Upcycling: a customização na nova era
Cada vez mais popular na moda, a técnica “Upcycling”. Para quem se envolve com moda sustentável, a arte da customização, é algo tão comum.
Upcycling nada mais é uma forma de customizar roupas, mas que leva em consideração muito mais do que apenas transformar uma camiseta velha ou um jeans que está parado no armário há algum tempo.
Gaby Loayza, do Up Coletivo de Upcycling, de São Paulo, explica que “Upcycling traz um novo conceito e propósito para materiais que seriam descartados, agregando valor com criatividade. Não tem a ver com reciclagem de materiais, pois a reciclagem muitas vezes envolve conversão de materiais em produtos de menor qualidade. No upcycling é dado mais valor aos produtos em desuso com o intuito da continuidade do ciclo de vida do produto”.
Apesar de se popularizar agora, o termo não é novo: upcyling é uma palavra muito utilizada no livro Cradle to Cradle, lançado em 2002 e escrito por Michael Braungar e William McDonough. A obra explora, justamente, a relação da humanidade com o lixo que produz e o papel das indústrias nesse cenário.
O upcycle não serve apenas para produtores independentes, grandes marcas como a Comme des Garçon e até Stella McCartney já se utilizaram da técnica em suas coleções.
Assim como o veganismo, o upcycle traz uma série de questionamentos que fazem as pessoas pensarem sobre o seu entorno e os impactos das suas ações nos arredores.
“Acreditamos que não se trata mais de uma tendência na moda sustentável por conta do impacto social, ambiental e econômico – na verdade, essas questões não são suficientes para que se tome uma atitude em relação à mudanças. O upcycling traz consigo uma série de questionamentos que geram uma onda de aumento de consciência individual”, explica Gaby.
Segundo ela, que faz parte de um coletivo que engloba artistas visuais, estilistas e o brechó Acervo de Coisinhas para customização e venda de peças totalmente inovadoras, a necessidade de repensar a nossa relação com o mundo é urgente.
“Essa nova consciência pode ter início com simples questionamentos como: ‘Quem faz esse produto?’, ‘Como é a cadeia produtiva desse produto?’. Esses primeiros questionamentos exigem necessidade de maior transparência no fornecimento de um produto além de uma relação mais estreita com seu fornecedor. E após o usufruto do produto vem uma segunda etapa de questionamento que é: ‘O que podemos fazer para aumentar o ciclo de vida de uma peça?’, é nesta premissa que o trabalho do upcycling está estabelecido”, diz.
O resultado disso é uma forma diferente, também, de se relacionar com as próprias roupas. Afinal, uma jaqueta deixa de ser apenas uma jaqueta para demonstrar uma nova forma de pensar, que combina elementos artísticos e de costura para criar uma peça totalmente nova, agregando valor àquela roupa, que antes era esquecida: “Dessa forma, se tem valor criativo agregado, o ciclo de vida de uma roupa pode dobrar ou triplicar”.
Praticar em casa
A ideia da prática tem muito a ver com o do it youself, ou seja, colocar a mão na massa e usar os elementos que você tem disponível dentro de casa para gerar algo novo, útil, e com outro valor.
Gaby explica que não é preciso ser designer ou costureiro para começar a customizar as suas próprias roupas: “Qualquer pessoa que tenha parado pra questionar seu consumo de roupas e que tenha peças em desuso consegue ter ideias do que fazer com a peça. Basta ela ter tempo e criatividade para pensar na transformação ou acessar tutoriais no YouTube. Caso você não goste de costurar ou de botar a mão na massa, você pode somente criar a ideia e manda para um profissional finalizar a peça”, aconselha ela.
O melhor de tudo é que, além de ter uma roupa nova no armário, você também gera uma outra visão sobre o mundo e a sua própria função. “Garantimos que esse processo criativo gera um efeito de alegria e senso de utilidade pela criação. Nunca podemos nos esquecer da nossa importância em cada contexto, somos observados o tempo todo, somos produtores de conteúdo e a nossa vestimenta expressa muito o que pensamos e o que estamos sentindo”, finaliza a profissional.
Com informações: Marie Claire / Estilistas Brasileiros