre a cana-de-açúcar no Brasil.

Ela conta: “O que me maltratou um pouco foi que eu não sabia nada de computação”.

Mas Dona Luísa fez questão de dizer que contou com a ajuda dos funcionários da faculdade que digitaram todo o trabalho para ser apresentado à banca.

A orientadora do projeto, Valéria Campos afirma: “A experiência de orientá-la demonstrou que para educar é preciso aprender. Cada nova situação é um novo aprendizado e quem mais saiu ganhando, na minha percepção, é o educador que se abre para entender seu educando”.

Enfim, conseguiu vencer todas as etapas. E todos aqueles que presenciaram a senhora de cabelos grisalhos ficaram emocionados, ao ver ela levantando seu “canudo”. Palmas e mais palmas.

Foi lindo!

Na cerimônia não havia nenhum parente da idosa, que mora sozinha, mas isso não atrapalhou a sua alegria. “Ganhei muitos abraços do mestre de cerimônia e da turma toda. Foi lindo”, diz.

Rachel Ciaramella da Silva acompanhava a colação de grau de uma prima quando se surpreendeu ao ver todos de pé para aplaudir Dona Luísa. “Foi muito emocionante. Quando ela entrou, todo mundo ficou de pé e eu fiquei sem entender muita coisa, mas assim que a vi já que toda aquela homenagem era um presente para o esforço dela. Imagine, 87 anos e se formar na faculdade. Tem que comemorar”, comentou a dona de casa.

Pós-graduação

Dona Luísa, com seu diploma em mãos, diz que não tem planos de parar de estudar. Ela também escreve poemas e frequenta aulas de alemão, inglês e francês e já pensa em ingressar na pós-graduação.

“Eu sei que vai chegar a hora de parar, mas enquanto isso eu vou em frente. Muita gente com a minha idade passa a maior parte do tempo dormindo”, conclui.

Dona Luísa Valencic Ficara, aos 87 anos é um exemplo de perseverança.

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Com informações: Inspirador News / Razões para Acreditar / G1