Wilson Figueiredo: delicadeza da arte em ferro e arame

A beira-mar, após a labuta, o pescador reencontra o seu bem. No meio da praça, uma muriçoca gigante demarca o território da folia. Sobre a tela o homem sertanejo repousa. Metal, ferro, arame. A arte de objetos frios de Wilson Figueiredo é o que há de mais sensível na paisagem construída no concreto das cidades.

Obra “O Bem do Mar”, em frente ao Centro Turístico Tambaú, em João Pessoa. Foto: Wilson Figueiredo/Reprodução

Entrada de edifícios, locais públicos, pontos turísticos, praças e giradouros recebem as obras do artista plástico paraibano. “A minha sensação maior ao ver uma obra minha ser reverenciada pelo público e perceber, às vezes até com certa timidez, que ali está uma prova de que na minha passagem nessa vida fui merecedor de um ato Divino ao permitir o registro do meu presente e futuro entre a humanidade”, comentou Wilson.

Foto: Arquivo Pessoal

Nascido na cidade de Patos, Wilson Figueiredo vive em João Pessoa desde 1973. Trabalhou por mais de 20 anos como desenhista técnico e em 1998 ingressou no curso de pintura no Centro de Artes Visuais. Momentos de descobertas de uma de suas marcas como artista.

O olhar mais distante enxerga sobre a tela alaranjada um desenho. Ao aproximar-se, o traço ganha vida em três dimensões. “A técnica mista ‘arame sobre acrílica em Eucatex’ surgiu pela necessidade de trabalhar com algo diferenciado. Fiz estudos e experimentos com o arame dando formas aos desenhos figurativos. Por casualidade ao aproximar da parede vi que com a luz acontecia uma sombra. Daí a ideia de afastar o desenho do suporte e que com o auxílio da luz eu acabava de obter uma leitura tridimensional”, explicou.

Entre telas e esculturas, a temática da cultura nordestina e a fantasia são um recorte de suas obras. Mais que caricaturas ou reprodução, as peças carregam identidade própria. “Acredito na originalidade, na marcante essencialidade dos temas desenvolvidos pelo artista. Quando isso acontece, é comum se ouvir que tal artista não precisa nem assinar a sua obra, tornando-o conhecido pela sua técnica e sua vertente criativa”, avaliou Wilson Figueiredo.

Obra intitulada “Homem Repousando”. Foto: Wilson Figueiredo/Reprodução

De chapas de ferro e parafuso, ‘Acauhan’ não voa, mas mantêm-se imponente ao homenagear Ariano Suassuna. Assim como o pássaro, as asas do cavalo do ‘Cavaleiro Alado’ não batem. Com estes materiais pesados, Wilson Figueiredo faz arte.

“A delicadeza precede a execução no momento da criação da obra, da escultura. Esta é concebida sob a espiritualidade, romantismo e um determinado conceito técnico. Sentir, sobretudo, a certeza que está sendo feito algo de nobreza daquilo que vai surgir”, diz Wilson. Para ele, o material quando usado passa a ser apenas uma adequação na composição do todo.

Escultura “Acauhan”, na frente do Centro Cultural Ariano Suassuna. Foto: Wilson Figueiredo/Reprodução

Em 2015, Wilson Figueiredo tornou-se um Imortal. Na França, recebeu o título de Chevalier Académicien da Mondial Art Academia, na qual ocupa a cadeira 333. “Com o direito de ser chamado de Mestre”, comentou. A associação francesa é conhecida por realizar uma seleção dos artistas mais talentosos do mundo.

Nas mãos do artista, sucata toma a forma de figuras inusitadas com elementos futuristas. Tudo começou como uma brincadeira. O paraibano admite a influência de filmes de ficção científica e games nessas obras. “Não pretendo fazer realismo ou mesmo hiper-realismo, mas deixar que o espectador faça a sua própria leitura ou até mesmo viajar através da sua imaginação”.

O artista ao lado do “Anjo Cibernético” e “Thesaurus”. Foto: Lind Photo

“Deus permite, o homem sonha, a arte nasce”. O artista busca nas palavras do poeta Fernando Pessoa traduzir a criação. “Nesse momento, humildemente procuro tornar real o que flui da minha imaginação, registrando através do desenho esse instante de maior grandeza o reflexo de luz criativa”.

É a partir do imaginar que Wilson Figueiredo transforma estudantes, curiosos e qualquer pessoa que visita seu atelier no bairro José Américo ou nos eventos que participa, em artistas. “Todo aquele que diante de uma Obra de Arte se mantém com respeito ou até mesmo se propondo a ouvir o seu criador, quando for possível, isso também é ser artista”, sentenciou o paraibano que já integrou diversas exposições coletivas e individuais.

O artista apresenta miniaturas de suas obras em evento. Foto: Lindinaldo Lima

O nordeste, o humano, a natureza transformada em arte através da matéria que se deixa dobrar pela imaginação e habilidade de Wilson Figueiredo. “O maior reconhecimento para um artista plástico, acredito, é perceber que a sua Arte numa concepção espiritual e técnica foi capaz de causar emoção para aquele que a contemplou”, afirmou o paraibano.

Espaço da arte

A residência/ateliê de Wilson Figueiredo recebe visita de estudantes, clientes, além de ser um ponto de encontro de artistas e suas obras.

Área interna da residência/ateliê. Foto: Wilson Figueiredo/Reprodução
Área externa da residência/ateliê. Foto: Wilson Figueiredo/Reprodução

Algumas obras do artista

Escultura “Cavaleiro Alado”, no girador próximo a Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Foto: Wilson Figueiredo/Reprodução 
Tela “Cordel, Mistério e Paixão”, em homenagem aos 90 anos do Romance Pavão Misterioso. Foto: Wilson Figueiredo/Reprodução
Escultura “Inexplicável Imaginário” com ferro reutilizado. Foto: Wilson Figueiredo/Reprodução
Escultura “Recreação” em um colégio de João Pessoa. Foto: Wilson Figueiredo/Reprodução


Por Marcella Machado, da redação do Conexão Boas Notícias

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